terça-feira, 13 de março de 2007

Put the bake in the forn, teacher

7 horas da manhã, minha gente. Por favor, aluno, atrase. Atrase ao menos 10 minutos pra que meu cérebro comece a funcionar. Olhe, eu gosto da sua turma e gosto de dar aulas, mas hoje a teacher está meio macambúzia, meio lá e meio cá, culpa da insônia que tem me assolado, culpa desses hormônios malucos, culpa de ser mulher. Olhe, ser mulher não é fácil. Ter consciência das próprias mulherzices, mais difícil ainda. Controlar as mulherzices, então, é tarefa pra Hércules. Mas que mulher que nada, 7:03 o aluno chegou, sorridente e saltitante. Visto meu melhor sorriso de bom dia, flor do dia, let's speak. O aluno chega tão perfumado que a sala fica cheirosa até o fim da aula. Pelo menos isso: 7 da manhã e bafo e cheiro de dormido não dá.

Outra aula. My wife puts the turkey in the forn, teacher. Ai, ai, ai, ai, tá chegando a hora vira ei, ei, ei, ei, it's arriving the time. JURO. Fazemos um acordo: cada frase falada em Português é uma parte do corpo do boneco. Dois dias sem enforcar o boneco, o café é por minha conta na semana seguinte. Eu corrompo meus alunos com café, puta merda. Mas funciona, apesar d'eu ouvir frases como "your rules suck, you don't know how to play, talk to my hand"! E ele tem 33 anos. Pior é que eu me divirto.

Saio da aula e divago pelo caminho. Entre músicas, devaneios, sonhos e pressa, eu quase não vejo quem pula na minha frente no meio da rua pra me cumprimentar. He ran into me.

Pausa para um interlúdio explicativo:

*Há um ano ele me deixava sem fala. E minhas pernas tremiam quando eu o via passar. No good, teacher, no good. Pois é, no good mesmo. Coisa do coração disparar mesmo, de ficar abobada; de, quando finalmente saímos, eu olhar pra ele dirigindo e pensar "minha nossa senhora da periquita, que HOMEM". Até hoje eu acho que foi feitiço. Chá de cueca lavada, só pode ter sido isso. Quando comentei com uma amiga esse episódio dele dirigindo e eu babando ela se limitou a dizer "você está cega. Oftalmo JÁ!". E tudo acabou mal. É isso que dá achar que tesão sem nenhuma afinidade pode dar (sem trocadilhos, please) em alguma coisa.*

Fim do interlúdio explicativo.

E aí que o homem pulou na minha frente, porque eu, com música, óculos escuros e devaneios não presto atenção nem se o Fábio Assunção passar por mim dançando Macarena, com dedinho na boca e carinha de quem tá gostando demais. E aí que o homem resolveu que ia ser fofo, e no meio do "oi" veio me dar um abração. Abração, amigão? Oooh, really? Sabe susto? Sabe surpresa? Sabe não sentir nada além de "zentzie, que pessoa louca"? Aquele papo de "tudo bem, tá trabalhando muito, tenho trabalhado muito". E meu sentimento ali, naquele momento era... Nulo. Ei, você agiu feito um cachorro, safado, sem-vergonha. Mas ei, eu não tenho mais nem raiva. Eu não tenho nada. Nem aquele desprezinho e vontade de mostrar "que UEPA, eu dei a volta por cima, sacodi a poeira, estou gata e super arrasando nas passarelas da vida". Foda-se sua impressão, foda-se forever and ever, oh yes.

Te devo um café, disse ele, com cara de menino maroto.

Ah, beleza, disse eu, com cara de quem subitamente começou uma dieta à base de nenhuma cafeína.

...

A vida é mesmo muito inusitada. Há um ano eu "morreria" por isso. De ficar com o coração disparado por muito tempo, caso encontrasse com ele. De dar show de perereca com esse papo de café.

E hoje?

No, thanks. NOOOOOOOOOT (Borat) mesmo. Passo a vez, sem passa ou repassa.

E o coração?

Ah, esse aí até o momento, tem estado muito bem, obrigada. :-)

4 comentários:

Rainman Raymond disse...

cara, e essas macumbas, hein? não é uma coisa absolutamente impressionante como você se apaixona por cada coisinha de mamãe nessa vida?

uma vez eu matava-e-morria, não mais que de repente, pra ficar com um indivíduo tal lá, atualmente perdido no binômio tempo x espaço (nem eu sei o que quis dizer com isso, mas), e a pessoa era fumante.

mas daqueles fumantes "invertebrados" mesmo. de não topar ir ao cinema porque não suportava duas horas sem cigarro.

e eu não gosto de cigarro. nem de cheiro de cigarro. nem de bafo de cigarro.

tu acha que eu me lembrava disso? assim, mesmo, eu não sentia cheiro ruim, eu não ficava incomodada dele parar de me beijar na hora d malho pra dar uma fumadinha, minha gente, eu PAREI DE IR AO CINEMA.

camisa de força nessa pessoa, ninguém teve coragem de vestir. só olhavam pra mim com umas caras e diziam "então tá, né?", mas nem é culpa das pessoas, já que a doida era eu.

o que aconteceu depois é que eu suporto bem menos que antes as pessoas com cigarros. efeito rebote total.

mas que foi uma macumba muito da braba, minhamiga, foi. porque essa parte do cigarro é só um pequeno detalhe, sabe.

Ronisia disse...

Amiga, parece clichê, mas nada como um dia atrás do outro para um ser deste ser tratado do jeito que merece, ou seja, com a mesma emoção de ver um motorista de táxi... rs...
Adorei...
Beijos.

Anônimo disse...

não dá até uma certa tristeza?? de não sentir nada? ai ai, qtas vezes isso ja aconteceu.

Anônimo disse...

Que delícia isso! Não sentir nada, nada, eba! Queria ser assim, mas sempre carrego minhas paixões pe-la-vi-da-to-da. E elas me acompanham e podem até ficar adormecidas. Mas, se tiverem sido muito importantes, se eu encontrar na rua nunca vou conseguir ficar blasé. Droga!