terça-feira, 23 de outubro de 2012

Reações

Nessa história do meu Voldemort, tem sido difícil entender as pessoas e suas reações. Eu não tenho um chefe, eu tenho vários alunos. Que precisam ser avisados que em dezembro não darei aulas. E que precisam saber da verdade porque essa é a maneira que escolhi em lidar com minha situação. Peito aberto. Eu não espero lágrimas nem abraços - não corro risco e não tenho esses alunos há muito tempo, então nenhuma reação muito exacerbada seria justificada. Mas um "sinto muito" eu acho que cai bem. Um trio de alunos não conseguiu ter reação. Eles congelaram e não falaram nada. NADA. Pensem na minha situação. Estou dando notícias de saúde e as pessoas não falam nada.

Também é difícil quando as pessoas falam em tom de "não é nada". "É só tirar e fica tudo bem". Pois se é assim simples, vamos trocar de lugar? Por acaso eu curto minha tireoide, ela funciona. Não queria ter que tirá-la nem ter que tomar hormônio pro resto da vida. Tenho medo de cirurgia. E por mais simples que esse tipo de câncer seja, ainda assim, é câncer. Se fosse coisa boa, chamaria sundae com marshmellow, não câncer de tireoide. Então respeite minha tristeza, respeite meu medo e não fale como se não fosse nada. Se não fosse, eu estaria saudável, e não com cirurgia quase marcada.

Outra coisa difícil é amigo próximo que reage de uma maneira completamente inesperada. In a bad way. Você espera reações ruins de todo mundo, menos de amigos próximos. Eu acho uma reação ruim um amigo próximo não me ligar, nem responder email, nem mandar mensagem. Porque é uma questão de se colocar no meu lugar. E eu espero que meus amigos próximos consigam fazer isso. São amigos. Próximos. 

Fico pensando que tudo isso pode ser porque é difícil mesmo lidar com essa doença. Existem, ainda, muitos preconceitos e mitos e medos. As pessoas ainda associam câncer com morte. E eu estou desgastada porque estou tentando entender as pessoas e aceitar suas reações. Ou a falta delas. Talvez elas não saibam como lidar com isso. O que falar, afinal? Muitos acham que um "sinto muito" não faz diferença, mas faz. um "porra, que merda" vale também. 
 
Mas no meio de todo esse desgaste emocional, tenho dito repetidamente o quanto tenho a sorte de ter família e amigos por perto. Recebi visitas, ligações, mensagens, abraços, emails lindos lindos. Todos me dando força. Todos me mandando boas vibrações. Parece bobagem, parece frescura, mas isso faz diferença. O coração fica quentinho, o dia fica melhor. Quero deixar isso bem registrado aqui pra eu não parecer ingrata. Porque no final, o que vai importar mesmo é isso: quem ficar ao meu lado. 

Ah! Obrigada a quem comentou o post anterior. 

2 comentários:

Renata disse...

Oi Camila. Sou sua leitora silenciosa há muito tempo e confesso que desde que li o post passado fiquei pensando se devia ou não dizer alguma coisa, já que nunca tínhamos nos falado antes. Diante do que disse, resolvi me manifestar dizendo que desde então tenho pensado em você com carinho e um desejo enorme de que tudo fique bem. Que seu Voldemort seja vencido logo e você se recupere bem. Torço bom e sinto muitíssimo que esteja passando por isso.

Um abraço e tudo, tudo de melhor, sempre.

Kelli Machado disse...

Porra, que merda!
Fazia séculos que eu não vinha aqui e essa notícia o.O Agora seus comentários no FB sobre 2012 acabar logo fazem total sentido.
Força, Camila. Muita!