domingo, 18 de julho de 2010

Desastrada e desajeitada

Eu gostaria de ser uma pessoa de movimentos graciosos. Gostaria de andar pelas ruas com passos leves e soltos. Gostaria de ser uma pessoa que sabe ser charmosa.

Obviamente eu não consigo nada disso.

Eu tropeço no ar. Eu caio no meio da rua. Eu tenho roxos nas pernas porque bato nas quinas dos móveis. Outro dia eu tropecei nos meus próprios pés na esteira da academia, só não caí de cara naquele troço deslizante porque, apesar de ser desastrada, tenho reflexos rápidos. Meus movimentos não são friamente calculados mas 31 anos de quedas me fizeram ser rápida para segurar em coisas antes d'eu cair e segurar coisas antes delas caírem.

Quinta passada fui à Starbucks trabalhar. Estava um frio desgranhento nessa cidade, resolvi trabalhar me aquecendo com um copão de café. Coloquei um pouco de açúcar, mexi o balde cafeinado e fechei a tampa. Ou achei que tivesse fechado a tampa. Comecei a sorver aquela bebida quente e reconfortante mas algo estava errado: eu não estava sorvendo bebida alguma. Olhei para baixo e vi que tinha acabado de derramar meio copão de café no chão e na minha blusa de lã branca. Não me fiz de rogada: virei a blusa. Deixei a parte da frente pra trás, coberta pelo casaco. Problema resolvido, certo? Errado. Porque eu consegui derramar mais café, agora na parte de trás da blusa, que estava servindo de frente. Eu estava tão cafeinada que tive que comprar uma blusa nova, pois estava toda respingada de café e ainda daria aulas.

Meu namorado já se acostumou e, obviamente, sou motivo de chacota. Ano passado eu estava saindo de uma aula, cheia de materiais nos braços. Uma coisa sobre ser professora: você está sempre carregada. Ou com sacolas, te transformando numa sacoleira de muambas, ou com livros nos braços, fazendo com que você tenha dores nos braços. Pois bem, lá estava eu, carregada de coisas. Tropecei nos meus pés no meio da rua e dei um rasante no asfalto, espalhando materiais pra todos os lados. Já disse antes que sou boa em me segurar, mas não havia onde me segurar. Caí com as mãos espalmadas naquele asfalto bem cuidado das ruas paulistanas. Aquele asfalto cheio de pedrinhas e buracos. Minhas mãos ficaram raladas, meu joelho inchou. Pelo menos ninguém viu, porque já cansei de ser a alegria da galera das ruas. Eu caio, geral ri da minha cara. Acabou a gentileza nesse mundo.

Levantei, juntei meus materiais espalhados, peguei minha dignidade que foi parar lá na outra calçada e voltei a caminhar, cheia de dor. Liguei para meu namorado pra contar esse grande feito. Comecei falando "amor, você não vai acreditar no que eu fiz: caí no meio da rua". Eu esperava empatia. Eu esperava palavras de conforto. O que ganhei foi isso:

- Ué, não vou acreditar? E por que eu não vou acreditar? Eu não acreditaria se você me dissesse que não caiu.

Dignidade, moral. Cadê?

4 comentários:

tania disse...

Também sou assim, muito desastrada. E sempre que tropeço ou caio lembro de uma amiga do colégio, lá pelos nossos catorze anos, vaidosíssima, que sempre dizia: se um dia eu cair no meio da rua, finjo que desmaiei, pra ninguém perceber o vexame. Acabo rindo sozinha. Essa solução nunca me serviu...

Letícia Simoni Junqueira disse...

Meu último tombo foi no estacionamento do Outback. Comentário do marido: "ela caiu que nem uma árvore".

Sobre a gentileza do mundo: uma vez caí (aquelas quedas bonitas: comecei a cair na rua, atravessei a calçada toda desequilibrando e me estabaquei dentro de um estacionamento) e um velhinho desmanchando de tão velho veio me ajudar. Vou te dizer, a sensação de fracasso foi imensa, hahahaha!

Me dá um calorzinho no peito pensar que tem mais gente assim no mundo!

Nessa disse...

Eu te entendo!
E muito!

Beijos!

Aline disse...

Heheheheheheehehehe

Tb sou toda errada, vivo com manchas roxas, derrubo coisas. Meu namorado se diverte.
Até que faz algum tempo que não caio/escorrego/tropeço.