segunda-feira, 22 de junho de 2015

Eu não vou dizer adeus

Eu ainda não sei como me despedir. Adeus me parece muito definitivo, e até logo me parece fatalista demais - eu ainda quero passar um tempo nesse planeta, ainda que eu ache que a humanidade não vale tanto a pena assim. A verdade é que religião nenhuma prepara a gente de verdade para a morte. Ou eu é que não aprendi a lição direito. Anos e anos de centro espírita me ensinaram sobre reencarnação, sobre karma, sobre ninguém partir sem ser a hora certa, sobre as escolhas que os espíritos fazem antes de reencarnar - e, acima de tudo, que a morte não é um fim. Isso tudo com certeza ajuda, mas ninguém me ensinou a lidar com a partida em si. Com olhar para um caixão e pensar que ali dentro está o corpo de um amigo. Não aprendi a confortar quem fica com palavras, porque não sei nem o que pensar, quem dirá o que dizer. Não me ensinaram a lidar com os primeiros dias de ausência, de pensar que aquele amigo não está mais ali.

Há um mês mais ou menos, eu só consigo pensar no quanto a vida é frágil. É um sopro, apenas, um momento breve no meio de toda a história do universo. A fragilidade da vida parece apenas nos mostrar que ela é insignificante. Mas não é. Não é para quem sofre, não é para quem se vai, não é para quem fica. Anos e anos de religião e realmente não sabemos como lidar com a morte. Anos e anos de medicina e ainda não sabem como lidar com o câncer.

Sei que tudo é um ciclo, e o seu, infelizmente para quem fica, terminou. Eu lamento as viagens que pensamos em fazer e não fizemos. Lamento não ter visto mais você, nem te dado um abraço ainda mais apertado da última vez em que nos vimos. Lamento não ter estado mais próxima, ainda que você não quisesse muita proximidade nesses últimos tempos. Eu lamento o tempo perdido, as ligações não feitas, mas você partiu sabendo o quanto nós todos te amamos. Nessas horas parece que bate todo um arrependimento pelo que não foi, pelo que nunca vai ser, pelo tempo que não volta; mas a verdade é que nosso coração esteve contigo o tempo todo.

Você viverá pra sempre em nossas lembranças, amigo. Não tem como esquecer da sua alegria, das suas danças, da sua voz, da sua presença tão solar - o amor da sua vida te definiu assim, e não há realmente melhor definição. Seu tempo foi curto, mas a marca que você deixou é eterna. Eu não vou dizer adeus pois vamos nos reencontrar. Eu não vou dizer adeus porque você deixou um pouco de ti em cada um de nós. Eu não vou dizer adeus porque sei que sua ausência física não será para sempre. E nossos corações estarão sempre com um pouco de você ali. Uma hora a gente se vê de novo, amigo. Bom descanso, e te amamos muito.

2 comentários:

Birdy disse...

que triste este post. me deu um nózinho na garganta.
a vida realmente, é um sopro :/

Robson Assis disse...

Chorei.
Tipo muito.
Espero que fique tudo bem.