sexta-feira, 7 de março de 2008

Quer que eu desenhe?

Para celebrar minha primeira noite de animação da semana decidi jantar com uma amiga. Ela queria gorduras trans do Burger King e eu queria sashimi. Muitas, muitas fatias de sashimi de salmão. Infinitas, se possível. Com desejos tão diversos, apelamos para a boa e velha Praça de Alimentação. E eu para o Gendai, onde o salmão é bom, mas o custo-benefício é péssimo. Chequei o cardápio e havia um prato que incluía sashimis de salmão, makis de salmão e sushis de salmão. Não havia a possibilidade de trocar os sushis por sahimis. Na minha mente muitas vezes lógica, sushis são, nada mais nada menos, que um sashimi em cima de um travesseirinho de gohan, a.k.a. arroz empapado. Taí uma figura para provar meu ponto de vista:

Tal qual uma criança de oito anos que faz bigode na foto da irmã e peitos enormes na foto do irmão, eu, didaticamente, indiquei sashimi e gohan. No Paintbrush mesmo, porque sou roots.

Tendo em mente a idéia "sushi = sashimi com arroz" eu, gentilmente, pedi que meus sushis fossem feitos sem arroz. Porque aí seria um sashimi. Tadáá! BRILHANTE, eu diria. No entanto, a cara de interrogação do rapaz do caixa mostrava que ele talvez não concordasse com meu brilhantismo. Eu expliquei:

- O sushi não é uma bolinha de arroz com uma fatia de peixe cru em cima? Então, eu quero só o peixe cru, sem a bolinha de arroz.

Explicação meiga. Bolinha de arroz. Senti-me na época de estágio, em que explicava pras criancinhas que bolinhas de meleca de nariz não são comestíveis. Bolinha. Nhóim! Mas ela permanecia lá: a cara de ponto de interrogação. Dessa vez seguida de:

Caixa: Não posso fazer isso porque altera o prato todo.

Eu: Não, eu não quero alterar tudo. Quero manter o salmão, os makis de salmão e os sashimis. Só quero que meus sushis venham sem arroz.

Caixa: Não pode. Altera todo o prato.

Eu percebi, ali, que se eu insistisse ele repetiria all night long que "altera todo o prato". Over and over agaaain. O cerumano estava irredutível: ele, a interrogação facial e o "altera todo o prato". Resolvi apelar para a voz da razão, o homem do sushi, o cara responsável pela arte de cortar peixes crus e enrolar algas com arroz: ele, o sushiman. Caprichei na cara simpática e repeti toda a ladainha bla bla-arroz-sashimi-em cima-blabla-é a mesma coisa-blabla. No final disse que como eu separaria o arroz de qualquer maneira, queria evitar o desperdício - e ainda caprichei no sorriso simpático. Puxa! Uma cidadã do mundo, preocupada com o desperdício de comida. Obviamente o que eu ouvi foi:

Sushiman: De jeito nenhum, não posso alterar o prato.

Eu: Mas não é alterar! Olha só (e comecei a gesticular pra explicar): arroz em baixo. Fatia de salmão em cima. Fatia de salmão é sashimi. Então basta tirar o arroz e me deixar a fatia de peixe cru. Não altera o prato, só tira uma parte do arroz.

O sushiman me olhou e pensou por, talvez, 3 segundos. Juro que nesse momento, nesses três efêmeros segundos, eu voltei a ter fé na humanidade. Pensei que talvez ainda haja salvação, que a estupidez humana há de ser extinta, que todos viveremos felizes nesse mundo. Porque já existe aquecimento global, guerras, gente passando fome, Hugo Chávez e Pedro Bial fazendo discurso no BBB. Podíamos dar uma folga pro mundo e diminuir a estupidez humana, não é? Diminuir a preguiça de pensar. Acho cabível. Quando eu estava quase dando as mãos pro Michael Jackson pra cantar "we are the world, we are the children", uma voz me trouxe de volta à realidade:

Sushiman: Não, não posso fazer isso. Altera o prato todo.

Eu: Mas no que altera?

Sushiman: Altera o prato.

Eu podia ter pedido o prato e ter separado o caralho do arroz da putaquepariu do salmão. Mas perdi a paciência e fui comer gorduras trans no Burger King. Lá se foi meu jantar com sashimis e lá se foi, mais uma vez, a minha esperança na humanidade. Tudo por causa de um sushi. Porque "altera o prato".

11 comentários:

The Bloke disse...

sim. você podia ter tirado o gohan do sushi. ou você podia ter feito o que todo gordinho faz. COMIDO a porra do sushi COM o gohan, sua magra!

agora enfim. TECNICAMENTE o corte do sushi e o corte do sashimi são diferentes. mas a teimosia do sushiman é indefectível.

Camila disse...

Ai, Feliposo. Até parece que não me conhece: desde quando eu evito alimentos porque podem engordar? Eu não queria o arroz porque estava com vontade apenas de sashimi, e não porque arroz engorda. Eu, hein, parece que esqueceu das minhas vontades alimentícias gordas...

Eu sei que existe uma diferença no corte, mas é tudo peixe cru cortado, o sushiman podia ter sido menos teimoso e insuportável e ter feito a porra do sushi sem o arroz.

(o que vc tava fazendo de madrugada na internet? Não foi beber com os migus do albergue????)

lilla disse...

CARALHO QUE VONTADE FELADAPUTA QUE EU TÔ

/fina

Anônimo disse...

hahahahahah
Inacreditavel amiga...
mas eh como vc sempre me disse, nao podemos duvidar da estupidez humana.... rsrsrsr
Amiga estou torcendo por vc, arrase...
depois me conte.
Super beijo

Lacerad disse...

O mercado e o meio ambiente nunca vão se entender. Ex: Se vc for na feira pedir caldo de cana na sua canequinha da usp duvido que eles vão te servir. Só vão aceitar na garrafinha ou no copo deles.

Jana Ross disse...

concordo com o final-te.
(:

Lilaise disse...

eu teria tirado o peixe do arroz entregado um por shushiman e um por caixa dizendo: ALTERAQUIÓ.

fl disse...

hahaha...sei exatamente como vc se sentiu porque acontece comigo sempre. Gosto de tomas meu chopinho sozinho, lendo jornal e beliscando um tira-gosto. Só que as porras das porções e meias-porções quase sempre são enormes, pra 3 ou 4 pessoas. Daí que eu peço um simples sanduba...mas sem o pão! Precisa ver a cara dos atendentes ("como sanduíche de salaminho sem o pão??? isso a casa não faz!"). Patético!

Camila disse...

Lacerad, eu acho que é mais uma questão de burrice alheia e preguiça de pensar do que desentendimento entre mercado e meio ambiente.

Naponeon, fui no seu blog e escrevi um comentário imeeenso num post em que você transcreveu a entrevista com a Alice Braga. Sorry pela prolixidade!

Chu, eu devia MESMO ter feito isso...

fl, o povo não entende... :-(

Madureira disse...

confesso que esperei um fim com bolinhas de arroz amassadas no balcão, ao fim da refeição. mas isso deve ser fruto da ainda-dor do dedinho topado na quina da mesa.

Camila disse...

Madureira, eu não sou barraqueira...