(...) Já não sinto amor,Nem dorJá não sinto nada... Socorro alguém me dê um coraçãoQue esse já não bate e nem apanhaPor favor, uma emoção pequena,Qualquer coisaQualquer coisa que se sintaTem tantos sentimentos,Deve ter algum que sirva... (...)Quando coisas muito sérias acontecem, mudam a pessoa pra sempre. E foi isso que aconteceu comigo e foi isso que eu percebi ontem. Eu não perdi meu coração e nem a capacidade de amar, obviamente. Nem de me emocionar, nem de chorar, enfim, eu ainda posso me encaixar no meio dos 6 bilhões de pessoas perdidas nesse planeta sem sentido. Mas eu sinto tudo de maneira diferente hoje em dia. Parece que não me abalo mais por nada - e isso vindo de alguém que já foi considerada "the queen of the drama queens". E me assusta um pouco essa nova versão de mim porque eu não quis isso, eu não me esforcei por isso. Simplesmente aconteceu. Acho que não tem como passar pelo que passei sem entrar em crise e sair dessa crise bem diferente de antes. Não tem como ser a mesma depois de saber quem é o pai aos 29 anos de idade. Não só saber quem é, como também saber que ele é aquela figurinha desprezível que você odiava na infância. E, depois de 3 semanas, saber que ele já morreu. E que não foi te dada a chance nem de cuspir na cara dele e dizer "seu covarde nojento". Acho que era só isso que eu falaria pra ele.
Não, não tem como não ser outra pessoa depois disso. E a verdade é que nesses dois meses eu me esforcei tanto pra reorganizar tudo dentro de mim e seguir em frente que acho que não coloquei tudo de volta no mesmo lugar. Eu mudei tudo aqui dentro. Mudei e ainda não entendo essa nova organização. Porque parece que nada mais me afeta. Parece que eu posso até ficar triste, posso até chorar, mas sofrer como eu sofri, nunca mais. Tudo tem outra dimensão hoje em dia. O que antes poderia ser motivo de desespero, hoje em dia eu olho e penso "caralho, que merda, vou ter que resolver essa porra" (minha capacidade de falar palavrões foi mantida intacta, como vocês podem ver). Tenho medo de me tornar uma pessoa insensível com os outros e com os problemas alheios porque aquela máxima de "só não tem jeito pra morte" faz todo o sentido pra mim. E isso tem um lado bom, aquele em que eu sou muito mais forte do que antes. E tem seu lado ruim, aquele em que tenho que entender que o que é pequeno pra mim é enorme pra outra pessoa e eu devo respeitar isso até o fim. Acostumar-me com essa maneira de enxergar as coisas tem sido estranho.
E justamente agora, nessa fase de me erguer e seguir em frente, eu sou dispensada da empresa onde prestava serviços. Ontem, por telefone. Nunca me senti tão desrespeitada profissionalmente. Estou até agora com vontade de ir até lá e bater na cara da vadia do RH, que é vadia, é anti-profissional e é covarde - ao invés de chamar lá e me dispensar ao vivo, ela mandou a porta que ela contratou como assistente me dispensar - por telefone. Não só a mim como também a professora de Espanhol que está lá há cinco anos. Eu nem devia estar brava ou surpresa com essa atitude. Estamos falando de uma gerente de Recursos HUMANOS que dispensa uma grávida de 7 meses. A filha da professora de Espanhol está grávida e foi dispensada há dois meses. Até agora não fizeram a homologação. Chamaram-na para isso segunda passada, ela foi, e, chegando lá, mandaram-na de volta para casa dizendo "Não tem como ser agora, terá que ser daqui 15 dias". Só se for na maternidade, porque a moça está prestes a parir.
Portanto, numa empresa que contrata uma desclassificada grossa e sem sentimentos como gerente de Recursos HUMANOS e aceita que ela dispense funcionária grávida, dispensar uma mera prestadora de serviços por telefone não é nada. Idiota eu que ainda não consegui me acostumar com o fato de ser, eu, uma empresa. Idiota eu que ainda colocava sentimento no que fazia. Idiota eu que me deixei ser enrolada sem contrato assinado. O resultado disso é que a partir de julho não recebo mais boa parte da minha renda mensal. Claro, eu posso arrumar alunos particulares, mas o que eu cobrava da empresa é mais do que cobro de particulares. Empresa paga hora/aula um pouco inflacionada.
E aí, depois de receber a notícia por telefone, o que eu fiz? Fiquei puta. Umas três lágrimas de ódio escorreram, e só. Depois, falando com alguns amigos, eu até fiquei engasgada. Mas choro mesmo, sofrimento, não houve. Em julho não tenho mais salário, não tenho mais empresa, não sei como farei pra pagar minhas contas. Mas ao invés de me desesperar e gritar e chorar eu fui ao cinema. Já tinha marcado e não vi motivo pra desmarcar. E aí jantei e dei risada e adorei o filme. Foi ontem que me caiu essa ficha de que tudo tem uma dimensão e um tamanho completamente diferentes pra mim hoje em dia. Porque em outros tempos eu ficaria em casa chorando. Agora nem chorar eu choro. É muito estranho.
Ainda desejo à Vadia do RH uma vida longa, bem longa, de bastante sofrimento. Espero que a pele dela fique horrível e nem Botox dê jeito e que todo dia seja
bad hair day pra ela. Espero que, em breve, os diretores percebam as arbitrariedades dessa bruaca oligofrênica desclassificada cafona e ela seja mandada embora. Por telefone. Junto com todas as amiguinhas dela que ela colocou pra trabalhar lá. Amiguinhas que nem passaram por nenhum teste de admissão. Pra quê competência se sua amiga é a gerente de Recursos Humanos, né? Aceite o empreguinho, continue sendo pau mandada, assine embaixo das arbitrariedades de sua miguxa e justifique tudo como "é a nova política da empresa, foi decidido agora". Decidido agora my ass. Além de me desrespeitarem também querem me chamar de burra.
Burra não, né pessoal. Feia, torta, cara de chulé, ok. Mas burra é muita ofensa. Pior que isso só se falar mal dos meus cabelos.
Mas enfim, acho que o Universo resolveu testar a minha força esse ano. Até agora tô suportando. Mas acho que se algo mais acontecer, eu até me reergo, mas como Darth Vader. Acho que é isso: o Universo quer que eu vire a Darth Vader brasileira.