sexta-feira, 30 de março de 2012

Quando gira o mundo e alguém chega ao fundo de um ser humano*

Eu trabalhei por dois anos numa escola de idiomas presente no mundo todo. É uma escola super conceituada, super cara e muito boa. Foram dois anos muito, muito bons, fui muito feliz lá, amava meus colegas e meus alunos. Saí porque financeiramente era uma merda.

Esse ano começou muito mal, com quase nenhum aluno novo. E eu precisava de alunos novos, visto que tive que deixar todos de lado pra ir trabalhar naquela grande escola inglesa que quase me enlouqueceu. Janeiro, nada de alunos novos. Fevereiro, promessas de alunos novos. Março, as promessas desistiram.

Uma aluna nova quis fazer umas duas aulas específicas de preparação para entrevista de emprego. Disse que quando conseguisse o emprego, faria aulas comigo. Disse que o noivo dela, que é meu ex-aluno, amava as aulas comigo e me recomendou muito. E comentou que havia procurado escolas de inglês mas todas eram caras e ela havia ficado confusa com as metodologias. Calmamente eu expliquei sobre as principais, falei alguns prós e contras de cada uma e falei sobre as duas onde havia trabalhado: a internacional bacanuda e a inglesa difícil.

Semana passada recebo email dessa moça me contando que está empregada e que optou por fazer aulas na escola bacanuda. Mas que queria fazer uma ou outra aula comigo.

Eu fiquei muito decepcionada. Vejam bem, eu trabalhei nessa escola, eu conheço a metodologia, eu tenho experiência de anos com Business English, eu manjo do babado todo. E cobro mais barato que a escola. Com a vantagem de ter liberdade para usar materiais diversos, porque, obviamente, não tem como usar o material da escola. Só que isso é bom! A aula fica mais rica! Mas a pessoa prefere ter aulas na escola. E me avisa isso. Minha vida já está fodida o bastante e ainda recebo um email desnecessário.

Essa semana a moça me escreveu de novo. Está achando as aulas muito difíceis e quer que eu dê aulas de reforço na empresa onde ela trabalha. Gente. Não era mais fácil já fazer as aulas comigo de uma vez? Se o problema é o certificado que te dão no final do curso, presta um FCE da vida depois de um tempo de aulas comigo que você passa. E tem um certificado válido mundialmente. Da Cambridge University. Não vale mais a pena?

Bem, acontece que minha vida deu um giro. Mudou de uma semana pra outra. E não posso mais ir até a empresa. Posso dar uma aula de reforço por semana, de manhã. Só. Vamos ver o que ela fala. E essa história, meus amigos, é só pra mostrar um pouquinho o quanto dar aulas particulares é difícil. A competição é contra grandes instituições. As pessoas regateiam preço até não poder mais. Algumas tratam o professor como se fosse mercadoria, afinal, "eu pago".

Eu amo dar aulas. Preenche meu coração, de verdade. Mas todo o entorno é muito difícil. Toda a negociação, cobrança de pagamento, desistências, justificativas. É tudo muito, muito estressante.

Fico pensando: se muitos alunos tivessem aparecido, se essa moça tivesse optado fazer um baita curso intensivo comigo, eu teria pensado em mudar? E aceitar essa mudança?

* esse título lindo é referência ao nosso grande ídolo Juninho, Fábio Junior, grande filósofo romântico. Só usei esse trecho pois fala sobre o mundo girar e meu mundo girou, não é? A parte de chegar ao fundo de um ser humano só está lá porque, gente, que frase é essa? Incrível.

4 comentários:

Loo disse...

FJ, sogrào

rnt disse...

Pergunta: vc tá perto de santo andré, do abc paulista, enfim, por aqui?

Diário Virtual disse...

Putz.... bem que tu podia morar em Porto ALegre... olha, eu já procurei e é dificil achar professores de ingles.
Eu estava estudando na Cultura Inglesa, mas pagar 240 reais na mensalidade e mais material, tava demais e eu não tava rendendo....

Dáfni disse...

Camila, eu sou prof também, mas de uma universidade. Meu emprego é estável, mas me identifiquei muito com o texto, principalmente quando fala dos alunos e como é difícil. Se não é o preço, as questões são outras: falta de interesse, encheção de saco, desrespeito. Chego a pensar que essa nova geração (dou aula para alunos entre 17 e 22 anos) está muito mal acostumada.

Beijos, adoro seu blog!