sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Um ano

Eu sou boa com datas em geral e tenho boa memória para coisas marcantes. A ponto de lembrar até da roupa que eu estava usando, ou que outras pessoas estavam usando. Há um ano eu estava de jeans e com uma bata amarela. Estava um dia nublado, e eu achei que era uma boa ideia ir buscar o resultado do meu exame a caminho da aula da noite. Também achei que seria uma boa ideia abrir o exame no laboratório. Lembro exatamente da minha sensação de desespero e do chão se abrindo, das lágrimas pulando, eu lendo de novo pra ver se era aquilo mesmo. Uma senhora de cabelos brancos, sentada ao meu lado, me perguntou se eu estava bem. Mas o resto das pessoas, me vendo desesperada, chorando, com um exame nas mãos, não fez nada. Nada. Liguei pro meu marido, quis ir embora dali mas não tinha forças pra chamar um táxi. O segurança do laboratório me amparou até um táxi que parou, pediu ao motorista que cuidasse de mim. O motorista, me vendo chorar, repetia "pra onde vamos??????". Impaciente. Liguei pra Lilla, chorei desesperada, o motorista ouvindo e perguntando "Que caminho a senhora prefere?".

Os dias seguintes foram tristes e estranhos. Até hoje eu penso quase todos os dias da mesma maneira que comecei a pensar naquele dia, naquele 11 de outubro: "dos males o menor". Fiz muito esforço para não fazer drama, para ser positiva, para me manter bem, porque tudo isso é essencial. E todos os dias eu pensava "dos males o menor, que bom que não é um tipo pior de câncer, que bom que não farei quimioterapia". Eu precisava desse consolo. E preciso dele até hoje.

Um ano depois eu posso confessar que eu fiquei apavorada. Muito apavorada. Eu tive crise de ansiedade. Crises. Eu sabia que não ia morrer, mas é horrível saber que tem uma coisa daquelas no seu corpo, que pode se espalhar. Eu tive sorte de ter um tipo de câncer que raramente se espalha. Mas existe câncer de tireoide que é mortal. Existe sim. Ou quando ele está grande, ele passa pros ossos, e aí fode tudo. Eu não tive isso e sou agradecida por isso. Mas eu fiquei apavorada. Quando eu fiz a cirurgia acordei da anestesia, a médica veio me dizer que tiveram que tirar tudo pois eu estava com os dois lados da tireoide comprometidos. Eu chorei e ela dizia "você vai ficar bem...". Eu estava chorando de alívio. Puro alívio. Porque aquele monstro estava fora do meu corpo.

É essa a sensação: que você tem um monstro crescendo dentro de si. Um monstro que assusta você, e apavora quem está com você. Eu chamei meu monstro de Voldemort. Eu até brinquei que ia dar um avada kedavra no meu Voldemort pessoal e aquilo ia acabar. Mas meu Voldemort foi e deixou pequenas consequências físicas. E, claro, psicológicas. Quem lê meu blog sabe que 2012 foi um ano horroroso em todos os sentidos possíveis. Minha vida pessoal estava uma zona, minha vida profissional e financeira estavam indescritivelmente ruins, eu me sentia sozinha, me sentia desamparada.

Sei que estou dando voltas e voltas e não chegando a lugar nenhum, mas sabem quando você precisa escrever? Fico pensando que 2013 está sendo ótimo. Mas está sendo normal. Só que nenhuma desgraça aconteceu e eu tenho plantado bem meus frutos profissionais. É isso que eu queria: um ano normal.

Essa semana um aluno meu, novinho, 23 anos, estava me falando que tem crises de ansiedade porque não sabe bem como conduzir a própria carreira. Fiquei conversando com ele e ouvindo, e comigo pensando "se ele conseguisse ao menos imaginar o quanto a vida ainda vai dar uns tapas na cara dele e depois ajudá-lo a levantar...". Só falei "você vai ver que a vida vai simplesmente acontecendo e não temos controle sobre algumas coisas. Just let go".

O que ficou do que passei ano passado é que a vida é esse exercício diário de desapego. De deixar acontecer. Ainda estou aprendendo.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

O que vestir

Desde pequena eu sofro com a síndrome d'o que vestir. Lembro que eu deixava já separada na minha mente toda a roupa que usaria no Natal e Ano Novo, dos sapatos à calcinha - e eu tinha o quê? Uns 7, 8 anos? Era uma preocupação com estar bonita aliada à ansiedade da data e o fato d'eu não ter taaaantas roupas assim. Então eu tinha que deixar separada a que usaria, pra não repetir. Imagine, repetir roupa?

Os anos passaram, eu comecei a comprar minhas roupas, eu passei a ser uma das principais responsáveis pelo lucro da Renner e da C&A, e a síndrome continuava. Balada na sexta? Ai, meu deus, o que vestir? Jantar no domingo? Ai, meu deus, o que vestir? Ida ao parque? Ai, meu deus, o que vestir? Fico tensa até hoje - até porque pagar aluguel fez com que eu comprasse bem menos roupas - e sofro um pouco calada por não ter tantas opções de variações de modelitos. Porque, imagine, repetir roupa?

Tenho a festa de um amigo nessa sexta e já sei que precisarei de uma blusa nova para ir, porque com esse grupo de amigos já esgotei meu estoque limitado de peças. "Tenho" que comprar uma blusinha nova, né? "Preciso". "Mereço". Ops, esse último, sem aspas: mereço. MEREÇO. Tenho um casamento na outra semana, e é claro que a roupa está decidida, até porque é meu único vestido de festa. Mas sofri levemente quando fui convidada, porque é casamento no fim da tarde, e puxa, será que o longo é apropriado? E pro casamento de uma das minhas melhores amigas, em dezembro? Já tenho duas opções de roupas. Natal? Usarei o vestido que eu não usar no casamento da melhor amiga (é casamento informal, né, gentz. Não vou de longo pro Natal).

Tudo isso pra contar que eu entendo, perfeitamente, quando tenho esse tipo de diálogo com uma amiga:

Eu: Então, daqui DOIS ANOS provavelmente vai rolar esse evento tal, importante.
Ela: Legal!!!! E já sei até o que vestir.
Eu: Hahahaha, que bom!
Ela: Sim, e tenho duas opções de vestidos.

Amiga, eu te entendo. E estamos juntas nessa!

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

A piada em debate

Apenas assistam:


E aí me digam: O Facebook está ou não está igualzinho a essa sketch do TV Pirata?

A diferença é que nesse programa eles estavam zoando, e, no Facebook, o pessoal leva a sério.

E dá-lhe dizer o que acha de gente que ri disso ou daquilo. Já rolou essa polêmica sobre pode rir/não pode rir com basicamente todos os programas com humor da TV e da internet. Rafinha Bastos, Danilo Gentili, Pânico, e, agora, Porta dos Fundos. Já vi por aí discussões acaloradíssimas sobre esse último e sobre o quanto é overrated e sem graça. Porque se boa parte de um grupo de x pessoas não acha graça, você também não pode achar.

E tudo vira uma discussão politizada e embasada. TU-DO. E AI DE QUEM GOSTAR, porque quem gostar é isso e aquilo. Caras. Só digo uma coisa. Eu não recebi o memorando com a listagem daquilo que eu posso rir ou não posso rir. Basicamente porque eu rio da porra que eu bem entender. Eu tenho riso frouxo, e o fato d'eu rir disso ou daquilo não me torna racista e nem preconceituosa.

O último vídeo do Porta dos Fundos, onde há uma prostituta, é babaca. Não achei engraçado. Mas não achei desrespeitoso com as prostitutas. "Ah, mas trata a mulher como mercadoria". Gente, elas vendem sexo. Elas ganham a vida vendendo sexo. Elas pagam as contas delas vendendo sexo. O produto delas é esse, e, se no vídeo, uma delas anuncia uma promoção, ela está anunciando o que é dela e ponto final.

Os egressos do CQC são sem graça. Fazem piadas babacas. Mas desde que o mundo é mundo há gente fazendo piada babaca. A diferença é que antes não havia redes sociais pro pessoal disseminar o que é de seu agrado ou não. Eu não gosto. Acho os caras forçados. Então eu NÃO assisto, caralho. Não ou desenvolver uma tese de mestrado sobre os motivos de não gostar e ainda julgar quem acha graça naquilo. 

Saindo um pouco do âmbito dos humorísticos, hoje rolou um grande encontro de ruivas na Paulista. Eu sou ruiva falsa, e não fui. Não fui porque não posso pensar em nada mais chato e entediante do que me reunir com desconhecidas pra falar sobre meu tom de cabelo e trocar figurinhas sobre tintura. Eu acho chatésimo falar de esmaltes, por exemplo. Nunca entendi como podem haver tantos blogs falando sobre unhas, e meu pensamento sobre cor de cabelo segue a mesma linha. Mas, se os ruivos e ruivas querem se encontrar, danem-se eles e a falta do que fazer deles. É tipo encontro de cosplay. Acho uma puta perda de tempo e uma puta babaquice, mas se você curte e vai, BELEZA! Não estou chamando o cosplayer de babaca, estou só falando que fazer encontro disso é babaca. E é a MINHA opinião, que vale tanto quanto papel higiênico usado.

Aí hoje li um texto de uma moça condenando o encontro das ruivas e dizendo que há problema sim em um grupo de mulheres predominantemente brancas se encontrarem porque a supremacia da puta que que pariu, preguiça. A autora do texto escreveu de um jeito super professoral, deixando bem claro o quanto ela acha que as moças organizadoras do evento ruivo são burras. E não pensam. Porque ela começa falando "deixa eu explicar, talvez vocês não tenham percebido" - parece até que está sendo legal, mas meu cu, está é assumindo uma postura superior de quem sabe mais. Eu escrevo assim às vezes e, inegavelmente, quando escrevo assim, é porque acho a pessoa que vai ler burra. PAH. E aí a fia segue na ladainha do começo do mundo até os dias atuais e a desigualdade e enfim. Mano. Precisa mesmo? Precisa MESMO usar esse tom superior, essas palavras, esse jeito de escrever? Eu respondo: não precisa.

Um encontro de meninas que tingem (ou não) os cabelos pode ser apenas isso. Pode ser um propósito besta, mas pode ser só isso mesmo: um monte de gente com propósito besta. 

Estou bem, bem, beeeeem de saco cheio desse patrulhamento sobre o que eu posso ou não rir, sobre o que eu posso não ler, sobre o que eu posso ou não gostar. Por que cada um não cuida de seu próprio cu? E para de achar que sua opinião é soberana? O que me incomoda é que a pessoa não dá opinião. Ela dá opinião, julga o outro, xinga geral de burro e ainda dança uma lambadinha, tudo ao mesmo tempo. E aí o alvo da opinião fica puto da vida, porque, claro, ele precisa da aprovação das pessoas. É do ser humano, fazer o que. E aí rola esse ciclo vicioso da opinião contra e opinião a favor e "gosto mesmo, e daí?" e "tal coisa é overrated, como podem rir disso?". Minha gente. Ainda existe Zorra Total na TV porque AINDA há gente que ri daquilo. E vai-se fazer o que?

Cada um que ria do que quiser, critique o que quiser, viva o que quiser. Sem achar que é soberano por isso, por favor.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

O atraso

Tenho esse aluno muito coxinha que trabalha ali na Faria Lima. Pra quem não conhece, essa avenida é um inferno. Ela tem mais prédios comerciais que consegue suportar e o trânsito ali muitas vezes é impossível. Pra eu chegar na aula desse aluno pego a Faria Lima quase de ponta a ponta. Por causa do trânsito, às vezes não adianta sair de casa com antecedência: invariavelmente eu vou chegar em cima da hora.

Ontem eu cheguei atrasada. Tipo vinte minutos. O trânsito não andava desde a esquina de casa. Comecei a me desesperar. O aluno me mandando mensagens "vai conseguir chegar?"
Eu me desesperei ainda mais. Mandei mensagem avisando que descontaria esse tempo da mensalidade, pedi mil desculpas, disse que compensaria esse tempo depois. Ele é super certinho, devia estar emputecido.

Cheguei na aula, o aluno entra na sala sorrindo e fala "Calma, teacher, calma que seu atraso não tem problema algum, eu entendo!"

Ele quase ganhou um abraço. :)

É bom quando as pessoas são compreensivas. Empatia é quase amor.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Brevíssima retrospectiva

Sou uma das últimas 20 pessoas na internet que ainda tem blog diarinho? E que ainda atualiza o blog (não posto regularmente, mas posto)? Acho que isso mostra o quanto eu sou anacrônica com algumas coisas. As pessoas têm tumblr, usam o Vine, fazem videologs e usam o Twitter loucamente. Eu uso o Facebook, de maneira moderada. Uso o Twitter de uma maneira super bipolar. E escrevo aqui. Ontem eu me encontrei com duas moças queridas que conheci por causa do meu blog - isso ainda existe. Lá em 2007, quando comecei a escrever aqui, elas liam meu blog e eu lia o blog delas. Hoje em dia elas não têm mais blog, nem ligam pra isso, eu acho. Uma tem tumblr, a outra nem isso. E eu aqui, ainda registrando pensamentos aleatórios para minha meia dúzia de leitores. Será que parei no tempo?

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Desde 2007 eu vivi poucos amores. Mas bem frutíferos. Um que me fez mudar minha maneira de ver a vida, outro que me ajudou num momento muito difícil, e meu marido, amor da minha vida, que está comigo até hoje (e que continue assim amém). Meus amigos são os mesmos, com a benção de Nosso Senhor das Amizades Verdadeiras. Fiz amigos novos, é claro. Mas aqueles de anos, aqueles que uma vez me disseram que iam sair da minha vida (ah, aquela fase da stalker maravilhosa), eles continuam aqui. Sou feliz com as amizades que conquistei na minha vida. Cada uma delas. Sou feliz porque conquistei essas amizades e porque soube mantê-las - mesmo com tudo o que já me aconteceu. Acho isso uma coisa linda, mesmo. Amizades que sabem passar pelas dificuldades junto. De 2007 para cá eu soube quem é meu pai, eu fiz exame de DNA, eu conheci a família que não é minha de sangue, mas que me adotou - mesmo depois de velha. Eu perdi contato com muitas pessoas. Ainda não aprendi a "let go". Estou aprendendo, é uma luta diária. Ainda questiono todos os por quês do mundo. Das minhas relações. Ainda sou uma pessoa que pensa demais. Que analisa demais. E vejo que essas são características minhas - que não têm nada a ver com maturidade. Em 2007 eu tinha uma mãe meio ausente e muito brava, hoje em dia tenho a mãe mais doce do mundo. E presente. Perdoar é bom, viu, gente. Perdoem. E apesar d'eu saber que o perdão é bom, ainda não soube perdoar meu pai biológico. Um dia, quem sabe. Ainda não resolvi minhas questões com meus irmãos por parte de pai. Um dia, quem sabe. Mas superei câncer. Superei problemas sérios. Superei uma fase horrorosa no ano passado. Desde 2007 eu digo que minha palavra é resiliência. E continua sendo.

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Chill, bros

Em "O guia do mochileiro das galáxias", Ford Prefect - alienígena que estava há 15 anos disfarçado aqui no Planeta Terra - diz que a impressão é que os humanos acham que se fecharem a boca por poucos minutos seus cérebros vão parar de funcionar.

Com toda essa ferveção política das últimas semanas, a impressão que eu tenho é que algumas pessoas acham que se pararem de postar sobre política o tempo todo o cérebro delas vai parar e elas vão virar de direita. Ou de esquerda. Porque pra quem é de esquerda, ser de direita é ofensa e vice-versa. Então a galerosa politizadíssima tem que falar sobre seus pontos de vista e também maldizer a oposição ALL THE FUCKING TIME.

Pessoal que ama o PT acorda postando sobre o PT. Pessoal que odeia o PT acorda postando sobre o PT.

Tô quase postando no Facebook: "NEWSFLASH: seu cérebro continuará funcionando caso você não fale de política 24/7".

Quando algo que era pra ser interessante (política é interessante, vai) vira obsessão e agressão verbal o tempo todo, é melhor repensar e tomar aquela coisinha bacana chamada chill pill, sabem? Se não souber o que é, toma um prozaquinho que passa.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Segunda aula de tortura

Na semana passada minha professora fez conosco a yoga sauerkraut. Tá, não é esse o nome, sauerkraut é comida alemã. Mas o yoga tem um nome alemão que quando eu tento me lembrar, só me vem à mente isso: sauerkraut. Preguiça de pesquisar sobre o nome certo, pois pesquisei já sobre o hatha yoga e tudo me pareceu muito vago, então ficamos assim. Semana passada fiz sauerkraut.

Ontem foi hatha yoga. Que não vou explicar pra vocês o que é pois eu mesma não sei o que é. Só sei que o hatha yoga costuma ser mais dinâmico, as pessoas não ficam tanto tempo paradas no mesmo asana (postura). Vendo pela tv parece simples, né? Ficar lá, paradona na mesma postura. Gente. Não é NA-DA fácil. Primeiro que eu não tenho força nenhuma nos braços, então eles não aguentam meu corpo e eu começo a tremer feito vara verde. Quase caio em to-dos os asanas que dependem de sustentação com o braço. Ah, Camila, mas com as pernas é diferente, né, amiga? Com as pernas você aguenta.

Não, não aguento.

Minha flexibilidade é baixa. Alguns asanas dependem de ficar sobre um joelho, sobre um calcanhar, ou com os dorsos dos pés no chão, fazendo alguma outra postura com os braços, cabeça e mãos. Não aguento, meus pés começam a ter cãibras. Ontem eu senti vontade de chorar. Chorar mesmo, BUAAAAAAAAAA, não aguento, BUAAAAAAAAAAA tá doendo, BUAAAAAAAAAAAA não consigo nem respirar. Engoli o choro, claro.

Depois de tantas emoções e torsões, cheguei em casa. Dolorida. Exausta. Nunca me senti assim com academia - e olha que em 5 anos eu já fiz academia umas 5 vezes, totalizando uns 3 meses de exercícios. Mas sério, nunca me senti assim depois de malhar.

Eram 10 da noite e eu já estava na cama, tentando ler. Eu sou notívaga, não sinto sono antes da meia-noite. Capotei às 10 e meia, acordei só às 7 de hoje. Dormi direto, sem insônia, sem problemas. Só por isso o yoga já valeu o dinheiro investido.

No mais, só digo: yoga é difícil pra caralho.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

That's how I roll

Ontem foi minha primeira aula de yoga. E no meio daquela dificuldade toda de uma pessoa que está quase sem flexibilidade conseguir virar um pretzel, eu vi uma coisa. Uma moça com um sovaco tão cabeludo que eu tenho certeza que ela aduba aquilo ali toda semana. Não eram pelinhos de quem está há umas duas semanas sem depilar, e sim um considerável jardim de quem cultiva aquele matinho com carinho.

Foi o bastante para que os portões do inferno da minha cabeça se abrissem e eu começasse toda uma sessão de questionamentos silenciosos do tipo: "mas e o suor no verão, faz como?", "e o cecê, minha gente?" ou "mas é protesto? É contra o patriarcado? Ou será preguiça?".

Vejam bem: o sovaco é da moça. Eu não tenho nada a ver com os cabelos dela. Mas não consigo não ficar pensando em todas essas coisas. E penso demais assim em qualquer situação. Qualquer coisa diferente que vejo, qualquer pessoa mais fora do padrão que vejo e lá estou eu, obcecando em elucubrações.

Aí passou a obsessão do sovaco cabeludo alheio. Beleza, tô lá sentada num calcanhar e levantando o outro pé. Tá super confortável, tá uma delícia, quando começo a sentir aquele doce aroma de chulé. O cheirinho vinha dos tapetes de yoga. Não era dos meus pés, tenho certeza, porque uso um produto que bloqueia o suor E o chulezinho (Dr. Scholl FTW).

Mais uma vez os portões se abriram. "Mas por que não lavam os pés antes da aula?", "será que não podiam deixar álcool gel na sala e cada um limpa seu pé com toalhinha?", "acho melhor trazer meu colchão na próxima aula, mas ninguém traz, e se me acharem esnobe? E se chulé for algo que se compartilha na yoga?".

E assim foi minha primeira aula de yoga. Metade da aula eu me perdi com as posturas e a outra metade me perdi na minha pequena loucura.

terça-feira, 30 de abril de 2013

Beber vinho em casa

=

ser possuída pelo ritmo ragatanga e querer sair dançando pela sala toda e qualquer música minimamente "sedutante".

Na última vez em que bebi sozinha, quando percebi estava assistindo vídeo-aula de como fazer todos os passos de "Love on Top". Por razões meramente alcoólicas isso não deu certo, aí fiquei cantando "Irreplaceable" incessantemente. Essa música está no meu top 5 Beyonça, e se você discorda, to the left, to the left.

Mas sempre termino essas maravilhosas sessões à base do néctar dos deuses (vinho, geite) com QUALQUER COISA do Justin Timberlake. Pode ser Justin de cueca tocando piano, sério, tá valendo. Justin, parabéns por ess saúde maravilhosa.

No momento estou na parte de Irreplaceable. É um ciclo importante. Beijos.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Herança materna

Minha mãe me ensinou a arrumar a casa quando eu tinha uns 8 ou 9 anos. A cozinhar acho que foi antes, porque eu queria aprender a fazer bolo. Comecei com bolos de caixinha, depois pros tradicionais mesmo. Quando eu tinha 11 anos, meu irmão nasceu. E, aos 12, eu sabia não só fazer de tudo dentro de casa - faxina, comida, passar (inclusive camisa social) - como também sabia cuidar do meu irmão, que era bebê. Aprendi tudo por necessidade, mas minha mãe dizia que eu tinha "que saber me virar" sozinha. Que tinha que ser independente. Que tinha que saber cozinhar pra não ficar com fome e tinha que saber arrumar e limpar a casa porque casa bagunçada demais é coisa de gente porca.

Durante muitos anos eu não dei valor ao fato de saber cozinhar. As pessoas sabiam dos meus talentos domésticos e de faxina porque eu sempre reclamava de ter que passar os meus sábados limpando a casa junto com minha mãe, mas eu não comentava sobre cozinhar porque não cozinhar era meu ato de rebeldia numa fase de relacionamento difícil entre mim e minha mãe. Eu tinha tantas obrigações em casa, inclusive financeiras, não ia ter mais uma. De jeito nenhum. Além disso, comida de mamãe é coisa linda, né. Eu não cozinhava por rebeldia mas também porque mamis sempre, sempre cozinhava. E a comida era sempre boa.

Anos se passaram, eu cresci agora sou mulher tenho que encarar com muita fé, e comecei a namorar meu marido. Quando ele vinha pra São Paulo, eu cozinhava. Porque minha mãe não tem obrigação alguma de cozinhar pro casal apaixonado, né? Aí, vez ou outra, eu ia e cozinhava. E uma chama foi se reacendendo. Eu sempre achei cozinhar muito legal, quando era criança passava horas vendo livros de receitas com figuras lindas e apetitosas. Comecei a cozinhar, timidamente, pros amigos. Um risoto pra minha prima, uma torta de limão pra amiga de coração partido. Ah, vai ter almoço na casa da Renata? Eu levo a sobremesa. Pavê. Mousse. Torta.

Quando me casei, cozinhar se tornou necessidade. Mas também prazer. Eu cozinho porque comer é necessidade básica do ser humano e sair pra comer sempre é inviável - engorda e empobrece. E como eu realmente gosto de cozinhar, como a chama se reacendeu e virou uma fogueira, eu procuro arriscar, tentar muitas coisas diferentes. Eu gosto de saber sobre a culinária de outros países e gosto de experimentar coisas fora do trivial. Meu marido também. Então, por que não tentar? E nisso a coisa vai evoluindo. E você vê que como cozinha desde criança, como cresceu vendo a mãe cozinhar, como vem de uma família em que o avô cozinhava bem, os tios cozinham bem, as tias idem, algumas primas também e até o irmão preguiçoso se arrisca na cozinha; cozinhar não tem aquela pecha de "oooooohhhhh, que difícil". Você lê a receita, vai lá e faz. Se der errado, paciência. Se der certo, maravilha.

As pessoas falam pra mim "uau, tá cozinhando muito, aprendeu agora?". Não, eu sei cozinhar desde pequena, por isso, talvez, seja algo simples pra mim. Também falam "fica exibindo seus pratos em fotos, né?". Fico mesmo. Tenho orgulho do que faço, geralmente fica gostoso, por que não tirar foto? Não é pra fazer inveja, porque não tenho 12 anos, e nem pra mostrar como eu cozinho bem e sou independente e etc, porque não tenho 12 anos. É só porque sinto orgulho de saber usar as mãos pra fazer comidas gostosas. É porque cozinhar me deixa mais próxima à minha família, me faz lembrar da minha avó e do meu avô, é porque eu acho que existe uma bagagem sentimental enorme no MEU ato de cozinhar. Quando eu cozinho pros amigos, pra família, pro meu marido, pra mim, é um ato de entrega, um ato de amor. Se eu falar que vou cozinhar pra você, tenha certeza de que eu gosto de você e que farei algo de coração mesmo. Então por que não mostrar as fotos de coisas que fiz com tanto amor?

Além de tudo isso, eu acho que saber se virar na cozinha é importante. É necessário. Já vi pessoas se orgulhando de não saber fazer nada na cozinha, e eu acho que essas pessoas são meio burras, na verdade. Porque não tem orgulho nenhum em ter que gastar horrores em restaurantes. Nossa cidade está absurda de cara. Saber fazer uma omelete, um macarrãozinho alho e óleo podem salvar. É só tentar, começar, e saber que todo mundo erra.

No fim, agradeço minha mãe por me fazer ser independente em casa. Por ter me ensinado como lavar, passar, limpar e cozinhar. Porque ela NUNCA me falou que seria importante pra quando eu me casasse. Ela SEMPRE me falou que era importante pra eu ser independente em casa. Essa é uma herança que levarei comigo pra sempre. Ser independente na vida é o máximo, mas dentro da sua casa é tão bom quanto.

quinta-feira, 21 de março de 2013

Da delícia de voltar pra casa

Cheguei às 3 e tantas da manhã, meio bebinha, feliz e cansada depois de ter dançado por algumas horas. Tomei meu banho e deitei. Ele estava lá há algum tempo já. Tinha ido dormir antes mesmo d'eu sair. Assim que deitei ele se virou pro meu lado, me abraçou e fez a conchinha em que dormimos todas as noites, há dois anos e meio.

Voltei às 3 da manhã e quando saí da balada, com meu amigo, falei "quero ir embora porque estou cansada, mas também porque estou com saudade do Thiago". Não sei se as pessoas ficam com vontade de vomitar quando falo essas coisas muito fofas de relacionamento, mas meu amigo pareceu levar numa boa. Ele é um fã desse casal Camila e Thiago. Então acho que falar aquilo foi ok. Além disso, eu sou bem reservada no quanto exponho meu relacionamento - tanto a parte boa quanto a parte ruim - então quando eu tropeço e solto uma fofurice acho que é tranquilo.

Nós fazemos coisas separados. Não é um hábito, tipo "vamos combinar que toda semana faremos algo separado". Até porque trabalhamos tanto, quando chega o fim-de-semana o bom mesmo é "ficar no grudado", sabem? Mas sábado passado ele teve um encontro de meninos e Rockband que durou o dia todo, eu tive um almoço de Saint Patrick's day o dia todo, e quando voltamos eu já me arrumei para sair e ir ao aniversário de uma amiga. Acho muito bom fazer coisas só minhas. Acho muito bom ele fazer coisas só dele. Mas acho que sabemos que estamos no caminho certo quando fazemos nossas coisas mas ainda assim sentimos aquele friozinho na barriga em voltar pra casa. Nem que seja pra cair na cama e dormir de conchinha.

É sempre bom voltar pra casa. É sempre bom voltar pra ele!

segunda-feira, 11 de março de 2013

O caminho do meio

Tem me assustado muito o quanto o mundo anda polarizado. Preto ou branco. Sim ou não. Direita ou esquerda. Amor ou ódio. Outro dia li um tweet de alguém que dizia que estamos esquecendo dos milhares de sentimentos que existem entre o amor e o ódio. Venho pensando nisso há dias.

Eu não sou a favor de radicalismo nenhum. Nem religioso, nem político, nem alimentício, nem de nada mesmo. Eu acho que o radicalismo cega. Mas quem escolhe ser radical escolhe isso, né? Escolhe ser cego e tomar a sua verdade como a verdade absoluta. E não quer nem saber de opiniões contrárias porque quem pensa diferente só pode ser burro.

Fico incomodada com os ativistas pró vegetarianismo que consideram qualquer comedor de carne um assassino cúmplice de crimes. Fico incomodada com o pessoal de esquerda defendendo o PR cegamente e acusando a direita. Fico incomodada com a direita atacando tudo o que o PT faz e só apontando o dedo pra tudo que eles acham que é merda. Fico incomodada com a militância religiosa pró Jesus mas me assusta bastante a ATEA e similares defende do o ateísmo e considerando pessoas de fé como pessoas burras. Fico incomodada com i fato de, em seus radicalismos, não verem que o problema não é a fé, e sim justamente isso: o radicalismo.

Ando bem incomodada com o mundo em geral. Com o fato de hoje em dia ser quase um crime você querer não ser radical. Eu opto sim pelo caminho do meio. Não tenho problema nenhum em me posicionar. Só não quero comprar a ideia de ninguém e ficar cega apenas acusando o mundo ao meu redor.

Seria possível?

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Escova a laser

Numa dessas promoções do Groupon eu comprei uma tal de escova progressiva a laser. O preço normal era mais de 500 reais e, na promoção, ficava em torno de 59 incluindo uma hidratação. Pela descrição, meus fios ficariam como fios de seda fiados por freiras manetas do alto das montanhas sagradas, então comprei. Tenho fios mais lisos, mas tenho muuuitos fios novos, que nascem arrepiados e me dão aquele aspecto de ter uma jubinha quando não estão domados.

Achei aquilo de escova a laser uma inovação, uma maravilha. Pensei que seriam tipo sabres de luz potentes que, ao serem passados em meus cabelos, já os deixariam domados, brilhosos e incríveis. Cheguei ao salão e vi que estava rolando uma linha de produção das progressivas. Ok, afinal, quem não curte uma pechincha? Ainda mais se for para Luke Skywalker das produções capilares passar o sabre de luz (no pun intended) nas minhas madeixas?

Quem me atendeu foi um travesti. Não sei se já comentei aqui, mas tenho a maior simpatia por travestis. Queria ter uma amiga trava mas nenhuma quis ser minha BFF até hoje. Pensei que aquela moça me deixaria incrível e maravilhosa. Até que ela começou a lavar meus cabelos. Lavar não, puxar os fios embaraçados como mãe que quer desembaraçar seus cabelos quando ela está brava com você. DOÍA. Olha, eu lavo meus cabelos diariamente e passo shampoo de duas a três vezes. Eu sei que é possível lavar os cabelos sem sentir dor.

Fomos lá pra cadeirinha e eu ansiosa pensando no holofote laser a que eu seria submetida, quando Rafa e suas mãos tão suaves quanto a de um lenhador começou a passar um produto. Que é basicamente o mesmo produto que passam em mim em escovas tradicionais. Cadê a porra do laser? Pensei "ah, vai ver é só depois de seco, tipo uma chapinha com laser selante (??)". Eis que a fia começa a secar com secador. Puxando como se estivesse puxando cera de depilação, sabem? Aquela força. E encostava o secador pelando no meu couro cabeludo, queimando. Eu tava quase chorando.

E cadê a porra do laser?

Até que perguntei. E descobri que a escova progressiva a laser é APENAS uma escova progressiva normal em que, no final, eles passam um aparelhinho de luz azul nos fios. Sem nem encostar neles. Parece que estão dando passe com uma luz azul. Nada de holofotes, nada de sabre de luz. Nem de Luke Skywalker. E ainda tive meus cabelos puxados.

"Ah, mas você pagou só 59 reais".

Não. Paguei mais 50 porque o produto que eles passam é daqueles de deixar 3 dias nos fios. Não posso com isso, isso faz mal. Aí, pra que eu pudesse lavar os fios quando quisesse, deveria passar um neutralizador, que custava 50 reais.

Fica a lição. Escova a laser é non ecxiste e promoção de progressiva do Groupon é coisa do capeta.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

O tal do hormônio

Fevereiro foi um mês incrível. Logo no primeiro dia meu endocrinologista viu a última leva de milhares de sangue que fiz pós cirurgia e ouvi as palavras mais belas que eu poderia ouvir de um endocrinologista: "seus exames estão ótimos, seu TSH está baixo e por esse outro resultado aqui posso concluir que não há resquícios de células tireoidianas no seu organismo. Vamos aumentar a dosagem do hormônio pela última vez".

O TSH é o hormônio que estimula a tireoide. Quando ele está alto é sinal de hipotireoidismo, aquela doença em que você acumula líquidos, incha, sente muito sono e muito cansaço. É o que eu tinha. E por esses sintomas foi que eu procurei o médico, e por causa dessa ida ao médico foi que descobri o câncer. Esse tipo de Voldemort não dá sintomas. Eu podia não ter descoberto ele por anos. Foi por causa dos sintomas do hipotireoidismo que, indiretamente, eu descobri o que tinha que descobrir. Er... Obrigada, herança genética de hipo?

Agora que não tenho mais tireoide, tenho que tomar hormônio sintético todos os dias pro resto da vida. Tive sorte de chegarmos à dosagem quase certa em cerca de um mês e meio. Até chegar a essa dosagem eu estava bem lerda. É um cansaço que te dá e você não sabe de onde vem, só sabe que seu corpo não reage mesmo que você queira levantar do sofá e agitar todas.

Em fevereiro, com a dosagem certa de hormônio, foi que eu percebi há quanto tempo eu estava mole, lerda e não sendo eu mesma em algumas coisas. No ano passado eu passei por muita coisa ruim, mas havia um algo a mais ali, uma indisposição constante, um desânimo constante, que eu não entendia. Seria início de depressão? Não sabia.

Muito era tristeza mesmo. Mas havia uma boa parcela de problemas físicos mesmo. A disposição que tenho agora é algo que eu não tinha há um bom tempo. Não sou uma pessoa agitada "vamos acordar às 7 no domingo e caminhar", mas não sou também aquilo que eu estava no ano passado.

Nunca pensei que fosse tão bom ter a dosagem hormonal certa. Eu volto a me reconhecer em mim mesma. Sinto que volto a ser quem eu não era há algum tempo e eu sentia falta desse eu. Por isso, crianças, cuidem bem de suas tireoides. Vocês não imaginam o quanto o bom funcionamento delas é importante. :)

domingo, 27 de janeiro de 2013

Fotonovela: um dia paulistano

Sexta-feira, 25 de janeiro, aniversário de São Paulo. Um dia lindo lá fora, mas a preguiça aqui dentro de mim era grande. Amo muito ficar em casa, mesmo quando tenho que limpar, lavar e etc - coisas que tive que fazer no feriado. Meu marido começou a ficar igual criança impaciente que quer ir pro playground. "O dia está lindo, vamos dar uma volta!". Aproveitando que eu estava num dia hormonalmente funcional (por causa da tireoidectomia e reposição hormonal eu tenho me sentido muito cansada e indisposta), decidimos ir pra Liberdade.


Logo na saída do metrô do bairro tradicionalmente oriental, índios bolivianos davam um show. Um chinês muito fora da casinha estava alucinado cantando e dançando. Não sei o que estava melhor: o show dos índios ou o show do chinês.



Hum... O melhor mesmo era esse menininho aqui ó:




Catem esse estilão! Ele era lindo e muito fofo. Até quando a mãe dele arrumava sua fantasia ou cabelo ele conseguia ser muito fofo.



Ele até encantou uma moça que acabou ficando toda torta pra tirar foto dele.


Eu tenho uma memória fotográfica insuportavelmente boa. Quando estava postando essas fotos no Facebook, vi que essa moça aí é uma conhecida moça de Twitter/redes sociais/internet. Fui ao Instagram dela (ela é bem conhecida) e pá! - lá estava a foto que ela tirou do menino lindo. Contei a ela que eu tinha essa foto, ela pediu para ver e postou-a na página dela. Coincidências dessa cidade que é enorme mas que às vezes parece um ovo. No meio da multidão e de um monte de lugares para ir e ver, você acaba vendo um rosto conhecido da internet. Ou conhecido de conhecido mesmo - já aconteceu comigo muitas vezes.





Depois de ver o show, fotografar o pequeno artista (e os grandes também) e de dar uma colaboração monetária para que eles continuem a tocar músicas típicas e não Celine Dion na Praça da Sé, ficamos com fome e procuramos algum restaurante aberto. Thiago queria me levar num lugar chinês com uma sopa de noodles excelente.





Achamos o restaurante. Na fachada, fotos dos pratos. Nome em chinês - nenhuma informação em português. Entramos e perguntei à garçonete, chinesa, qual era o nome do local. "Chinês" - ela respondeu. E só. Fizemos nosso pedido. Sopa de camarão e guioza. Pessoas começaram a chegar ao restaurante e, no fim, éramos os únicos ocidentais. Todos falavam chinês, exceto nós, claro. Todos começaram a ser servidos antes de nós. Eu e Thiago absolutamente hipnotizados por tudo ao nosso redor, nem ligamos para o fato dos nossos pratos demorarem mais. Estávamos nos sentindo turistas e estrangeiros, estando em nossa cidade.


E lá estávamos nós, num restaurante sem nome em português, cercados por imigrantes chineses que eram servidos bem antes que nós. A garçonete não entendia muito bem o que falávamos. Os pratos das outras mesas eram bem mais vistosos. Mesmo assim, comemos o melhor guioza da nossa vida. E a sopa de camarão estava deliciosa!

Restaurante chinês, com cardápio em chinês, rodeada por chineses, no meio de São Paulo. Podem falar o que for dessa cidade, e provavelmente tudo o que falarem de mal é verdade. É feia, é cinza, é caótica, é cansativa. Mas é acolhedora. É aqui que essa colônia chinesa consegue não só viver mas preservar, de certa maneira, sua cultura. E é assim com várias culturas. E milhares, milhões de pessoas de outros estados.

São Paulo acolhe sim. E nem é só pelo trabalho. É uma bagunça tão grande, um caos tão grande, que no final ela só fala "vem, gente, cabe mais um, a gente dá um jeito". E assim, a cidade que acolhe a todos cresce de maneira desorganizada, parecendo mesmo um cortiço daqueles da Mooca, onde é aquela zona enorme (meus avós moraram em um cortiço - foi lá que se conheceram - então eu tenho histórias sobre a bagunça toda!), com tudo misturado, com famílias misturadas, sem planejamento algum - mas onde as pessoas se ajudam de certa forma.

No fim, sempre lembro do Anthony Bourdain num episódio que gravou aqui na cidade. Ele começa dizendo que, à primeira vista, tinha odiado aqui. Tudo cinza, tudo concreto. Aí conheceu as pessoas, e os lugares, e levarem ele pra comer aquele sanduíche, aquele espetinho, tomar aquela cerveja, comer aquela feijoada. Com gente legal, que abre a casa, que faz caipirinha. No final, ele estava apaixonado por São Paulo. 


Eu amo minha cidade sim. É onde nasci, cresci, onde posso fazer várias coisas e onde, sem luxos, eu vivo bem. Odeio com todas as minhas forças a especulação imobiliária alucinada que faz com que cobrem 5000 de aluguel num apartamento de 3 quartos e menos de 100m², odeio todo o caos dos transportes públicos, odeio o trânsito e o fato de tudo virar um inferno quando caem 5 pingos de chuva. Ainda assim, foi essa cidade que acolheu meus bisavós quando vieram da Itália. Foi aqui que meu avô conseguiu construir uma casa pros 4 filhos. Aqui foi onde minha família toda cresceu, sempre viveu. Foi essa a cidade que acolheu meu marido tão bem.


Sim, não tenho como não amar São Paulo.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

True Story


Coloquei isso hoje no Facebook:

Por tudo que é mais sagrado pra vocês, parem de compartilhar fotos de animais que sofreram maus tratos. Apareceu aqui uma sequência de fotos de um gatinho que me fez chorar de desespero. Compartilhar foto de agressores mostrando o que fizeram é dar moral pros caras e fazer gente que tem coração passar mal.

Encaminhem fotos pra delegacia de proteção aos animais. Isso sim é fazer algo que preste.

E não é?

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Update do post anterior

Anônimo que comentou que lê meu blog e gosta, obrigada!!!! Eu entendi seu comentário, não achei sua pergunta sacanagem não. Mas acho que pra você não apareceu a imagem. Aquele parágrafo era referente a uma imagem! Sem a imagem fica estranho mesmo. :)

Dani, eu e ele nem temos mais contato, duvido que ele saiba direito o que é blog e ele nem sobha que eu tenho um. :)

Sunday secrets on Tuesday


Só que eu imagino que é o Anthony Bourdain. Porque Bourdain é amor e sarcasmo, sem gritaria. E aí acho que Tony, além de elogiar minha comida, vai sentar-se à mesa, curtir a refeição enquanto trocamos figurinhas sobre a vida, sobre os lugares que ele visitou, e aí ele riria das coisas que meu marido conta. No final ficaríamos embriagados e ele diria que somos os melhores amigos dele. Da vida. Toda.



Preparem-se para a loucura. É assim. Meu melhor amigo de infância é meu meio irmão. Mas quando éramos amigos, não sabíamos que éramos irmãos. Mas nos tratávamos como irmãos, de verdade, de tão amigos que éramos. Eu só soube disso depois de adulta. Eu ainda não sei o que ele sabe, mas não sei o quanto ele sabe e nem se ele sabe que eu sei. E depois as pessoas acham que eu exagero quando eu digo que minha vida daria um filme do Almodóvar. Sim, o que contei aqui é real.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

34

Leio no Facebook as primeiras mensagens de "Feliz aniversário" e a mensagem privada perguntando onde vai ser a comemoração e me pergunto: "como cheguei aos 34 tão depressa?". Não sei. Só sei que esses 34 voaram. Eu pisquei e estava com 30, pisquei de novo e cá estou. Lembro-me de ter brincado muito aos 24 dizendo "daqui um ano terei um quarto de século". Daqui um ano terei 10 anos a mais que um quaro de século. Só não calculo a relação entre 100 e 35 porque bem, sou professora de inglês, se manjasse de matemática estaria sendo uma engenheira ou coisa assim. (desculpinha)

O pior dos 34 não é a disposição cada vez menor, a paciência cada vez menor, a maturidade, as rugas mais evidentes, vasinhos nas pernas mais estourados e os peitos mais caídos. O pior dos 34 é sentir-se com 29. Não me sinto com essa idade toda. Minha referência de 34 anos é mulher já estável na vida e com filhos. Que estabilidade uma professora particular tem? Filhos só daqui 2 anos no mínimo por causa do câncer. Nem que eu queira agora posso engravidar.

Minha mãe com a minha idade já era minha mãe há 11 anos. E já tinha o meu irmão há um ano. Eu me lembro claramente da minha mãe com a minha idade. Ela era uma mulher. Com responsabilidades enormes, gigantescas. Ela não estava fazendo as mesmas brincadeiras que fazia aos 25. Não estava pensando em sair pra dançar com o marido e amigas no fim-de-semana. Eu estou pensando nisso. Penso também que precisarei dormir à tarde no sábado para aguentar ir até de madrugada, mas isso é nada.

A impressão que tenho é que como estamos vivendo mais, estamos deixando pra envelhecer depois. Mentalmente, eu digo. Porque fisicamente a ladeira está lá, só levando minha carcaça pra baixo. Mas mentalmente eu tô tchutchuca ainda. Sabem? E nem me venham com a ladainha de "idade é coisa de cabeça" e "o que importa é que você aproveite a vida". Preguição. 

Então tô aqui, balzaca, sem a menor possibilidade de engravidar agora, ou plantar uma árvore, ou escrever um livro, ou comprar uma casa, todas coisas que todos dizem que enobrecem a alma e nos tornam mais maduros. Sinto-me jovem ainda, jovem ainda. Mas consigo sentir também o peso da idade. Queria ter meus 29 de novo. O frescor dos 29. Com menos rugas e mais chance de poder comer brigadeiro no dia do aniversário sem culpa nenhuma. 29 e a vida que tenho hoje. Não seria nada mal.