terça-feira, 3 de junho de 2008

Escola alternativa o caralho, eu quero é chamar professora de tia!

Falando sobre traumas infanto-alimentícios, é tudo culpa da escola alternativa em que estudei. Minha mãe achava bonito ser hippie e salvar a natureza, aí foi trabalhar nessa escola e eu tinha bolsa. Encravada no meio do mato no km 23 da Raposo Tavares, ir para lá era uma viagem diária. Eu estudava em período integral, ainda que estudar não seja um verbo apropriado porque eu "estudei" lá dos 2 aos 6 anos. Mas as lembranças são vívidas, amiguinhos. Vívidas e algumas delas um tanto quanto traumáticas. Pensem que nessa escola havia barrancos e muito mato. As salas de aula, chamadas de abrigos (olha que coisa mais MST!), eram construções de tijolos aparentes que, no inverno, congelavam professoras e aluninhos. Todo semestre era definido um tema de estudo e toda a escola girava em torno disso. Isso é interessante, de verdade. Não é interessante quando a coisa é levada às últimas conseqüências e você se vê obrigada a participar de uma simulação de ritual de algum povo pré-colombiano - acho que eram os maias, rolava uma fixação com os maias.

Também rolava toda uma fixação com índios brasileiros. Tanta fixação que uma época a escola recebeu a visita de uns 3 de uma tribo que não me lembro qual era. Muito legal, eu sei. Mas a gente tinha que aprender palavras em tupi e cantar músicas indígenas em dialetos que não servem pra nada! Na época do estudo sobre os escravos, então, que tortura. Era um tal de ixê babá obá iemanjá odoiá que nenhuma criança de 5 anos consegue entender, que adolescentes acham a maior besteira, e dá-lhe os professores naquele empenho de levar aquilo tudo a sério e dá-lhe os alunos com aquela cara de "q" em cada apresentação, em cada reunião, em cada "hora do canto" (sim, todo dia de manhã a gente tinha que cantar), em cada "ritual". Tinha gente que levava aquilo a sério e pra mim, pequena infante, tudo era divertido. Mas acho que ali era meio depósito de crianças problemáticas. Tinha uns DEMONHOS lá que nunca vi igual. Mas tudo bem porque no final eu podia brincar e correr feliz pelo terreno enorme da escola.

Só que nem tudo eram simulações pobres de "Noviça Rebelde" pelos prados a cantar. Tinha a época de provas. Por algum motivo que provavelmente eu acharia, hoje em dia, ridículo, a época de provas tinha um nome. Indígena, claro. Tchucara. Que significa tempo de provação. Mentira, eu criei esse significado agora, não sei que caralhos "tchucara" significa. Só sei que eu entendia "Tio Cara" e ficava pensando quando é que o Tio Cara ia chegar. Nunca chegava, aquele Cara... Mas nessa época a gente tinha que se concentrar muito e tinha que fazer um monte de relaxamentos. EU ODEIO RELAXAMENTOS ATÉ HOJE, ok?! Porque ficava lá a professora, que hoje em dia é minha tia mas na época era só a professora brava, falando pra gente respirar e pensar no sei lá que porra, e fechar os olhos. Eu tinha cinco anos! Eu queria brincar! Resultado disso: não me falem que preciso fazer yoga ou meditar que me dá siricoticos. Já tentei e sempre fico com vontade de rir. Igual ao que acontecia quando eu era criança, mas aí minha professora me fazia levantar e dizer em voz alta por que eu estava rindo. Mas eu nunca tinha motivo. Ia dizer o quê? "Acho isso tudo ridículo"?

Mas o que me moveu a escrever esse triste relato foram os traumas alimentícios. Até hoje não como pão com maionese nem banana nanica. E odeio arroz integral. Odeio. Quero que os macrobióticos todos se explodam com essa de que arroz integral purifica. Essa escola seguia alguns preceitos macrobióticos ou naturebas, não sei. E dá-lhe arroz integral na criançada. Dá-lhe comida ruim mal feita. Nem a macarronada - cujo molho era feito à base de suco de melancia - fazia a alegria da petizada. Ficávamos MUITO alegres quando nos serviam macarrão com ovo, porque ao menos tinha gosto de ovo mesmo. E os lanchinhos da tarde? Cortavam as bananas ao meio lá pelas 11 da manhã - pra servirem-nos às 3 da tarde. Nham! E o pão com maionese, preparado às 10 da manhã pra ser servido 5 horas depois? A maionese tinha um leve sabor amanteigado, já estava bem amarelinha e derretida, nossa, que prazer. Tudo isso porque queriam crianças saudáveis. Lindo, isso é essencial. Mas custava não cozinhar coisas que parecem lavagem e cheiram a lavagem?

Das lembranças que eu trago na vida essa escola não é a saudade que eu gosto de ter. Ainda mais depois que voltei a estudar lá aos 13 anos e meus únicos amigos da classe eram o autista e a gordinha nerd. Mas essa parte fica pra outro dia que de mazelas alheias a vida de vocês também está cheia, não é mesmo?

11 comentários:

gi disse...

Oun, que lindinha, toda de pe' sujinho! Bububu! ;)

Paulo Gallian disse...

Rolava uns "Corre-cotia" lá pelo menos? Porque sendo "indígena enthusiastics", pelo menos tinha a parte da música que falava "...corre cipó, na casa da vó...".

Meu, que bizarrolino esse lugar, hein!? Te mandaram pros Yanomami falando que era escola! :-D

Fred disse...

"Encravada no meio do mato no km 23 da Raposo Tavares, ir para lá era uma viagem diária.". Esta parte me doeu mais do que a da visita nunca vingada do Tio Cara.

Srta.T disse...

Vi no tuít aí do lado que a festa alemã foi na sua rua, JURA? Eu tava lá, comendo salsichão, joelho de porco e bebendo litürz de chopp.
Eu não tenho o mínimo saco pra naturebice. Minha sobra me ofereceu um bolo natureba de passas na última vez que fui na casa dela, parecia serragem compactada com pequenos cocozinhos.

Anônimo disse...

Eu ia dizer que pior que isso é passar a infância/pré aborrescência tendo que ir à Capela todos os dias antes da aula, mas esquece. Sua escola alternativa ganha disparado.
Traumas de comida eu também tenho, da época em que estudei em escola pública. A merenda, que delícia!

Japa Girl disse...

Realmente, essa de escola indígena foi pesada. Mas trauma de merenda eu compartilho. Macarrão parafuso com salsicha nunca mais!

Camila disse...

Gi, "bububu" combina demais com "Xuruminha", né?

Pôlo, eles eram indígena enthusiastics, bizarro enthusiastics, mais enthusiastics, alien enthusiastics, gnomos enthusiastics. Foi uma decepção descobrir que gnomos, na verdade, não existem. E, quando existem, são fruto da imaginação de pessoas sob efeito de alucinógenos. Enfim, sim, eu brincava de Corre Cutia!

Gato, pior é que lembrei de você quando escrevi essa parte, viu?

Talita, sua demonha, como assim você vai pro BROOKLIN e não se liga que eu moro lá? E eu detesto coisas natureba, minha mãe faz umas paradas de bolo integral que eu quero morrer.

Darling, imagine uma escola alternativa católica? Aí sim, seria inferno na Terra!

Japa Girl, na verdade era uma escola alternativa, só que rolava todo um apego aos índios, sei lá por quê. Macarrão parafuso com salsicha é muito merenda de escola estadual, né? Aquela salsicha bizarra. Também não gostava!

Ariett disse...

Lembrei de uma amiga minha que, no sábado, quando começamos a pensar em um lugar para almoçar, ela falou: "por mim, pode ser qualquer um, desde que não seja 'microbiótico'".

Aahahahahaha

S. disse...

Queria saber quem foi o genio culinario que achou que macarrao com molho de suco de melancia era uma boa ideia de almoco pra criancinhas. Tomate nao e' natural, nao?

fl disse...

Pra mim, nada contra arroz integral (acho até mais fácil de cozinhar, embora demore muuuuito) ou comida natureba, japa, ou qq outra coisa - sendo bem-feito pra mim tá bom. Agora mesmo a galera do trabalho vai aproveitar o almoço de sexta num restaurante nordestino em Sta Tereza (Arnaudo), Rio. Muita carne de sol, cabrito, macaxeira, etc... Mas, sobre merendas e afins, o pior mesmo era um pão com (argh!) com goiabada, que às vêzes eu tinha que levar...diretamente pro o lixo da escola.

Unknown disse...

Então, não lembro como vim para nesse blog, e nem neste post.
Mas super me identifiquei com ele!
Tb sou filha de hippie macrobióticos e virei uma junkie consumista total! Meu trauma de infância era não ganhar ovo de Páscoa!
Morria de medo de índio! e até hoje agradeço por não ter nome relacionado a flora ou algo assim.
Tenho muitas sequelas e traumas!
Ah! Outra coisa, tb moro na rua( numa das) do Brooklin Fest. Mta coincidência prum post só. Medo.
beijo
Kathrin
blog.lapaloma-atelier.com.br