E eu choro não só pelo meu avô, por vê-lo irreconhecível numa cama de hospital, incapaz de conseguir, à beira da morte, a visita de um de seus filhos; como também por ter a certeza de que a ideia de família que um dia possa ter existido com certeza se irá com ele. Choro pela minha mãe, choro pelos meus tios, choro por mim. Choro pelo que nos tornamos e deixamo-nos tornar. É na doença que se reforça o que já existe e que se revela aquilo que não sabemos sobre as pessoas. O Alzheimer atinge a família toda. Vê-se a bondade e compaixão, mas vê-se também a mesquinhez. As relações fortes se intensificam ao passo que as fragilizadas ficam por um triz. Por um triz está meu avô, assim como a família que eu vi nascer depois da morte da minha avó.
E dói a inconsciência dele. A ignorância da esposa dele. Dói meu coração ao ver que minha relação com minha mãe se mantém no silêncio. Numa família que se baseou sempre no espiritismo, é incompreensível ouvir alfinetadas com relação às minhas atitudes com relação à ela, sendo que ninguém ali sabe a verdade sobre meu passado. Eu guardo comigo a história. E ouço indiretas minutos antes de entrar na UTI pra ver meu avô, provavelmente pela última vez. Quanta sensibilidade.
Estou triste.