quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Essa é minha vida, esse é meu clube

Dois meses depois de estar estando me fodendo a nível de transporte coletivo eu descobri um ônibus que passa na esquina de casa e me leva lá pro cu do mundo. É um ônibus bem mais caro e que demora muito mais a passar. Mas é ônibus de viagem e com poltronas confortáveis. A merda é ter descoberto essa maravilha só agora. Que já fiz duas alterações na minha requisição de vale-transporte.

Os dias passam rápido. Muito rápido. Pisquei os olhos e já é o meio do semestre. Já apliquei os midterm tests. Já corrigi mais da metade deles. Já sei que alunos têm muita dificuldade (são poucos) e que alunos têm muita sem-vergonhice (a maioria). Alguns dias eu gosto dos little fuckers. Outros dias, nem tanto. Sempre tenho vontade de dar respostas escrotas a todos, sempre. Na maioria das vezes eu me controlo. Quando me descontrolo sinto um prazerzinho dentro do peito - porque sempre que dou alguma resposta escrota é certeza de que o motivo é que o aluno passou de todos os limites do aceitável. Isso que nem estou falando das aulas na escola regular, só das aulas na unidade da escola de inglês.

As aulas na escola regular são odiosas. Duas únicas vantagens: eu estou aprendendo a lidar com frustração diariamente. E acho que tenho me saído bem. A outra é que meu coração ainda consegue ficar quentinho com algumas atitudes dos alunos dessa escola, que é mais um reformatório. Uma turma indignada porque eu disse que no ano que vem não continuarei lá. "Agora que temos uma professora boa, que explica direito e é legal, vão mudar você daqui?????". Saí de lá sorrindo nesse dia. Mas não é o suficiente para compensar pelos dias em que saí triste. Inconformada. Com o peito apertado porque minha vontade era de gritar "seu bando de playboyzinho metido a besta, vão carpir meia hora na lavoura pra ver se viram gente".

Aluno teve chilique. CHILIQUE. Porque foi mal na prova e ai ai ai com a outra professora ele ia bem. Amiguinho, você sassarica minha aula inteira. Você não sossega esse seu cu um segundo. Não presta atenção. Não faz lição. Bate nos colegas. COMO você ia bem antes? E é claro que não respondi assim, não falei a palavra cu. Respondi e ouvi, como resposta, um ui ui ui você não me dá atenção. Gente. GEN-TÊ. 20 nêgos numa sala chamando meu nome. Eu dou atenção o quanto eu posso. Quer ensino individualizado pague por aulas particulares. E falei isso, claro, que eu sou uma bocuda. Aluno chilica de novo. Belezoca, vá AGORA na diretoria reclamar do meu trabalho. Vá, tem minha autorização.

E foi? Não foi. Porque pode ser boludo pra dar chiliquinho com a professora mas quero ver ter colhões de mentir pra diretora. Porque eu dou aula. Eu explico. Eu dou atenção. Dizer o contrário, malz aê, é mentira. Vai mentir lá, vai. Vai? Claro que não.

Aluno reclama porque mudei ele de lugar, coloquei-o perto de mim. Ah tá. Tá reclamando de sentar perto de mim e admirar minha beleza quando quem deveria reclamar era eu, por te aturar toda semana? Repensa isso aí, amiguinho. E eu falo, falo, falo. Não me seguro. Reclamo pra diretora do treinamento aos sábados. Reclamo pra minha coach sobre observar aulas de outros professores, questiono sempre se eles acham que professor não tem direito a vida social.

E, por conta da minha boca solta ganhei o respeito dos professores que trabalham comigo. Por conta do meu jeito meio despachado minhas turmas de adolescentes na unidade gostam de mim. Uns não muito, mas a maioria gosta muito.

E é aí que eu vejo: já tive crises profissionais, já trabalhei em lugar em que não queria trabalhar. A diferença é que agora eu faço o que gosto, portanto, consigo suportar. É por isso que conseguirei me segurar até o final do semestre. Porque eu gosto do que eu faço. Nunca trabalhei num lugar onde sentisse tantos mixed feelings, uma hora gosto, outra não gosto, outra odeio, outra acho até que bacana. Tudo no mesmo dia. E sigo, porque eu não sou de deixar coisa pela metade. E, se eu sair, quando eu sair, sei que terei feito um trabalho bem decente.

No final, é isso que me move.

3 comentários:

Renata disse...

vou deixar um comentário adolescente aqui. não repara, que é de coração:

você é foda, cami.

<3

Carol Textor disse...

Eu pensava que só eu ainda usava o verbo "sassaricar", hahahaha

Adriana disse...

Estamos precisando de professores como você!
Fique firme!
Parabéns!!!!
Bjs