segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Invasão da cafonalha

Eu fiz magistério. 4 longos anos de magistério. E não era um curso comum, era um curso especial do Governo do Estado de São Paulo, em que estudava-se em período integral. Foram 600 horas de estágio em escolas públicas. Eu poderia dizer que saí de lá com uma grande bagagem de conhecimento pedagógico mas não. Eu achava toda a teoria pedagógica o cúmulo da chatice - tanto que não aguentei a mesma teoria na Faculdade de Pedagogia e mandei um adeus para a Educação para nunca mais voltar.

Os 4 anos de magistério me deram uma ótima base para definir o que é cafona. Saí de lá expert no assunto. O motivo? Eu estudei com aproximadamente 120 mulheres, no fim dos anos 90. Mulheres de todos os bairros de São Paulo mas principalmente da periferia. Daquelas que tinham orgulho de suas origens, daquelas que fariam Regina Casé ter orgasmos múltiplos de felicidade. Elas me olhavam torto porque eu morava num bairro bom da Zona Sul. Não importava que eu morasse numa casa pequena, de aluguel, e que eu fosse tão pobre quanto elas. Porque, veja bem, eu morava no Brooklin.

Tenho muitas histórias pitorescas sobre esse tempo não tão feliz. Eu comecei o magistério sendo a mais tímida das criaturas e, no final dos 4 anos, eu já tinha essa intolerância a ceresumanos que vocês já conhecem. Ou seja, eu não fiz muitos amigos. O meu grupo de amigas não era muito popular porque éramos as que iam melhor nas matérias. Os professores gostavam da gente. E, sei lá, tínhamos todos os dentes e não usávamos Kolene. É, podem me matar por ter falado isso mas é fato.

Passei anos cercada por meninas que curtiam trocar mensagens de auto-ajuda, que gostavam de falar de Deus o tempo todo, que achavam lindo o namorado dar um coração de pelúcia escrito "Eu te amo um tantão assim". Foram anos cercada por calças semi baggy, batons em tom de marrom, calças bailarina com camisão. Que tempo difícil. Não que eu fosse um grande exemplo fashion mas hoje em dia, pelo menos, eu tenho noção.

E elas?

Eu não sabia. Anos de feliz ignorância. Veio o orkut, quiseram fazer um reencontro e pediram que eu escolhesse o local. Escolhi um bar delicinha nos Jardins, o Tostex, onde tínhamos um espaço só nosso. Fui com um amigo que é o cúmulo da simpatia. O saldo do reencontro: o lugar era moderno demais, com gays demais e, pelo fato do meu amigo ser gay, falaram que eu andava com um "povo mona" e que eu devia ser lésbica. Eu soube disso porque depois do reencontro uma menina veio me pedir, educadamente, que eu não desse em cima dela. Minha vingança foi dizer que nem que eu fosse eu daria em cima dela porque ela certamente jamais seria meu tipo.

Bloqueei muitas meninas, migrei para o Facebook. Eis que de uns meses para cá todas as moças começaram a me achar. E me adicionar. Eu não recuso porque acho falta de educação e, querendo ou não, ali no meio há gente muito legal. Minhas amigas da época são legais. Fui deixando a invasão da cafonalha acontecer porque, afinal, até ali ninguém tinha postado fotos e me marcado.

Até anteontem.

O horror tomou conta de mim quando comecei a receber mensagens falando que "fulana marcou uma foto sua". Não podia ser boa coisa. Não era. Milhares de fotos da época da formatura, fotos de viagens de estudo do meio, fotos que fazem eu me lembrar da minha fase Carrie, a Estranha. Mas ok, nem desmarquei meu nome porque estou numas de auto-aceitação e desapego com esse passado. Deixa todo mundo ver o doce cramulhão que eu era, tudo bem. Hoje em dia tô gata, tô ruiva, tô com os dentes certinhos. Tá tudo bem. Né?

Não muito. Porque com as fotos e pessoas e reminiscências começaram as mensagens de "que saudade dessa turminha rsrsrsrsrs" ou "meu deus, que época boa, kkkkk, saudadeee". Gente. Eu não sinto a menor saudade dessa época. A MENOR saudade. Eu era feia pra caralho, não pegava ninguém, pesava 38 quilos, era CDF. Eu era amiga das descoladas mas nem sei como. Certamente só porque não estamos nos EUA, porque se estivéssemos, certeza que eu teria recebido meu quinhão de sangue de porco. Então fica a mulherada lá nas doces lembranças e me incluindo na conversa e eu com cara de "q" na frente do computador. Não lembro de muita gente. não faço questão de me lembrar, estou bem assim. A ignorância é uma benção.

Depois das conversas sobre saudade, conversas que não tiveram minha participação, começou o pesadelo parte 2. Reencontro e atualizações de status. "Boa semana" e "que seja melhor que a semana passada na fé de Deus" e declarações de amor ao namorado que atende pela alcunha de "Buda Marley" (HUAHUAHUAHUAHUA). Cancelei assinaturas como se não houvesse amanhã. Mas ainda estou em dúvida sobre o reencontro. Meninas que são muito legais provavelmente irão e eu gostaria de revê-las. Isso significaria lidar por algumas horas com a galera cafona, com o pessoal que não quer que eu dê em cima delas (!!!), com a total falta de senso estético, com as conversas sobre como é difícil ser professora da rede pública*. Será que eu consigo?

A certeza é que se eu for terei assunto pra mais de mês.




(*Porra, eu acho que ser professor da rede pública é coisa de gente maluca. Masoquista. Admiro quem tem coragem de levar essa vida mega sacrificada mas não quero falar sobre isso porque eu não acho sensato alguém escolher isso pra si. Eu fico aqui, duvidando da capacidade de discernimento da galera, sabem? Malz aê se eu sou escrota mas 600 horas de estágio no lombo me dão algum embasamento para opinar. Trabalhar na rede pública? Dude, you're nuts)

7 comentários:

.cleozinha. disse...

suuuper me identifiquei com a primeira parte do texto (até a formatura)! hihihihi a gente sofre mesmo... aff! beijo!

Marissa Rangel-Biddle disse...

Va' a reecontro, faca fotos, coloque todas no FB e abra o album pra gente.

Por favor!!!!!!

Eu nao aguento mais o `que saudades daquela epoca!` - to quase cometendo facebookcidio de novo so' por causa desses diabos do passado. Como o povo pode ter saudades daquilo, meu pai?

bjs

Anônimo disse...

Eu me sinto assim na faculdade!

:/

PLDDS vá ao encontro! Quero que tu escrevas loucamente porque adoro ler!

heheh

Thais Miguele disse...

Kkkkkkk! Pelamôr! Sorte a minha q a turminha da escola virou velharada, e acha q esse negócio de facebook é coisa de adolescente.

David disse...

Camis,

Este seu post me lembrou o motivo por que não quero saber mais de ninguém da minha época de ensino fundamental. Uma época que eu não sinto a menor saudade por motivos bem parecidos aos seus.

Aí, vieram com uma mailing list da galera e colocaram meu e-mail lá. Começavam a marcar encontrinho e toda vez que eu me pronunciava, ninguém me respondia. Eles chegaram ao cúmulo de sugerir criar uma mailing list dentro da mailing list exclusiva para a "panelinha" da turma toda... exclusiva para a mesma galerinha que me excluía. Quando li esta mensagem que vazou acidentalmente para mailing list principal, resolvi sair da lista porque eu não precisava aturar esse tipo de babaquice.

Depois, houve uma reunião onde fizeram questão que eu fosse. Quando cheguei lá, mandaram o basicão "há quanto tempo", depois, me isolaram num canto, exatamente como faziam na época de colégio.

Foi a partir daí que eu resolvi eliminar de vez essas pessoas da minha vida. Não preciso delas para nada e minha vida ficou muito melhor sem elas. Gosto muito mais da minha vida agora do que naquela época. Pra que eu vou ficar relembrando?

Enfim, vida que segue!

Beijão!

Jan disse...

Lembra quando a jenti era tudamigo = O HORROR, O HORROR.

Luana disse...

Olha, seu texto so nao podia ser assinado por mim porque eu fiz colegial mesmo, não magistério.... Mas ate hoje tenho horror a calca bailarina!!!!

E eu era tao Precious que quase ninguém me achou e se me acharam não me adicionaram... hahahhahaa

fase do capeta!