Sábado de manhã: acordo às 9 da manhã, na minha cama, sem a MENOR noção de como tinha chegado ali. Nenhum flash da minha volta pra casa. A única coisa que eu lembrava era de ter ido ao banheiro da escola de samba na noite anterior. Saí pelo quarto à cata do meu celular, mandei mensagem pro meu amigo que estava comigo: "Não lembro de NADA. Eu fiz alguma coisa ruim? Estou preocupada!". Nenhuma resposta, meu desespero aumenta, mas a ressaca me vence e eu volto a dormir. Horas depois levanto e encontro uma mãe de cara feia no meio da sala. Depois de alguns minutos descubro que cheguei carregada pelo meu amigo dinamarquês, um colega meu, também dinamarquês e dois outros amigos do meu amigo. Nenhum fala Português. Minha mãe não fala Inglês. Eu desmaiada no colo de desconhecidos (pra ela). E quando entrei em casa ainda falei alto "me deixa em paaaz, quero dormir". Eu sou uma ameaça à sociedade.
CHOQUE. Caio sentada na cama, bege, ocre, passada. EU? Carregada? Que vergonha, minha Santa Prelônia do Álcool Ingerido! Nunca cheguei a esse ponto! Os amigos do meu amigo me carregaram? Eu vomitei na frente deles? MAIS CHOQUE. Quando minha mãe viu meu desespero disse que tudo bem, que ela sabia que eu não era assim, que eu devo ter passado mal por algum outro motivo... E completa: pelo menos o cara que estava te carregando era bonito. Não sei como minha mãe ainda acha que isso poderia me ajudar, só me causou mais vergonha: o moço me conhece há três semanas e por acaso é meu ex-aluno. Ligo pra ele, que refresca um pouco minha memória.
(corta pra noite anterior)
Sexta à noite: Eu e cinco gringos num ensaio de escola de samba. Caipirinhas fortíssimas, depois de ter bebido um troço dinamarquês chamado "Black Bastard". Dois shots do bastardo preto, pura vodka com bala de menta. Muito estranho, mas pra quem já foi em show de axé e ainda se divertiu muito, dois shots de uma bebida com cor de musgo e gosto de menta salgada não são muito esforço. Todos já bem altos, eu rindo da malemolência dinamarquesa, eles rindo de tudo. Largo minha segunda caipirinha com meu amigo e vou ao banheiro. The end. Fim da linha. Não lembro de mais nada. NADA.
(corta pra sábado à tarde)
Sábado à tarde: meu amigo me liga pra saber se estava tudo bem comigo. Eu digo que já sabia mais ou menos o que tinha acontecido pela minha mãe e pelo amigo dele. Ouço, então: é, você tem que agradecer MUITO a ele e aos outros dois, eles te carregaram e cuidaram de você enquanto eu dirigia. VERGONHA. Tento lembrar de algo, só consigo lembrar que fui ao banheiro. Peço desculpas, digo que estou morrendo de vergonha, que acho que ele nunca mais vai querer sair comigo e sou obrigada a ouvir: "shut up". Levo um susto, meu amigo é um gentleman, caramba, devo ter aprontado, devo ter feito strip, devo ter dançado o tchan no capô do carro fazendo carinha de quem tá gostando demais. O alívio vem um segundo depois: "a gente te carregaria quantas vezes fosse preciso, faz parte da vida, já aconteceu comigo e só quero ter certeza de que você está bem pra poder passar mal um outro dia com a gente". Os dinamarqueses têm um senso de humor meio sádico. Isso porque quando falei com o outro amigo dele, antes, de manhã...
(volta pra sábado de manhã)
Sábado de manhã: - Fulano, estou MORTA de vergonha, me desculpe, sinto muito...
- É melhor você sentir mesmo, você deu o maior trabalho pra gente.
- ...
- Hahahahahahahaha! Deixa de bobagem, ninguém se importou, na verdade foi até divertido: te carregamos lugar afora, você cada hora no ombro de um de nós...
- Ombro???? Eu saí carregada nos ombros?
- É, até tiramos foto disso, sua bunda pra cima, uma foto ótima, por sinal.
- ...
- Você ficou MUITO mal, desmaiou umas 3 vezes. Achamos que colocaram algo na sua bebida... Você não bebeu tão mais que todo mundo...
- Eu falei bobagem? Fiz algo errado?
- Olha... Teve uma hora que... Falamos disso depois, tá?!
- AI, MEU DEUS... *desespero na voz*
- Hahahahahahaha! Você só sambou pelada, mas não teve problema, no geral foi um sucesso.
- AI MEU DEUS!
- Brincadeeeeira! Você estava tão desacordada que não conseguia nem se mexer, nem falar, nem nada. Fique sossegada, você não fez nada, só vomitou na gente.
- ...
- Presta atenção: ninguém está pensando nada de você. Isso aconteceu comigo várias vezes, não é nada de mais. Você exagerou, todo mundo exagera. E agora todo mundo acha você mais divertida ainda. Se precisar, te carrego de novo. E você vai ter que me carregar, ou tá achando que não vai ter vingança?
Sádico.
Já aconteceu com ele? E com meu amigo? Eu saí com os fundadores do grupo "Desmaios Alcóolicos Anônimos" e ninguém me contou nada? Eu era a única ser humana dali que ainda não tinha ficado inconsciente?
Fofos.
Que bom que ao menos eu estava em boas mãos.
Sábado à noite: Meu telefone toca. Era o amigo do meu amigo. Sim, estou bem, a ressaca está melhor, consegui comer pouca coisa, não vou beber nunca mais, fique tranqüilo. Sair? Hoje? Com vocês? Estão loucos? Ah, sim, sua despedida do Brasil... Não vão me dar nada alcóolico, só água? Querem ter certeza de que estou bem? Ah, já me falaram sobre essas fotos... Ah, bom saber que minha bunda é fotogênica.
Sádicos.
Bar, um pouco mais tarde: Chego no bar, com cara de "desculpaê, amigos *sorriso amarelo*". Meu amigo me vê e vem me abraçar. Ele me reconta a história, com riqueza de detalhes. Sádico. Outro amigo vem me abraçar. Ele me reconta a história, ressaltando a tal foto da bunda pra cima. Sádico. O que minha mãe achou bonito vem falar comigo. Diz que foi um prazer me carregar, mas que eu não fico muito bonita inconsciente. Sádico. O último sádico da noite vem me abraçar. E ainda ouço: "a gente já gostava de você antes, depois de ontem a gente te ama!".
Eu não disse que eles têm o senso de humor estranho?
In a nutshell: nunca mais bebo de estômago vazio. Agradeço aos céus por estar com eles, que foram de uma gentileza e um cuidado sem igual. Nunca mais bebo de estômago vazio. A foto realmente foi tirada, eles fizeram questão de me mostrar ontem. E é uma das fotos mais engraçadas que já tiraram de mim, pena que eu não lembre do momento do "click". A propósito, não quero mais ter amnésia alcóolica, minha noite parece uma colcha de retalhos com pedaços faltando. Minha noite e meu day after são flashes que outras pessoas lembram por mim e que vão do fim pro começo, passando pelo meio, num desfile de fatos que aparentemente não têm conexão ou não fazem tanto sentido. E é por isso que eu digo que Tarantino é, na verdade, um pinguço. Tenho certeza que a idéia pro roteiro de Cães de Aluguel e Pulp Fiction surgiram depois de uma noite de pé na jaca, com direito a amigos sádicos no dia seguinte.
Prêmio de melhor comentário a respeito: Minha mãe, hoje, me pergunta se eu continuo sem lembrar de nada. Sim, mãe, continuo sem lembrar.
"Eu achava que amnésia alcóolica fosse mentira, mas depois de você vi que existe mesmo. Por isso que as pessoas por aí dizem que cu de bêbado não tem dono, né? Nossa, não deve ter mesmo".
THE END
11 comentários:
SHAROOOOOON
eu não estou presente nessas horas. só quando vc pede, aos berros, pra ir ao banheiro so-zi-nha.
injustiças da vida.
você deveria leva-los à uma loja ca copenhagem, ein, ein, ein
Beber até desmaiar e não lembrar nada no dia seguinte? Isso NUNCA aconteceu comigo. :P
Aliás, por favor, diz que essa foto da bunda pra cima vai pro fotolog.
Eu PRECISO ver a sua foto sendo carregada.
masi loca q a herminones rsrsr rsrsrs!111
Ahhh, quero tanto ver essa foto! Por favor!
E, olha, eu já fiquei mal, mas nunca desmaiei, viu? Deve ser bem estranho, mas vale pra contar depois!
Troféu melhor comentário do século vai para:
MIRUNA pelo belo exemplo de péris riulton.
HAHAHAHAHAH
Todo mundo tem seu dia de caído na Guia com o cachorro lambendo canto da boca. Relaxa negona.
Beijos
Ai que dóooooooooo!!!
E se serve de consolo, eu já fiquei assim que nem vc, ´passei meses sem lembrar o que tinha acontecido. E preferia jamais ter lembrado, porque eu me lembrei que não só vomitei e desmaiei, como briguei na rua e levei uma paulada na testa. Tá bom pra vc? E continuo linda e loira.
Só acredito nessa história depois de ver a foto. ;)
Beijo.
eu já tive amnésia alcóolica, acordei no quarto alheio, sem saber onde e com quem eu estava. reconstitui os fatos dois dias depois. trevas.
e CADÊ A FOTO?
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