quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Reflexão tardia sobre mágoa, amor, raiva e despeito

Outro dia eu li um texto de uma menina cuja história era mais ou menos essa: ela gostava do moço, mas o moço tinha uma namoradinha/pretendente/ficante/coisa que o valha. Não entendi de quem o tal moço gosta, mas o que me chamou a atenção foi a maneira como ela se referia à tal pretendente do pretendente dela: sem graça, sem sal, sem peito e sem bunda. Em outras palavras, ela estava morrendo de ciúmes do moço e com raiva da menina que tinha tantos predicados atraentes. Provavelmente a tal menina cheia de qualidades e atrativos nem era assim, tão sem graça. Ou talvez fosse, vai saber. O fato é que o ciúmes altera a visão e altera o nosso julgamento. Aí vem a raiva e coroa tudo com uma boa dose não só de amargor, mas também de inconformismo. E é nesse ponto que quero deixar clara a minha teoria sobre sentimentos positivos e negativos:

Dizem por aí que a raiva é o sentimento contrário ao amor. Eu acho que isso é um dos maiores engodos do campo sentimental, assim aquela bobagem de "amar é jamais ter que pedir perdão" ou "tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas". Tudo, tudo balela. Raiva passa. Pode até ter conseqüências desastrosas, mas passa. É aquele sentimento incontrolável, que te consome as entranhas e te faz pensar só naquilo. Percebam, essa definição também pode ser usada para paixão, portanto, eu acredito piamente que raiva e paixão são sentimentos opostos, mas que andam lado a lado. Então, o que é oposto ao amor segundo sua teoria inútil? - perguntam vocês, leitores pacientes. Oposto ao amor é a mágoa. É a mágoa que deixa marcas indeléveis, é a mágoa que faz sim com que você pense bastante na situação, mas não de uma maneira violenta, e sim de uma maneira... triste. E a tristeza pode ¨ser devastadora. O amor tem a capacidade de mudar uma pessoa, e equivalente a isso, só a mágoa. A mágoa também muda. Tão profundo quanto o amor, só a mágoa. E tenho dito.

Retomando o assunto do primeiro parágrafo, eu digo que entendo a atitude da autora do texto, de querer depreciar a tal pretendente do rapaz. É inútil, mas é humano. Aliás, é completamente e absolutamente inútil, mas também é inteiramente humano e geralmente compreensível e inofensivo. Não se trata somente de despeito. Trata-se da dor de olhar para alguém que está no lugar que você queria estar, que você tinha que estar, que você só não está porque a vida às vezes faz coisas idiotas. Trata-se da dor de querer estar naqueles braços, no lugar da tal pessoa depreciada (que, na verdade, não tem nada a ver nem contigo e nem com sua dor), e ter plena consciência do quão impossível é esse querer.

E é por isso que deixo aqui um poema da Elizabeth Bishop. Poema que li em algum blog da vida, e que me caiu como uma luva. Assim como eu descobri "Sympathique" do Pink Martini através de um scrap de um desconhecido na página de um desconhecido (e me apaixonei por Pink Martini).


One Art

The art of losing isn't hard to master;
so many things seem filled with the intent
to be lost that their loss is no disaster.


Lose something every day. Accept the fluster
of lost door keys, the hour badly spent.
The art of losing isn't hard to master.

Then practice losing farther, losing faster:
places, and names, and where it was you meant
to travel. None of these will bring disaster.

I lost my mother's watch. And look! my last, or
next-to-last, of three loved houses went.
The art of losing isn't hard to master.

I lost two cities, lovely ones. And, vaster,
some realms I owned, two rivers, a continent.
I miss them, but it wasn't a disaster.

---Even losing you (the joking voice, a gesture
I love) I shan't have lied. It's evident
the art of losing's not too hard to master
though it may look like (Write it!) like disaster.

2 comentários:

A. F. disse...

Concordo com você teacher sobre o ciúme e esse negócio de depreciarmos quem está no nosso lugar por um descuido da vida, que é mais idiota do que o necessário. Agora, poema em inglês eu não li. Depois daquela bíblia poética sobre Sampa, o açougue e as moças da vida, acho que had enough for a long time, rs...

The Big L disse...

clap clap clap...

Eu tô na fase da mágoa...