Outro passatempo das moças era dizer que ia se matar: virava e mexia alguma menina decidia se despedir de todas dizendo que ia suicidar-se porque o mundo estava ruim. No primeiro ano todas nós nos comovíamos, chorávamos, implorávamos para que a "suicida" da vez não fizesse nada de mais. No terceiro ano a coisa já era diferente. Se alguém chegasse dizendo que ia fazer algo assim ouvia-se "vá com Deus, beijos". Não era frieza não, era consciência de que a pessoa não ia fazer absolutamente nada porque todas nós sabíamos que rolava uma carência coletiva nervosa em quase todas e esse lance de se matar era só pra chamar a atenção.
Mas um dia Pati 1 resolveu que ia fazer merdinha e não avisou a ninguém. Foi pra uma sala de aula vazia, tomou Baygon e, dois minutos depois, foi levada ao posto de saúde que havia AO LADO da escola. Ela havia planejado tudo, mas esqueceu de contar com o fato de que o socorro seria quase que imediato. Lógico que todas nós ficamos abaladíssimas com o ocorrido, foi um grande susto. Mas o tempo passa. E adolescentes não têm Jesus no coração. Por isso, Pati 1 ficou conhecida como Pati Baygon até o fim do magistério.
Pati 2 era diferente. Ela não se apaixonava facilmente, não tinha aventuras amorosas e também não tinha amigos. Ela era MUITO esquisita. Isso vindo de Carrie, a Estranha, hein. Portanto ela era MESMO esquisita. Pati 2 era super engajada socialmente, usava somente moletons largos e camisetas largas e assistia às aulas sempre na mesma posição: jogando o pescocinho pro lado (vai, vai, vaaai) e com um olho aberto e o outro fechado. Quando ela se concentrava muito ela também ficava de boca completamente aberta. E quando queria participar das aulas, falava muito alto, gesticulando igual rapper. Uma palavra para Pati 2: PITORESCA.
Como eu disse, adolescentes são cruéis. Por isso, Pati 2 ficou conhecida como Pati Monga. Ela passou 3 anos sendo muito estranha e muito mal-vestida. Até que, no último ano, foi flechada pelo cupido. Apaixonou-se cegamente pelo nosso professor de Metodologia de História - que era gatinho, porém muito gay e muito namorado do outro professor de Metodologia de História. Mas Pati, ingênua, não sabia. Decidiu então que deveria partir para o ataque. Aplicou um "Esquadrão da Moda" (com sérias restrições orçamentárias e de bom senso) em si mesma e começou a vestir-se de maneira mais feminina. O que significa que ela deixou de usar roupas que pareciam um saco de batatas e começou a usar roupas que pareciam um saco de batatas acinturado e com cinto pra marcar a bordinha de muffin. Não era bonito, mas qualquer coisa era melhor do que o que ela usava antes. Pati tornou-se então Pati Fashion.
Pati 2 prestava atenção loucamente nas aulas do professor gatinho. Ou seja, ela fechava ainda mais um olho, abria ainda mais o outro, deixava a boca ainda mais aberta. Só de lembrar eu já estou rindo. Uma das minhas melhores amigas da época amava as aulas desse professor - amava AS AULAS, não o professor. Ele, por sua vez, amava as participações de minha amiga nas aulas e tratava ela como a uma amiga mesmo. A menina era genial e bacana, se eu fosse professora amaria ela também. Mas Pati, cega de paixão e ciúme, não via naquela relação algo inocente. Ela via o que queria ver: o professor dando uns tapas na bunda da minha amiga e falando "rebola mais na minha história, gostosa".
Pati decidiu vingar-se. Na época da festa junina, em que havia Correio Elegante entre as turmas, ela começou a mandar bilhetes "anônimos" para a minha amiga. Essa amiga tem olhos verdes imensos. Pati mandava bilhetes do tipo "Sua ridícula olho de azeitona verde" ou "vou furar esses seus olhões horrorosos". JU-RO. Toda vez que minha amiga recebia um bilhetinho era uma alegria. A gente ria de passar mal. Olhávamos para trás, diretamente para aquele protótipo mal-sucedido de Nazaré Tedesco, e ríamos. E minha amiga só dizia: "Ai, Patrícia, me poupe, né".
O mais legal de toda essa história das Patis é que toda vez que alguém mencionava alguma das duas, invariavelmente vinha a pergunta:
- Mas qual? A Monga ou a Baygon?
Ah, esses adolescentes cruéis...