sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Um ano

Eu sou boa com datas em geral e tenho boa memória para coisas marcantes. A ponto de lembrar até da roupa que eu estava usando, ou que outras pessoas estavam usando. Há um ano eu estava de jeans e com uma bata amarela. Estava um dia nublado, e eu achei que era uma boa ideia ir buscar o resultado do meu exame a caminho da aula da noite. Também achei que seria uma boa ideia abrir o exame no laboratório. Lembro exatamente da minha sensação de desespero e do chão se abrindo, das lágrimas pulando, eu lendo de novo pra ver se era aquilo mesmo. Uma senhora de cabelos brancos, sentada ao meu lado, me perguntou se eu estava bem. Mas o resto das pessoas, me vendo desesperada, chorando, com um exame nas mãos, não fez nada. Nada. Liguei pro meu marido, quis ir embora dali mas não tinha forças pra chamar um táxi. O segurança do laboratório me amparou até um táxi que parou, pediu ao motorista que cuidasse de mim. O motorista, me vendo chorar, repetia "pra onde vamos??????". Impaciente. Liguei pra Lilla, chorei desesperada, o motorista ouvindo e perguntando "Que caminho a senhora prefere?".

Os dias seguintes foram tristes e estranhos. Até hoje eu penso quase todos os dias da mesma maneira que comecei a pensar naquele dia, naquele 11 de outubro: "dos males o menor". Fiz muito esforço para não fazer drama, para ser positiva, para me manter bem, porque tudo isso é essencial. E todos os dias eu pensava "dos males o menor, que bom que não é um tipo pior de câncer, que bom que não farei quimioterapia". Eu precisava desse consolo. E preciso dele até hoje.

Um ano depois eu posso confessar que eu fiquei apavorada. Muito apavorada. Eu tive crise de ansiedade. Crises. Eu sabia que não ia morrer, mas é horrível saber que tem uma coisa daquelas no seu corpo, que pode se espalhar. Eu tive sorte de ter um tipo de câncer que raramente se espalha. Mas existe câncer de tireoide que é mortal. Existe sim. Ou quando ele está grande, ele passa pros ossos, e aí fode tudo. Eu não tive isso e sou agradecida por isso. Mas eu fiquei apavorada. Quando eu fiz a cirurgia acordei da anestesia, a médica veio me dizer que tiveram que tirar tudo pois eu estava com os dois lados da tireoide comprometidos. Eu chorei e ela dizia "você vai ficar bem...". Eu estava chorando de alívio. Puro alívio. Porque aquele monstro estava fora do meu corpo.

É essa a sensação: que você tem um monstro crescendo dentro de si. Um monstro que assusta você, e apavora quem está com você. Eu chamei meu monstro de Voldemort. Eu até brinquei que ia dar um avada kedavra no meu Voldemort pessoal e aquilo ia acabar. Mas meu Voldemort foi e deixou pequenas consequências físicas. E, claro, psicológicas. Quem lê meu blog sabe que 2012 foi um ano horroroso em todos os sentidos possíveis. Minha vida pessoal estava uma zona, minha vida profissional e financeira estavam indescritivelmente ruins, eu me sentia sozinha, me sentia desamparada.

Sei que estou dando voltas e voltas e não chegando a lugar nenhum, mas sabem quando você precisa escrever? Fico pensando que 2013 está sendo ótimo. Mas está sendo normal. Só que nenhuma desgraça aconteceu e eu tenho plantado bem meus frutos profissionais. É isso que eu queria: um ano normal.

Essa semana um aluno meu, novinho, 23 anos, estava me falando que tem crises de ansiedade porque não sabe bem como conduzir a própria carreira. Fiquei conversando com ele e ouvindo, e comigo pensando "se ele conseguisse ao menos imaginar o quanto a vida ainda vai dar uns tapas na cara dele e depois ajudá-lo a levantar...". Só falei "você vai ver que a vida vai simplesmente acontecendo e não temos controle sobre algumas coisas. Just let go".

O que ficou do que passei ano passado é que a vida é esse exercício diário de desapego. De deixar acontecer. Ainda estou aprendendo.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

O que vestir

Desde pequena eu sofro com a síndrome d'o que vestir. Lembro que eu deixava já separada na minha mente toda a roupa que usaria no Natal e Ano Novo, dos sapatos à calcinha - e eu tinha o quê? Uns 7, 8 anos? Era uma preocupação com estar bonita aliada à ansiedade da data e o fato d'eu não ter taaaantas roupas assim. Então eu tinha que deixar separada a que usaria, pra não repetir. Imagine, repetir roupa?

Os anos passaram, eu comecei a comprar minhas roupas, eu passei a ser uma das principais responsáveis pelo lucro da Renner e da C&A, e a síndrome continuava. Balada na sexta? Ai, meu deus, o que vestir? Jantar no domingo? Ai, meu deus, o que vestir? Ida ao parque? Ai, meu deus, o que vestir? Fico tensa até hoje - até porque pagar aluguel fez com que eu comprasse bem menos roupas - e sofro um pouco calada por não ter tantas opções de variações de modelitos. Porque, imagine, repetir roupa?

Tenho a festa de um amigo nessa sexta e já sei que precisarei de uma blusa nova para ir, porque com esse grupo de amigos já esgotei meu estoque limitado de peças. "Tenho" que comprar uma blusinha nova, né? "Preciso". "Mereço". Ops, esse último, sem aspas: mereço. MEREÇO. Tenho um casamento na outra semana, e é claro que a roupa está decidida, até porque é meu único vestido de festa. Mas sofri levemente quando fui convidada, porque é casamento no fim da tarde, e puxa, será que o longo é apropriado? E pro casamento de uma das minhas melhores amigas, em dezembro? Já tenho duas opções de roupas. Natal? Usarei o vestido que eu não usar no casamento da melhor amiga (é casamento informal, né, gentz. Não vou de longo pro Natal).

Tudo isso pra contar que eu entendo, perfeitamente, quando tenho esse tipo de diálogo com uma amiga:

Eu: Então, daqui DOIS ANOS provavelmente vai rolar esse evento tal, importante.
Ela: Legal!!!! E já sei até o que vestir.
Eu: Hahahaha, que bom!
Ela: Sim, e tenho duas opções de vestidos.

Amiga, eu te entendo. E estamos juntas nessa!