segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Cultura Racional e minha cidade


Todo domingo, nas cercanias da Praça da República, um grupo da Cultura Racional monta seus pôsteres sobre a seita e fica lá, o dia todo, abordando transeuntes para lhes levar a palavra de seu grande messias, o Tim Maia. Tá, não é Tim o messias. Nem sei se há um messias na Cultura Racional. Se houver, deve ser algum ET psicodélico. Nunca parei para ler os pôsteres pois é certeza que se eu parar, serei abordada. E, como todos sabem, eu não tenho paciência para conversar com estranhos. Uma pena, queria ter. Certamente dessa conversa sairia muito material para posts e conversas de bar. Algum dia em que eu acordar sociável (HAHA), conversarei com algum dos que ficam lá, de branco, esperando alguém que faça o mínimo de contato visual para que eles possam fazer algum tipo de abordagem.

Nunca li sobre a Cultura Racional. Nunca ouvi o disco, nunca li nem o prefácio dos livros. Tudo o que sei é que Tim Maia pirou o cabeção nessa seita. E sei de conhecidos de amigos que também piraram. Pra mim, tudo parece uma grande viagem de ácido que não teve fim. Por mais que eu acredite em vida fora da Terra, eu não consigo levar a sério uma seita que se baseia em extraterrestres. Na verdade, acho difícil levar a sério qualquer tipo de seita, mas isso é assunto para outro dia. De qualquer maneira, há algo na devoção dessas pessoas que me fascina. E algo no fato deles estarem lá, no centro da minha cidade, "pregando", que também me fascina.

São Paulo é esse aglomerado de prédios e pessoas. Algumas arvorezinhas aqui e acolá que têm puro efeito psicológico. "Calma, você não vive numa selva de concreto, olha lá aquela árvore, sozinha, imagine quanto gás carbônico ela está absorvendo". Todos sabemos que as pobres das árvores da cidade não dão conta de todo o ar poluído, mas é bom ter algum tipo de consolo. Então estamos aqui, no meio de prédios, gente maluca, carros e mais gente maluca. De todos os tipos. E, no meio desses tipos, temos as pessoas que acreditam. Que têm fé. E que estão numa cidade que lhes permite expor a sua fé no meio do centro da cidade, numa boa. Essa diversidade que temos em São Paulo é realmente fascinante. A poucos metros do pessoal da Cultura Racional há a feirinha, que vende artesanato, acarajé, yakissoba, sabe-se lá mais o quê. A mais metros dali temos a Liberdade. Praça da Sé. Arouche, reduto gay. Zona cerealista, reduto de temperos do mundo todo. E tudo isso faz parte da cidade. Que identidade São Paulo tem? Com essa misturança toda fica realmente difícil de dizer. Acho que o que mais identifica a minha cidade é que ela está aqui, de braços abertos, pra todo mundo. Pro Cultura Racional, pro vendedor de badulaques, pro maluco evangélico, pro católico, pros japoneses e chineses e armênios e italianos e ufa! A identidade de São Paulo é essa: é aquela tia que já passou da idade do frescor mas ainda é bonita e quando você vai na casa dela e vê aqueles móveis com capinhas de crochê você pensa "Ai, que cafonice, que horror, quero ir embora". Só que aí a sua tia chega com aquele bolo caseiro, café quentinho, dois dedos de prosa e pronto: lá está você, no sofá, conversando justamente sobre capinhas de crochê.

É assim que vejo São Paulo. Grande, torta, poluída, cheia de malucos, com trânsito absurdo e com um prefeito que me causa engulhos. Qualidade de vida aqui é quase piada. Mas basta um passeio na Paulista num fim de tarde. Basta uma andadinha no Centro num dia ensolarado. E pronto: caio toda reapaixonada pela minha cidade.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Aprendo, mas aos poucos

Depois de muitos anos colocando o trabalho como uma das coisas mais importantes da minha vida eu comecei a aprender que ele é só UMA parte da minha vida. No ano passado eu estava com dúvidas com relação aos meus rumos profissionais e aceitei um trabalho que, como vocês sabem, deu errado. Da minha parte. Eu poderia ter continuado lá, queriam que eu continuasse. Mas eu estava muito triste. Muito insatisfeita. Uma amiga me disse que eu estava me tornando uma outra pessoa: uma pessoa amarga. E eu não sou amarga, sabem. Sou mal-humoradinha, mas não amarga. Saí daquela escola. Estou desempregada. Sem rumo profissional mesmo. Não sei se quero continuar na área em que atuo - não porque eu não goste dessa área, eu amo; mas porque é uma área muito instável. Fiz uma viagem de fim de ano maravilhosa. Família do meu marido no Rio, amigos na Bahia. Quinze dias de delícias. Voltei e fiquei doente. Porque voltei e toda a realidade começou a pesar. E agora, o que faço, como posso estar me sentindo assim, será que estou com início de depressão, só quero chorar...

Aí eu parei pra pensar nessa viagem. Na minha vida como um todo. Eu tenho um relacionamento extremamente saudável com alguém que amo infinitamente. Tenho amigos maravilhosos. Mesmo. Tenho uma família doida, doida como qualquer outra família - mas que é MINHA família, que eu amo incondicionalmente. Pude ter 15 dias de férias onde desses 15, 9 eu passei comendo moqueca, acarajé, bebendo cerveja gelada com amigos incríveis. Amo minha casa, amo meus gatos, amo ficar em casa com meu marido e meus gatos.

Viram quanto amor?

ENTÃO COMO EU POSSO ACHAR QUE TUDO ESTÁ RUIM? Falem pra mim!

Eu sei: é porque eu sempre dei uma importância exagerada ao trabalho. Tipo, se estou infeliz no trabalho, todo o resto está ruim. Agi assim o segundo semestre do ano passado todo. Mas era só uma parte que estava ruim. E era uma parte que tinha sido escolha minha.

Minha maior resolução para esse ano é dar ao trabalho sua devida importância. Colocar o trabalho em seu devido lugar. Sem exageros, nem pra mais, nem pra menos. Sim, é importante se sentir realizada profissionalmente. Mas isso não é a única coisa da vida. Eu não quero ser workaholic. Eu renuncio isso, agora! Quero equilíbrio.

A vida não está ruim. UMA parte dela está difícil - e é justamente a parte que mais posso mudar, porque não sou presa a uma carreira, ninguém é. Todo o resto - o que realmente importa - vai muito bem, obrigada!