sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

O dia em que Almir Sater me ajudou

Duas da manhã e eu acordada. Desde a cirurgia que eu não durmo direito. No dia, por motivos óbvios. Aquele soro dá uma vontade bizarra de fazer xixi, então eu acordava quase de hora em hora pra esvaziar o reservatório. Nos dias seguintes, em casa, dormi mal pois tinha que dormir reclinada, e não deitada. Teve o dia da porcaria do jogo da porcaria do Corinthians (odeio futebol, não sei se ficou claro), em que ceresumanos desprovidos de polegar opositor (só isso explica) começaram a soltar fogos às SEIS DA MANHÃ. Nem eu dormi, nem mais ninguém. Em pleno domingão.

Quando pude, finalmente, dormir deitada, comecei a sentir dores na área da cicatriz. Aí toca levantar, tomar remédio, deitar de novo. Isso sem contar que tenho crises horrorosas de tosse seca, em que não sei se o pior é a tosse ou a dor que a tosse causa. De qualquer maneira, vou tossindo segurando o curativo, aí fico sem ar, aí meu marido acorda e sai correndo pra buscar água pra mim e por aí vai.

Pois bem. Já contei o bastante para vocês entenderem o meu drama.

Essa noite demorei a pegar no sono. Devo ter conseguido dormir mais de 3 da manhã. Às 6, dor. Remédio. Mais uma vez demorei a pegar no sono. Quando finalmente estava naquele sono gostoso e confortável, começa uma música alta pra caralho vinda da vizinha. "Você diz que vai me deixar, que me ama, bla bla bla" - algum sertanejo genérico. Olho o relógio: 8 horas da fucking manhã. Dia útil, eu sei, mas ainda assim, cedo. Penso que vai parar. Não, segue outra música de corno. E outra. E outra. Muitos decibéis de cornitude.

Levanto da cama desgrenhada, andando torta por causa do sono, calço os chinelos e desço, com muita simpatia no olhar e amor no coração. Toco a campainha da vizinha. Explico. Senhora Faxineira da Vizinha, sua música está muito alta, não estamos conseguindo dormir, estou me recuperando de uma cirurgia, ó o curativo aqui ó, tem como abaixar o volume, por toda a gentileza desse mundo que vai acabar?

A moça pede desculpas e diz que vai abaixar o som. Subo, volto pra cama e fico lá esperando a moça fazer o prometido. Ela abaixa tipo um decibel. Começa "eu quero tchuuu, eu quero tchaaaa, eu quero tchu tchu tcha tcha tchu" meu cuuuuuuuuu, não consigo dormir. Penso em descer de novo e chorar, mas talvez fosse uma escolha muito dramática. Fico lá, xingando muito a mulher no meu twitter mental, até que começa a tocar Almir Sater.

Pô, Almir é respeito. Sério, respeito mesmo. Ele fez Pantanal, Ana Raio e Zé Trovão e depois fez aquela novela da Globo em que ele chamava a nêga de "minha prenda". Acho isso muito de gabarito. Comecei a prestar atenção na música. Ó chalana sem querer... Tu aumentas minha dor... Nessas águas tão sereeenas vai levando o meu... ZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZ

E foi assim que Almir Sater me fez dormir. Aquela musiquinha suave, conhecida, que não estupra seus ouvidos me fez pegar no sono e dormir até quase 11 da manhã. Obrigada, Almir! Vou fazer um CD seu e dar de presente praquela moça!

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Unbelievable

Não consigo acreditar que daqui poucos dias já é Natal. Mais alguns dias e o ano acabou. Não consigo acreditar que em questão de dois meses e meio eu descobri um câncer, fiz cirurgia de remoção do câncer e agora estou aqui, sendo mimada na recuperação pós cirurgia. Vocês têm noção disso? Conseguem pensar na imensidão que é descobrir essa doença, do nada, e rapidamente conseguir resolver tudo e fazer cirurgia? Quando eu penso nisso, não consigo acreditar. Não consigo acreditar no tanto que esse ano foi intenso, no tanto de problemas que eu tive, no tanto de coisas que superei. Foi muita coisa.

Acredito, no entanto, no amor da minha mãe. No amor do meu marido. No amor dos meus amigos próximos. Amor inabalável. Foi por acreditar nesse amor que eu consegui superar todas as coisas em que, embora eu diga que não consigo acreditar, aconteceram.

Estou bem. A cirurgia correu muito bem. Não tenho mais tireoide, mas não tenho mais câncer, então estou no lucro. Estou me recuperando em casa e embora eu sinta dor e cansaço e incômodo, são sensações compreensíveis e esperadas. E possíveis de lidar. Muito obrigada, de todo o coração, pelo carinho, pelos votos, pelas energias boas enviadas para mim!

Lembro muito bem da virada 2008-2009 - era algo super aguardado porque eu só queria que aquele ano acabasse. Chorei muito na virada porque era aquele ano maldito acabando. Chorei abraçada no Thiago, que ainda nem era namorado, e acabou virando marido.

Estava pensando na virada 2012-2013. Certeza que vou chorar muito. Mas muito mesmo. Eu entrei em modo zen para ir para a cirurgia tranquila - e deu certo. Mas há tantos sentimentos represados aqui. A surpresa é que a maioria deles é positiva. É de orgulho, gratidão, amor, alívio. Vou chorar não porque será o ano ruim acabando. Vou chorar por emoção mesmo. O ano foi uma merda, mas eu saio dele mais forte, mais feliz. Com a certeza de que eu consigo superar muitas coisas, mas rodeada de pessoas a quem eu amo não é assim tão difícil. Vou chorar abraçada no Thiago, que era namorado, agora é marido, meu amor.

Não consigo acreditar que saio de 2012 com pensamentos tão positivos. E querendo tanto ser uma pessoa melhor.

:)