Eu amo o que eu faço. Dou aulas de inglês por amor mesmo. Dá trabalho, é cansativo, mas eu acho o máximo quando vejo resultado, quando vejo alunos aprendendo, melhorando, evoluindo. Eu gosto de trabalhar focada em resultados porque é aí que está a graça do que eu faço. Não é a camaradagem entre aluno e professora que me atrai, eu já tenho muitos bons amigos e não consigo dar conta de mais. Eu realmente não ligo muito para essa coisa de agradar a todos e todos me agradarem que é bastante comum na minha profissão. Eu quero é ver nêgo chegar pra mim falando que aprendeu. Que sente que melhorou. Que nem viu a hora da aula passar.
Eu adoro dar aulas para grupos. É muito mais dinâmico e divertido do que aulas particulares onde fica-se à mercê do humor do aluno. E aí temos aquele velho dilema: dar aulas particulares dá muito mais grana, mas é instável. Dar aulas para grupos é mais interessante mas trabalhar em escolas é quase sinônimo de escravidão. Aí eu fui lá e abri a minha empresa. De aulas em empresas. Só que para tocar as coisas eu tive que dar menos aulas e o óbvio aconteceu: comecei a sentir falta e entrei em crise. Até escrevi sobre isso aqui. Tentei achar saídas onde eu pudesse dar aulas para grupos e manter meu negócio. A saída veio em duas grandes escolas me chamando para processo seletivo. E eu optei pela mais antiga e tradicional pensando "se é pra ir, que seja na maior".
Acho que eu comecei a me enganar aí. Empresa no ranking das 100 melhores empresas pra se trabalhar no Brasil é bastante atrativo, né? Empresa com o seu ex-tutor-do-CELTA-atual-amigo lá é mais atrativo ainda - porque trabalhar com ele é um sonho. O cara é só um dos mais fodões da minha área, é claro que eu optaria pelo lugar onde ele está. Sem contar o nome da escola, que abre portas. Abre sim. As pessoas te olham diferente quando você fala que trabalha lá. E para lá eu fui.
O período de treinamento já deu indícios de que tudo seria muito difícil. Eu persisti. Há uma unidade a um quarteirão da minha casa, não havia vagas, me mandaram para uma unidade onde a gerente dá medo. Não foi legal. Aí fui contratada de fato pela unidade que fica em outro município. Eu não tenho carro. Vou de ônibus todos os dias estrada afora. Trabalho num lugar lindo com pessoas amigáveis e com uma gerente que tenta fazer o melhor.
Mas sempre há o mas. No meu caso, há muitos "mases". Achando que turmas de adolescentes não seriam tao insuportáveis, achando que turmas de adolescentes poderiam ser divertidas e querendo uma grande mudança e novas experiências (mais de 8 anos dando aulas para executivos dá um certo cansaço) eu disse sim. Sim, sim, sim, vamos lá, I embrace changes. NOVE turmas de aproximadamente VINTE alunos. Apenas uma turma de adultos. O resto é só de pirralhos. Mimados. Três turmas são em ESCOLA NORMAL. Eu não pensei que teria turmas em escola normal.
Peço que vocês voltem no tempo comigo. Eu tinha 19 anos e passei em Pedagogia na USP sem estudar. Nunca abri um livro. Passei. Beleza que Pedagogia nem é isso tudo na concorrência mas eu tava lá, na USP, aquele lugar onde só tem gente metida a besta. Quatro anos de magistério não foram suficientes para me convencer de que dar aula em escola é uma BOSTA. Bosta fedida. Entrei na faculdade e a ficha caiu: cara, dar aulas em escolas fede. É ruim. É pra quem ama mesmo e eu não amo isso. Abandonei a faculdade e nunca mais voltei.
Muitos anos depois, cá estou eu, tentando me encontrar, tentando pertencer, querendo ter colegas de trabalho para fofocar durante o intervalo de aulas. Quando eu dei aulas numa outra grande escola de inglês eu tinha isso. Adorava. Estava sentindo falta de pertencer a um lugar maior. E fiz essa escolha. Onde fui parar? Fui parar dando aula em escola normal, aquilo que eu não queria fazer, não quero fazer, aquilo que eu detesto. Os alunos mal olham na minha cara. Eles não querem fazer nada. Eu não vou ver resultado nenhum no meu trabalho. E não me venham dizer que conseguirei tocar o coração de um deles e isso fará valer a pena. Bullshit. Vai valer a pena todo o stress pelo qual estou passando? Sinto dores no corpo diariamente. Choro todos os dias, praticamente, de desespero, de "o que foi que eu fiz?".
Dou muitas horas de aula por semana, longe, para adolescentes ingratos que eu apelidei de "little fuckers" - se eu não puder fazer piada, aí fodeu tudo mesmo. Little fuckers são ingratos, ficam contando o tempo da aula pra ir embora, falam mal de você na sua cara. Eu já dei tanta comida de rabo em duas semanas que olha, nem sei. Já falei, inclusive, que eles nem precisam gostar de mim porque minha vida é super ok sem gostar deles também. HAHAHA, olha a que ponto cheguei. Sabemos que pra alguém que ama o que faz isso é mentira, né. Eu quero que me meus alunos gostem de mim e da minha aula e aprendam e saim satisfeitos sem ver o tempo passar.
E isso que nem comecei a contar que totabilizo a insana quantia de mais de 150 alunos adolescentes e que em 2 pontos do semestre eu terei que ligar para todos os pais e mães deles. Vocês não imaginam a carga extra de trabalho pedida por essa escola.
E eu assumi um compromisso por um semestre. Não posso sair porque não quero queimar meu filme. Minha coach e meu amigo de lá me falam que tenho que fazer vista grossa. Eu sou CDF. Eu não sei fazer vista grossa! Eu sou nerd, gente, nerd quer que o trabalho saia lindo. Não é da minha personalidade fazer vista grossa. Ontem eu fiz vista grossa e saí da aula com o coração doendo. Tive dor de cabeça o dia todo - e estou com dor até agora. Nenhum professor que trabalha comigo está feliz, ninguém gosta de dar aulas lá, só reclamam. Mas ninguém pede demissão porque todos pensam que se lá é daquele jeito, em outros lugares é pior ainda. Eu discordo.
É muito difícil admitir que apesar do tamanho da empresa, apesar de tudo, apesar dos pesares, eu acho que não fiz a escolha certa. Eu não lido bem com insatisfação. Estou insatisfeita? Eu faço algo pra mudar. Sempre deu certo, essa é a primeira vez em que deu errado. Tenho que aguentar esse semestre.
Já estou na contagem regressiva.
sexta-feira, 12 de agosto de 2011
terça-feira, 9 de agosto de 2011
Tá trânsito, né? Que fila, né?
Acho que eu posso morrer, reencarnar como uma linda borboleta Monarca, viver minha breve vida de borboleta e morrer de novo e, ainda assim, não entenderei todas as nuancas do incrível (not) comportamento humano. No episódio de hoje da série "Exploda mundo sem noção" falaremos de gente que gosta de atestar o óbvio só pelo prazer de abrir o buraco da boca e dela fazer sair sons completamente inúteis para qualquer ser vivente.
Temos como exemplo eu, hoje de manhã. às 6:15, para ser mais exata. Estava frio, escuro e eu nunca sou feliz tão cedo. Tinha que estar às 6:50 na Granja Fucking Viana, aquele bairro belo e distante onde só se chega através da Raposo Fucking Tavares. Eu dou aulas na Granja nesse semestre. Não estou feliz com isso, menos feliz ainda às 6 fucking quinze da manhã.
Pego o coletivo e vislumbro um lugar vazio. No afã de repousar minha bunda nem olhei para o lado para ver quem estava ali, simplesmente sentei-me. Ipod, música alta para acordar e maravilha. Quando vejo que a senhora ao meu lado falava sozinha. Hum, isso requer artilharia mais pesada, isso exige o kit anti ceresumanos completo: óculos escuros e olhos fechados para fingir que está dormindo. Tudo a postos, sinto um cutucão. Dois cutucões. Três. E uma voz à la professora do Charlie Brown. Abri os olhos com cara de simpática (not). Era a véia ao meu lado falando que estava trânsito. E pedindo para eu olhar para o trânsito.
Cara, eu olho para o trânsito todos os dias. Eu pego a Raposo Fucking Tavares diariamente em transporte coletivo. Eu SEI o que é o trânsito pois sinto esse maldito em minha alva pele todos os dias. O que fiz? Não dei atenção. Fechei os olhos de novo. Fui cutucada, DE NOVO. Abri os olhos mais uma vez e, dessa vez, a véia louca estava brava comigo porque eu tinha que olhar. Olhei. Falei com uma voz simpática (not) "Tá trânsito, e daí?". Ela pareceu entender o recado e voltou a falar sozinha. Mais tarde, cutucou a moça que estava em pé e as duas pessoas sentadas à nossa frente só para saber se ali era a Granja Viana.
Não me venham pedir compreensão com gente louca porque olhem, eu não sou obrigada a aturar gente lelé às 6 da manhã de uma terça-feira em que trabalharei DOZE horas. Porque o principal aqui não é que a véia é doida. Ou digna de pena. Ela só é sem noção, sofre desse mal que acomete a humanidade inteira e que só vem piorando, dia-a-dia, vitimizando um número cada vez maior de gentalha.
Jamais entenderei a necessidade das pessoas em falarem o óbvio. Tá fila. Tá chovendo. Tá frio. Tá trânsito. Gentê. Eu estou na mesma merda que vocês, eu estou vivenciando a mesma porcaria de experiência que você nessa fila, nesse trânsito, nesse dia chuvoso. Eu não quero conversar contigo porque eu detesto conversar com estranhos. Então vamos combinar que você cala a sua boca e eu continuo com a minha calada. Olha que fácil.
Em alguns momentos eu dou graças aos céus por eu não ter nenhum poder sobrenatural. Porque eu adoraria, vez em quando, olhar para a cara das pessoas com fogo saindo dos meus olhos. Pra ficar bem clara a mensagem.
Temos como exemplo eu, hoje de manhã. às 6:15, para ser mais exata. Estava frio, escuro e eu nunca sou feliz tão cedo. Tinha que estar às 6:50 na Granja Fucking Viana, aquele bairro belo e distante onde só se chega através da Raposo Fucking Tavares. Eu dou aulas na Granja nesse semestre. Não estou feliz com isso, menos feliz ainda às 6 fucking quinze da manhã.
Pego o coletivo e vislumbro um lugar vazio. No afã de repousar minha bunda nem olhei para o lado para ver quem estava ali, simplesmente sentei-me. Ipod, música alta para acordar e maravilha. Quando vejo que a senhora ao meu lado falava sozinha. Hum, isso requer artilharia mais pesada, isso exige o kit anti ceresumanos completo: óculos escuros e olhos fechados para fingir que está dormindo. Tudo a postos, sinto um cutucão. Dois cutucões. Três. E uma voz à la professora do Charlie Brown. Abri os olhos com cara de simpática (not). Era a véia ao meu lado falando que estava trânsito. E pedindo para eu olhar para o trânsito.
Cara, eu olho para o trânsito todos os dias. Eu pego a Raposo Fucking Tavares diariamente em transporte coletivo. Eu SEI o que é o trânsito pois sinto esse maldito em minha alva pele todos os dias. O que fiz? Não dei atenção. Fechei os olhos de novo. Fui cutucada, DE NOVO. Abri os olhos mais uma vez e, dessa vez, a véia louca estava brava comigo porque eu tinha que olhar. Olhei. Falei com uma voz simpática (not) "Tá trânsito, e daí?". Ela pareceu entender o recado e voltou a falar sozinha. Mais tarde, cutucou a moça que estava em pé e as duas pessoas sentadas à nossa frente só para saber se ali era a Granja Viana.
Não me venham pedir compreensão com gente louca porque olhem, eu não sou obrigada a aturar gente lelé às 6 da manhã de uma terça-feira em que trabalharei DOZE horas. Porque o principal aqui não é que a véia é doida. Ou digna de pena. Ela só é sem noção, sofre desse mal que acomete a humanidade inteira e que só vem piorando, dia-a-dia, vitimizando um número cada vez maior de gentalha.
Jamais entenderei a necessidade das pessoas em falarem o óbvio. Tá fila. Tá chovendo. Tá frio. Tá trânsito. Gentê. Eu estou na mesma merda que vocês, eu estou vivenciando a mesma porcaria de experiência que você nessa fila, nesse trânsito, nesse dia chuvoso. Eu não quero conversar contigo porque eu detesto conversar com estranhos. Então vamos combinar que você cala a sua boca e eu continuo com a minha calada. Olha que fácil.
Em alguns momentos eu dou graças aos céus por eu não ter nenhum poder sobrenatural. Porque eu adoraria, vez em quando, olhar para a cara das pessoas com fogo saindo dos meus olhos. Pra ficar bem clara a mensagem.
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