terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Pati beijos

Todas aquelas fotos da gente uó que fez magistério comigo me fez lembrar de algumas histórias ma-ra-vi-lho-sas daquela época. A que contarei hoje é sobre duas Patrícias. Pati 1 e Pati 2. Pati 1 era moça fogosa. Namorou professor, vivia contando suas histórias tórridas a todos. Aliás, contar historinhas picantes era o maior passatempo das moças daquele curso. Parecia competição. Onde deu, pra quem, que posições, etc e etc. Eu era considerada excelente ouvinte nessa época. Achavam legal me contar coisas porque eu sempre escutava pacientemente sem interromper, sem competir, sem falar sobre minhas experiências. Eu era boa ouvinte pois não tinha experiências, né. 15 anos e "boca virgem", ia falar sobre o que? Tinha mais é que ouvir Pati 1 contando sobre suas aventuras calientes.

Outro passatempo das moças era dizer que ia se matar: virava e mexia alguma menina decidia se despedir de todas dizendo que ia suicidar-se porque o mundo estava ruim. No primeiro ano todas nós nos comovíamos, chorávamos, implorávamos para que a "suicida" da vez não fizesse nada de mais. No terceiro ano a coisa já era diferente. Se alguém chegasse dizendo que ia fazer algo assim ouvia-se "vá com Deus, beijos". Não era frieza não, era consciência de que a pessoa não ia fazer absolutamente nada porque todas nós sabíamos que rolava uma carência coletiva nervosa em quase todas e esse lance de se matar era só pra chamar a atenção.

Mas um dia Pati 1 resolveu que ia fazer merdinha e não avisou a ninguém. Foi pra uma sala de aula vazia, tomou Baygon e, dois minutos depois, foi levada ao posto de saúde que havia AO LADO da escola. Ela havia planejado tudo, mas esqueceu de contar com o fato de que o socorro seria quase que imediato. Lógico que todas nós ficamos abaladíssimas com o ocorrido, foi um grande susto. Mas o tempo passa. E adolescentes não têm Jesus no coração. Por isso, Pati 1 ficou conhecida como Pati Baygon até o fim do magistério.

Pati 2 era diferente. Ela não se apaixonava facilmente, não tinha aventuras amorosas e também não tinha amigos. Ela era MUITO esquisita. Isso vindo de Carrie, a Estranha, hein. Portanto ela era MESMO esquisita. Pati 2 era super engajada socialmente, usava somente moletons largos e camisetas largas e assistia às aulas sempre na mesma posição: jogando o pescocinho pro lado (vai, vai, vaaai) e com um olho aberto e o outro fechado. Quando ela se concentrava muito ela também ficava de boca completamente aberta. E quando queria participar das aulas, falava muito alto, gesticulando igual rapper. Uma palavra para Pati 2: PITORESCA.

Como eu disse, adolescentes são cruéis. Por isso, Pati 2 ficou conhecida como Pati Monga. Ela passou 3 anos sendo muito estranha e muito mal-vestida. Até que, no último ano, foi flechada pelo cupido. Apaixonou-se cegamente pelo nosso professor de Metodologia de História - que era gatinho, porém muito gay e muito namorado do outro professor de Metodologia de História. Mas Pati, ingênua, não sabia. Decidiu então que deveria partir para o ataque. Aplicou um "Esquadrão da Moda" (com sérias restrições orçamentárias e de bom senso) em si mesma e começou a vestir-se de maneira mais feminina. O que significa que ela deixou de usar roupas que pareciam um saco de batatas e começou a usar roupas que pareciam um saco de batatas acinturado e com cinto pra marcar a bordinha de muffin. Não era bonito, mas qualquer coisa era melhor do que o que ela usava antes. Pati tornou-se então Pati Fashion.


Pati 2 prestava atenção loucamente nas aulas do professor gatinho. Ou seja, ela fechava ainda mais um olho, abria ainda mais o outro, deixava a boca ainda mais aberta. Só de lembrar eu já estou rindo. Uma das minhas melhores amigas da época amava as aulas desse professor - amava AS AULAS, não o professor. Ele, por sua vez, amava as participações de minha amiga nas aulas e tratava ela como a uma amiga mesmo. A menina era genial e bacana, se eu fosse professora amaria ela também. Mas Pati, cega de paixão e ciúme, não via naquela relação algo inocente. Ela via o que queria ver: o professor dando uns tapas na bunda da minha amiga e falando "rebola mais na minha história, gostosa".

Pati decidiu vingar-se. Na época da festa junina, em que havia Correio Elegante entre as turmas, ela começou a mandar bilhetes "anônimos" para a minha amiga. Essa amiga tem olhos verdes imensos. Pati mandava bilhetes do tipo "Sua ridícula olho de azeitona verde" ou "vou furar esses seus olhões horrorosos". JU-RO. Toda vez que minha amiga recebia um bilhetinho era uma alegria. A gente ria de passar mal. Olhávamos para trás, diretamente para aquele protótipo mal-sucedido de Nazaré Tedesco, e ríamos. E minha amiga só dizia: "Ai, Patrícia, me poupe, né".

O mais legal de toda essa história das Patis é que toda vez que alguém mencionava alguma das duas, invariavelmente vinha a pergunta:

- Mas qual? A Monga ou a Baygon?

Ah, esses adolescentes cruéis...

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Invasão da cafonalha

Eu fiz magistério. 4 longos anos de magistério. E não era um curso comum, era um curso especial do Governo do Estado de São Paulo, em que estudava-se em período integral. Foram 600 horas de estágio em escolas públicas. Eu poderia dizer que saí de lá com uma grande bagagem de conhecimento pedagógico mas não. Eu achava toda a teoria pedagógica o cúmulo da chatice - tanto que não aguentei a mesma teoria na Faculdade de Pedagogia e mandei um adeus para a Educação para nunca mais voltar.

Os 4 anos de magistério me deram uma ótima base para definir o que é cafona. Saí de lá expert no assunto. O motivo? Eu estudei com aproximadamente 120 mulheres, no fim dos anos 90. Mulheres de todos os bairros de São Paulo mas principalmente da periferia. Daquelas que tinham orgulho de suas origens, daquelas que fariam Regina Casé ter orgasmos múltiplos de felicidade. Elas me olhavam torto porque eu morava num bairro bom da Zona Sul. Não importava que eu morasse numa casa pequena, de aluguel, e que eu fosse tão pobre quanto elas. Porque, veja bem, eu morava no Brooklin.

Tenho muitas histórias pitorescas sobre esse tempo não tão feliz. Eu comecei o magistério sendo a mais tímida das criaturas e, no final dos 4 anos, eu já tinha essa intolerância a ceresumanos que vocês já conhecem. Ou seja, eu não fiz muitos amigos. O meu grupo de amigas não era muito popular porque éramos as que iam melhor nas matérias. Os professores gostavam da gente. E, sei lá, tínhamos todos os dentes e não usávamos Kolene. É, podem me matar por ter falado isso mas é fato.

Passei anos cercada por meninas que curtiam trocar mensagens de auto-ajuda, que gostavam de falar de Deus o tempo todo, que achavam lindo o namorado dar um coração de pelúcia escrito "Eu te amo um tantão assim". Foram anos cercada por calças semi baggy, batons em tom de marrom, calças bailarina com camisão. Que tempo difícil. Não que eu fosse um grande exemplo fashion mas hoje em dia, pelo menos, eu tenho noção.

E elas?

Eu não sabia. Anos de feliz ignorância. Veio o orkut, quiseram fazer um reencontro e pediram que eu escolhesse o local. Escolhi um bar delicinha nos Jardins, o Tostex, onde tínhamos um espaço só nosso. Fui com um amigo que é o cúmulo da simpatia. O saldo do reencontro: o lugar era moderno demais, com gays demais e, pelo fato do meu amigo ser gay, falaram que eu andava com um "povo mona" e que eu devia ser lésbica. Eu soube disso porque depois do reencontro uma menina veio me pedir, educadamente, que eu não desse em cima dela. Minha vingança foi dizer que nem que eu fosse eu daria em cima dela porque ela certamente jamais seria meu tipo.

Bloqueei muitas meninas, migrei para o Facebook. Eis que de uns meses para cá todas as moças começaram a me achar. E me adicionar. Eu não recuso porque acho falta de educação e, querendo ou não, ali no meio há gente muito legal. Minhas amigas da época são legais. Fui deixando a invasão da cafonalha acontecer porque, afinal, até ali ninguém tinha postado fotos e me marcado.

Até anteontem.

O horror tomou conta de mim quando comecei a receber mensagens falando que "fulana marcou uma foto sua". Não podia ser boa coisa. Não era. Milhares de fotos da época da formatura, fotos de viagens de estudo do meio, fotos que fazem eu me lembrar da minha fase Carrie, a Estranha. Mas ok, nem desmarquei meu nome porque estou numas de auto-aceitação e desapego com esse passado. Deixa todo mundo ver o doce cramulhão que eu era, tudo bem. Hoje em dia tô gata, tô ruiva, tô com os dentes certinhos. Tá tudo bem. Né?

Não muito. Porque com as fotos e pessoas e reminiscências começaram as mensagens de "que saudade dessa turminha rsrsrsrsrs" ou "meu deus, que época boa, kkkkk, saudadeee". Gente. Eu não sinto a menor saudade dessa época. A MENOR saudade. Eu era feia pra caralho, não pegava ninguém, pesava 38 quilos, era CDF. Eu era amiga das descoladas mas nem sei como. Certamente só porque não estamos nos EUA, porque se estivéssemos, certeza que eu teria recebido meu quinhão de sangue de porco. Então fica a mulherada lá nas doces lembranças e me incluindo na conversa e eu com cara de "q" na frente do computador. Não lembro de muita gente. não faço questão de me lembrar, estou bem assim. A ignorância é uma benção.

Depois das conversas sobre saudade, conversas que não tiveram minha participação, começou o pesadelo parte 2. Reencontro e atualizações de status. "Boa semana" e "que seja melhor que a semana passada na fé de Deus" e declarações de amor ao namorado que atende pela alcunha de "Buda Marley" (HUAHUAHUAHUAHUA). Cancelei assinaturas como se não houvesse amanhã. Mas ainda estou em dúvida sobre o reencontro. Meninas que são muito legais provavelmente irão e eu gostaria de revê-las. Isso significaria lidar por algumas horas com a galera cafona, com o pessoal que não quer que eu dê em cima delas (!!!), com a total falta de senso estético, com as conversas sobre como é difícil ser professora da rede pública*. Será que eu consigo?

A certeza é que se eu for terei assunto pra mais de mês.




(*Porra, eu acho que ser professor da rede pública é coisa de gente maluca. Masoquista. Admiro quem tem coragem de levar essa vida mega sacrificada mas não quero falar sobre isso porque eu não acho sensato alguém escolher isso pra si. Eu fico aqui, duvidando da capacidade de discernimento da galera, sabem? Malz aê se eu sou escrota mas 600 horas de estágio no lombo me dão algum embasamento para opinar. Trabalhar na rede pública? Dude, you're nuts)