Comigo funciona assim: eu odeio com todas as minhas forças que desconhecidos em filas em geral, especialmente de banco, puxem papo comigo. Invariavelmente a conversa começará com uma opinião sobre a instituição financeira onde estamos acrescida de reflexões gerais sobre o mau atendimento do local. Em outras palavras: zzzzzzzzzzzzzz. Eu não sei participar desse tipo de conversa, principalmente porque não me interessa. E a pessoa que está tentando puxar assunto não quer conversar, quer apenas desabafar. Se eu cobro pra dar aulas, por que raios vou dar assistência psicológica gratuitamente? Vivemos nesse mundo capitalista, não é mesmo?
Mas, em contrapartida - e só pra ser paradoxal, porque paradoxos são legais - eu AMO ouvir a conversa alheia em filas. Porque quem bate papo em fila tem aquele talento que eu não tenho: o de abrir o coração com completos desconhecidos. Comigo, o papo nunca desenvolve porque a pessoa começa a
overshare e eu começo a entrar em desespero. E o esquema da conversa em filas é esse: uma vez passada a indignação sobre a instituição financeira, você começa a falar sobre outras coisas. E é aí que as pessoas começam a falar demais. Eu não gosto de participar das conversas mas tenho essa curiosidade quase mórbida sobre as pessoas e sobre suas vidas e, principalmente, por que elas são assim ou assado. Por exemplo: a louquinha do meu curso. Eu sou meio fascinada por ela. Porque cada maluquice que ela faz eu penso "gente, mas como pode? Por que ela fez isso? COMO ela falou isso? Cadê o filtro social? Será que ela foi criada com os lobos?". E por aí vai. Mas eu não quero conversar com ela e descobrir, até porque não sou psiquiatra, sabem? Então eu fico lá, fingindo que estou lendo alguma coisa, mas, na verdade, estou ouvindo o que ela está falando. E faço isso em todos os lugares.
Eavesdropping é uma arte, pessoal.
Ontem eu estava na aprazível (NOT) Caixa Econômica Federal, que nunca está lotada de gente em fila querendo conversar (NOT²). Uma hora e meia pra ser atendida. Uma senhora muito louca de verão tentou puxar papo comigo. Olhei pra figura: batom vermelho meio borrado, cabelos presos num rabo de cavalo no cocoruto, blusa de alcinha sem sutiã.
IMPORTANTE: eu morro de aflição de mulher que não usa sutiã. Invariavelmente os faróis da pessoa se acenderão em algum momento e aí fico super incomodada com aquelas coisas apontando pra mim (ou pros lados, ou pra baixo). Quando a mulher tem muchibinhas, então, tenho vontade de gritar "MY EYES MY EYES". Sutiã é legal, meninas. Sustenta, dá forma e protege sua intimidade. Porque sim, mamilos são íntimos. Não é legal mostrá-los por aí. Grata.
Então, voltando. Eu não dei trela pra senhora do cabelo de ninho de pomba louca e dos mamilos em riste. Maaaaaaaaaaas fiquei ouvindo a conversa. Obviamente. E aí deu-se o seguinte:
Mamilos: Mas a vida, né, menina. Uma loucura. Paro pra pensar e só penso que somos tão pequenos.
Senhorinha simpática: É, né...
Mamilos: Porque pensa bem, tanta gente no mundo, e a vida, que ninguém dá valor.
Senhorinha simpática: Também acho...
Mamilos: Porque olha. Uma coisa eu digo: um exame que todo mundo deveria fazer é colonoscopia.
Senhorinha: ...
Mamilos: Porque é um exame que te abre os olhos pra outras coisas, viu.
Senhorinha: ...
Amiguinhas telespectadora, vejam que conversa sensacional. Filosofia sobre a vida e colonoscopia, na sequência, sem nem dar tempo de pensar num link pros dois assuntos.
E é por esse e muitos outros motivos que eu prefiro ouvir do que falar.
Agora me ajudem: qual será o link que a Mamilos viu entre a vida e colonoscopia? A melhor resposta ganha uma mariola. 1, 2, 3, valendo!