segunda-feira, 2 de abril de 2007

O tarado

Num dia em que eu queria que o mundo explodisse e não restasse nem poeira cósmica pra contar história, eu fui abordada por um tarado. Abordada e seguida. Estava voltando da última aula do dia, 9 e pouco da noite, com a pastinha na frente do peito, bem professoral. Perdida em devaneios desagradáveis, consegui ouvir o homem que passava falar frases que envolviam as palavras chupar, pé, inteira, gostosa e pau. A criatividade pra juntar essas palavras em frases nojentas é toda de vocês. Eu estava num dia péssimo, com direito a crises (plural) de choro. E eu sou invocada, ODEIO me sentir invadida. O que fiz, do alto de meus 1,58 de altura? Revidei. A quinta geração desse çerumano com certeza padecerá da praga que roguei nele e em seus entes queridos.

Revidei e segui pela estrada afora, sempre sozinha. Não ouvi NADA. Nem passos, nem respiração, só meus pensamentos zunindo. Entrei no prédio e, logo após fechar o portão (não há porteiro aqui) e começar a subir os primeiros degraus (não há elevador aqui) eu ouvi alguém tentando forçar a entrada, seguido de batidas fortes e insistentes no vidro. Olhei pra trás, ainda distraída. E vejo o çerumano com a bermuda abaixada e o pau pra fora. Mas não é só isso, minha gente. Além de ser abordada pelo doente, de ver o pau dele sem ter, em momento algum daquele dia, manifestado o menor desejo de ver um pau, ele ainda estava se masturbando. Tudo isso e de graça! Porque não vale seguir uma mulher na calada da noite e ficar de pau duro: você TEM que fazê-la ver. E não só ver: fazê-la ouvir MAIS de suas frases escrotas. Eu comecei a gritar feito uma louca que ele fosse embora e que eu chamaria a polícia.

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Há um livro do Stephen King em que a mulher, depois de picardias sexuais, fica algemada à cama num casebre no meio de uma floresta no Maine (claro). O maridão, no meio da alegria orgasmática, morre de ataque cardíaco. E ela lá, algemada. Dias se passam. Com muito custo ela consegue beber a água do copo perto dela. Mas vocês sabem: aquelas florestas temperadas são ninho de psicopatas. TODO FILME com algum maníaco mostra alguma parte de uma floresta temperada. E o livro não fica atrás: pra completar o sofrimento da moça, um louco vem dia após dia ao casebre para ficar observando-a. Ele não faz NADA. ele apenas a encara. Por horas.

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Eu gritava e não tinha coragem de subir as escadas. Minhas pernas não obedeciam. Mas ele só me olhava. Em certo momento, ele parou de falar, parou de se masturbar, por muitos segundos ele apenas me encarou. Loucamente. Corajosamente. Foram segundos em que eu me senti desnudada, frágil, atingível, um pedaço de carne dispensável. Aí ele resolveu ir embora, mas não sem antes dizer que ele agora sabia onde eu morava. Por que o "agora"? Porque ele já havia passado por mim outras vezes, poucas, é verdade. E tinha mexido comigo, mas eu tinha simplesmente passado reto. Acho que não preciso descrever meu pânico, minha crise nervosa ao entrar em casa, o tanto que eu chorei e amaldiçoei o mundo inteiro. É verdade, "pelo menos eu não fui agredida fisicamente". Mas o transtorno que esse episódio causou, o fato de ter sido a cereja do meu bolo de problemas, a lembrança do olhar dele, das coisas que ele falou: tudo isso é inesquecível, ainda que, graças a Deus mesmo, nada tenha me acontecido fisicamente.

Tive que ir à delegacia, e é aí que entra a parte tragicômica:
- Ele disse que ia me chupar.
- Chupar como?
- Chupar, senhor.
- Seu orgão sexual?
CARAMBA. Não! Ele ia chupar meu globo ocular. A dobra do meu braço. Minhas panturrilhas. E assim, chupar como? Será que eu tenho mesmo que explicar? Uma palavra: constrangedor. Saldo do dia: por ao menos um mês não posso sair à noite desacompanhada. O que gera toda uma tática de guerrilha pra eu voltar do trabalho: caso não tenha carona, minha mãe ou meu padrinho vão ao ponto de ônibus me buscar. Só pra coroar ainda mais todos os acontecimentos, já que uma das coisas que mais me tiram do sério é ter meu direito de ir e vir tolhido.

E a lembrança do livro pode ser exagerada sim. Afinal, não fiquei algemada. Não fui observada por dias. Mas é a sensação de estar vulnerável, quase à mercê da loucura alheia, que me fez traçar esse paralelo. E o cara não é um bêbado. Nem mendigo. É um cara que está sempre com roupas de ginástica. Deve deixar a esposa fazendo o jantar enquanto faz seu footing noturno e molesta mulheres. Depois chega em casa e tem jantar quentinho esperando.

Eu quis sumir por uns 3 dias. Agora estou melhorando.

9 comentários:

Rainman Raymond disse...

ódio. merecia virar eunuco.

aconteceu um lance assim comigo, eu tava no terraço da minha vó, tinha ali meus 7 ou 8 anos. o cara chegou no portão, botou o pau pra fora, se masturbou, ejaculou, e eu ali, sem saber muito o que se passava realmente. quando as pessoas adultas viram, só tinha mulher na casa, foi aquela gritaria, chamaram a polícia, mó confusão. e nunca me explicaram o que danado tinha acontecido e eu achei que não devia perguntar. engraçado é que apaguei essa lembrança total da minha cabeça até uns anos atrás, quando fiquei na dúvida se realmente tinha acontecido ou se eu tava por alguma razão criando uma lembrança de algo que não tinha acontecido, toda uma confusão mental, e me falaram que rolou mesmo e tudo mais e eu percebi que isso talvez explicasse alguns lances aí da enfermidade mental da pessoa ;)

uma merda.

fique bem :*

Ivana de Souza disse...

Ai, não é exagero, não, na boa. Apesar de nem conhecer (vim por Suzana), senti a invasão, o desespero e ainda o direito de ir e vir tolhido. Péssimo isso. Mas sossego, paz e boas companhias na volta pra casa.

Anônimo disse...

A minha praga para ele me faz lembrar de outro livro do Stephen King, o mestre supremo. "Thinner", eu diria. Tal qual o cigano com cara de mau (claro, a cara que eu inventei), apenas essa singela palavrinha. E ele ia ver o que era bom pra tosse.

Se cuida, viu?

Anônimo disse...

Calma, Camila linda! Foda, muito foda. Nessa hora, dá vontade de apelar pra violência pura e simples. Sugestão: Empalamento. Bom, sem comentãrios. Se vc quiser eu levo a lança...

Ronisia disse...

ESTOU PASSADA - SEM PALAVRAS PARA COMENTAR ESSE EPISÓDIO QUE NADA MAIS É DO QUE HORRÍVEL.
E ALÉM DE TUDO, O AUXÍLIO DA POLÍCIA FOI TREMENDO.
GENTE, É COMO VC DIZ, NÃO DÁ PARA DUVIDAR DA ESTUPIDEZ HUMANA.
BEIJOS.

Anônimo disse...

Gata, inevitável não rir da sua descrição de depoimento na polícia. Desculpa...

Robs disse...

Chu, como a Ivana disse aí em cima, eu em senti no seu lugar... e violência sexual de qualquer espécie é um negócio que embrulha meu estômago só de pensar, eu sinto náusea de verdade, não é metáfora.

É difícil, mas tenta apagar o episódio da memória. Força! :*

Srta.T disse...

Compra um spray de pimenta. Faz qualquer mucosa arder e inflamar. Aí joga no pau dele.

Andre Viegas disse...

Cheguei aqui pelo "Curto e Grosso" e já me deparo com essa situação sórdida. E, pior: a confirmação de q a nossa Polícia é a mais perfeita definição da imbecilidade humana. Deprimente, deplorável, enfim... é como diz uma amiga minha: "Life's a bitch... and then you die".

=(

Anyway, fique bem.