domingo, 29 de novembro de 2009

Comer um bang

"Bang" é o novo "bregueti". Ou "breguets". Não sei como se escreve, essa palavra não consta em nossos dicionários, mas certamente consta na memória de muita gente da minha idade que mora ou morou em São Paulo. "Bregueti" é o mesmo que "coisa" e, atualmente, se você é xóvem, além de falar "véi", "brisa", "fiquei brisando" e "suave", você também fala "bang". Fiquei sabendo disso através de meu irmão, um xóvem de 19 anos que, de cada 10 palavras, 4 são "bang", 2 são "véi" e as outras 4 são interjeições e, vez ou outra, algum verbo que faça sentido. Para entender o que meu irmão fala, é essencial saber o que é "bang".

Outro dia ele estava assistindo um video ao vivo de uma menina que falava sem parar, e ele rindo. Perguntei: quem é essa aí?

- Essa é mina do rolê. O bang com ela é nervoso.

Lógico que não entendi.

Eu: - Fale a minha língua, por favor.
Ele: - Ué, ela é a mina que pega os caras foda dos rolês.
Eu: - Ela é popular? É biscate? Que rolês?
Ele: - Mais ou menos. Ela é linda, então o bang é nervoso. E ela pega os caras de banda. Aquelas bandas que você odeia e eu gosto. E os rolês são as festas, as saídas, rolê. Entendeu?

Entendi. Entendi que estou ficando velha. Porque quando você, que já usou algumas gírias "de rua", começa a implicar com as gírias dos xóvens, é porque, definitivamente, a idade bate à sua porta.

E, claro, eu entendi que meu irmão é foda que pega a mina do rolê porque o bang dele é nervoso.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Sábado e domingo no Rio, mais precisamente em Niterói. Nem o inferno estava tão quente. O destino certo: praia, claro. Eu sou apaixonada por Itacoatiara, uma das praias oceânicas de Niterói. Essa praia é pequena, linda, limpa, tem uma pedra enorme onde você pode subir, caminhar e apreciar o mar. É algo que eu amo fazer, e ali a vista é linda. Tudo seria lindo, não fosse a volta dessa praia para a casa de meu digníssimo namorado. Vamos de ônibus e eles estão sempre cheios. Sábado decidimos pegar o ônibus e ir até o ponto final, na praia de Itaipu, para fugirmos da muvuca da volta da praia às 6 da tarde.

Itacoatiara e Itaipu são próximas, mas o público de ambas são completamente distintos. A primeira é tranquila, não há alto-falantes nem quiosques, é algo mais, er... de raiz. Ainda que a chamem de "praia dos playboys", é o tipo de praia que eu gosto. Pela tranquilidade. Itaipu tem a orla bem maior, acesso mais fácil e é ponto final de algumas linhas de ônibus. Ou seja, é bem popular. BEM popular. Incrivelmente popular. Daquele popular em que o funk está nos alto-falantes, as meninas usam "pílsim" de pingente pendurados nas barriguinhas um tanto quanto proeminentes e as pessoas, no geral, são "loud". LOUD. MUITO LOUD. Eu tenho muita aflição de quem fala gritando, ainda mais dentro do ônibus, que é um ambiente fechado e pequeno. É um tal de "JÉFISSO VEM PRA FRENTE" ou "LUZILENE SENTA AQUI", sendo que Jefferson e Luzilene estão ali, pertinho.

Sábado a experiência que tive voltando de Itacoatiara e passando por Itaipu foi daquelas realmente marcantes. Primeiro que a entrada de Itaipu é um descampado enorme, cheio de ônibus e filas. Filas intermináveis de pessoas pra embarcarem. Nós estávamos já dentro do ônibus, então permanecemos sentados. Quando as primeiras pessoas entraram, correram pros assentos reservados aos idosos e deficientes gritando "EU nÃO VOU LEVANTAR, PODE PEDIR QUEM FOR QUE EU NÃO LEVANTO". Eram duas crianças. Seguidas dos pais, que diziam "É ISSO AÌ, PODE SER VELHO E O QUE FOR, VOCÊS NÃO LEVANTAM". Classe, né. Eu sou contra a reprodução humana nesses casos, mas não adianta. Os sem-educação se reproduzem, muito. E passam a falta de educação de geração pra geração.

O ônibus lotou, muito. Em Niterói, todos os pontos de ônibus têm um fiscal. Ou seja, se o motorista passar pelo ponto direto, sem parar, deve levar a maior carcada. Então todos param, a não ser que Newton se materialize dizendo que dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço. Nosso ônibus estava cheio, mas ainda cabiam pessoas penduradas nas janelas, então o motorista parava em todos os pontos. Eu entendo, ele TEM que parar. É a obrigação dele. Mas o populacho não entende. Jamais. E muitas, muitas pessoas no ônibus começaram um coro super animado dizendo que iam comer o cu do cobrador, o cu do motorista, e por aí afora. Niterói também tem muitos morros e muitas curvas, e avenidas estreitas em muitas partes. Se o motorista corre, pode bater - e com certeza vai bater. A direção não pode ser tão selvagem, embora, ao meu ver, ainda o seja. Mas não para a patuléia daquele fatídico ônibus. Porque a turba começou a gritar, além da musiquinha linda sobre o destino anal do motorista, "VAI MOTORISTA FILHO DA P...", "CORRE DESGRAÇADO CORNO, TÁ ACHANDO QUE ISSO È PASSEIO?".

Meu rosto foi se contorcendo de dor, susto, indignação. Fiquei, mesmo, com pena do motorista. Os xingamentos foram constantes, sem propósito algum e muito pesados. E, quando davam uma trégua nos xingamentos, faziam um coro de algum funk proibidão, batendo no teto e nas laterais do veículo. Eu acho que todos têm direito a um transporte coletivo decente e eu SEI que em Niterói, no Rio ou aqui em São Paulo, isso está longe de acontecer. Mas NADA, absolutamente NADA justifica essa falta de educação. Pode vir pra cima de mim com discurso de que "eles não tiveram exemplo" ou "eles não tiveram educação", eu mando à merda. Sério. Eu nunca tive carro, eu sempre peguei ônibus e eu SEI o que é a realidade do transporte coletivo, não só aqui. E eu SEI o quanto as pessoas estão cada vez mais mal-educadas e sem noção.

É por isso que eu detesto multidões e aglomerações de ceresumanos. Porque o aglomerado de ceresumanos não é um monte de indivíduos juntos, dividindo espaço. É, na verdade, um organismo só. E um organismo que se acha corajoso. E faz merdas, como xingar motoristas que só estão trabalhando, como ensinar aos filhos que não se deve ceder o lugar a quem o banco é de direito, como xingar uma menina na faculdade de "puta" porque ela foi à aula usando um vestido curto. A multidão tem sempre uma força única e coesa, e nunca para o bem. Toda vez que eu vejo uma multidão se manifestar, é para agredir, xingar, impor suas merdas de músicas ruins aos ouvidos de quem está quieto.

Falta de oportunidades na vida nunca serão justificativa pra falta de educação. E e eu acho que o que mais falta nesse mundo, que está completamente virado do avesso, é educação. Basta raciocinar um pouco além. Basta observar mais. E você, mesmo que tenha nascido no meio de uma favela lá longe, saberá que xingar, gritar, barbarizar, nada disso te levará a nada. Só vai piorar o mundo que já não anda muito bem. Mas as pessoas sempre preferem o caminho torto. E assim, seguimos. Com idosos e grávidas sendo desrespeitados, com gente gritando em lugares públicos, com alunas sendo expulsas da universidade por "indecoro".

Que me desculpem os entusiastas, mas o povo brasileiro, na maioria, é bem pau no cu. E só.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Tem um episódio de "Friends" em que o Chandler e a Monica tentam descobrir quem é o pai biológico do bebê que eles vão adotar. A mãe biológica deles conta duas histórias, de dois homens completamente diferentes. Um deles é o capitão do time de futebol, sonho das meninas, muito bonito. O outro está na cadeia. Acusado de matar o pai com uma pá. Chandler e Monica passam a noite acordados, preocupados com a possibilidade do pai do bebê ser o assassino da pá. Aí a Monica fala que talvez não seja, talvez seja o jogador de futebol. E o Chandler responde:

- Honey, that's US. OF COURSE it's the shovel killer.

Isso resume minha vida. Eu sempre achei que fosse o "shovel killer". Afinal, sou eu. Alguém cuja história de vida daria, sim, um roteiro de filme do Almodóvar. E nem é exagero nem pretensão, é fato. Pode perguntar pra qualquer amigo meu.

Hoje eu tirei da gaveta uma história que estava guardada e que eu pretendia deixar lá para sempre. Mas, às vezes, não é o "shovel killer". Às vezes pode ser o atleta. Só é preciso coragem para ir atrás dos fatos. Os fatos vieram até mim, e agora eu só preciso encará-los, até o fim. Mesmo que doa. Mesmo que o "shovel killer" permaneça e eu tenha que guardá-lo novamente naquela gaveta. Mas não custa tentar.