Outro dia eu estava no Terminal Tietê esperando o horário do meu ônibus. Pra matar o tempo, decidi comer um doce. Eu adoro matar o tempo comendo. Se for algo gorduroso ou doce, melhor ainda. Rumei para a Casa do Pão de Queijo, que oferece um dos melhores quindins que já comi. É isso mesmo: quindim, não pão de queijo. Acho o pão de queijo de lá ok, mas, emc compensação, me delicio com o quindim.
A Casa do Pão de Queijo do Tietê está sempre lotada. Seja às 5 da manhã seja à meia-noite, é certeza de fila longa. E, sendo um local dentro de um terminal rodoviário, supõe-se que a maioria ali tem certa pressa pois tem horário para pegar ônibus. Era o meu caso nesse dia. Entrei na fila interminável e fiquei esperando. Quando eu estava quase lá, vi que uma mulher estava se aproximando pela lateral para fazer uma das coisas que eu mais abomino no mundo: furar fila.
Interlúdio explicativo:
Fure fila na minha frente pra você ver o que acontece. De 1,58 eu passo a ter 1,80 de tanto que eu cresço com a braveza. E eu não deixo passar na minha frente, a não ser em caso de morte. Eu brigo mesmo. Uma vez estava numa fila gigante de balada, 5 da manhã, louca para ir embora. Aí um sacripantas resolve furar fila na minha frente fazendo outra coisa que eu também abomino: jogando um xaveco tosco. Pronto, estava ali a personificação de dois comportamentos que eu não suporto. Ou seja, estava ali, em minha frente, o casqueré sanguinolento. Eu na boca do caixa, pronta pra pagar, e ele tentando me xavecar achando que eu não havia percebido a estratégia mirim. Aí quando ele disse: "vou ficar aqui com você, nós pagamos as comandas e depois você me dá seu telefone". Senti-me ultrajada, sabem. Vai tomar no cu, né, palhaço. Quer insultar a perspicácia de alguém, insulte a daquela menina que está com o pescoço torto de tanto jogar os cabelos pros lados, não a minha. Aí eu disse, super delicadamente:
- Não, não pagaremos juntos e, se você quiser algum telefone, terá que ir pro fim da fila. Na minha frente você não passa. E se continuar me enchendo, eu chamo o segurança.
Ele riu. Amigos, ele riu. Olhou pra folha de cheque que eu estava preenchendo e falou:
- Nossa, minha mãe tem o mesmo sobrenome que o seu! É destino... Mas olha, a menina ali atrás deixaria eu furar fila, viu...
Foi quando eu perdi totalmente a paciência, disse que a árvore genealógica dele não me interessava, que se a menira era idiota era problema dela e chamei o segurança. Aí ele saiu de lá me xingando de mal comida. Porque é assim: você contrariou um machinho, você é mal comida.
Então é isso: nunca furem fila na minha frente que eu perco minha finesse.
Fim do interlúdio
Voltemos à mulher que estava prestes a furar fila. Bem na minha vez. Quando eu dei um passo à frente para fazer meu pedido, ela se adiantou e perguntou à moça do caixa qual era o preço do chiclete. A moça respondeu e ela:
- Me dá 3 pães de queijo.
Pãnico nas ruas, caros colegas. Porque o meu sangue ferveu e tenho certeza que até saiu pelas minhas narinas em forma de vapor. Respirei fundo e travei o seguinte diálogo:
Eu: - Senhora, se quiser pedir pão de queijo, entre na fila.
Ela: - Ah, eu nem vi a fila. Estou com tanta fome...
Eu: - É, eu também. E entrei na fila pra pedir. Então eu faço meu pedido e a senhora entra na fila.
Ela: - Mas meu bebê está com fome e eu também.
Eu: - Ótimo, é só entrar na fila que sua vez já vai chegar.
Se eu não tenho coração? Tenho sim. Mas ninguém morre de fome por esperar 5 minutos. E uma coisa é chegar para MIM e explicar a situação, outra, bem diferente, é furar fila e tentar dar uma de espertinha. Meu cu de azul com glitter na Avenida Paulista pra gente assim. A moça do caixa me deu razão, a mulher foi pra fila resmundando e eu pedi meu quindim. Deleitei-me calmamente e fui em direção à escada rolante. Foi quando vi a mulher mal-educada. E fiquei olhando para ver para onde ela iria e qual era o tamanho do tal do bebê.
O bebê, minha gente, ou melhor, o "bebê" era um rapagão de uns 10 ou 12 anos. Ou seja, ou aquilo é uma obra miraculosa da natureza e temos ali um bebê enorme e pré-adolescente ou então temos mais um entre os milhões de casos de pessoas que se fazem de coitadinhas pra onseguir o que querem.
Eu fico com a segunda opção. E é por isso que eu não me compadeço de gente que faz cara de cachorro doente.
Beijos,
Camila Desalmada
ps: minhas amigas também odeiam furões. Uma vez estávamos na fila enorme do único caixa eletrônico de Arraial D'Ajuda. No Revéillon. Era MUITA GENTE na fila. Aí um cara chegou e falou: "vou entrar aqui com vocês". E nós não deixamos. Eu criei caso e minhas outras duas amigas, idem. E a namorada do cara rindo. Isso mesmo, rindo. E o cara achando que tinha razão. Se meu namorado faz uma coisa dessas eu juro que puxo ele pela orelha e levo pra bem longe dali. Ou largo ele sozinho pra nunca mais voltar. Tenho pãnico de gente folgada que acha que pode tudo.