terça-feira, 28 de agosto de 2007

Mas MÁRCIA, vou ter que pegar OMNIBUS!*

Reclamar de ônibus é quase uma constante em minha vida. Não tenho carro, portanto, dependo do péssimo sistema de transporte coletivo de São Paulo, que, por sua vez, não comporta o batalhão de pessoas que vêm e vão todos os dias. Em 2005, antes d'eu começar a dar aulas numa escola perto de casa, eu dava aulas em diversos lugares da Zona Sul. Eu moro na Zona Sul, ou seja, teoricamente, não deveria ter problemas com os locais de aula. Só teoricamente, porque Morumbi, Cu de Interlagos e Vila Sônia são portais para uma outra dimensão, uma dimensão onde todos têm carros e não dependem de baldeações e lotações para chegar ao seu destino. Em alguns dias eu pegava uns 8 ônibus, incluindo um em que quando eu ficava uma hora e meia dentro dele, era lucro. Invariavelmente eu chegava em casa mal-humorada. No último mês dessa tortura, invariavelmente eu chegava mal-humorada e chorando de cansaço.

Cansaço porque não há corpo que agüente ônibus lotado várias vezes ao dia. É esse o maior problema dos veículos automotores coletivos: eles geralmente estão lotados. E agora podem me chamar de elitista nojenta (como já me chamaram num outro blog que tive), mas eles geralmente estão lotados de gente feia, mal-educada e porca. E, se eu quisesse ver gente assim, iria pro Largo 13 todo dia passear. É um empurra-empurra louco, gente que acha que mochila é casco de tartaruga e nunca tira aquela porra de trambolho das costas, nem quando há fila dupla de pessoas em pé no corredor, gente que te vê segurando bolsa e casaco e não se oferece pra segurar, gente que está sentada no assento preferencial e finge que nem viu o velhinho/velhinha que subiu no ônibus e está de pé. Eu não suporto falta de educação e gentileza, acho que é muito simples tornar as coisas no mundo melhores se você simplesmente respeitar o próximo. Mas pra quê respeito, não é mesmo? E dá-lhe creiços e creiças amontoados na porta, sendo que vão descer lá no ponto final. Dá-lhe gente que esquece que banho é bom e enche o ambiente com aquela catinga nojenta de cecê. Dá-lhe creiço que encoxa a mulherada. Dá-lhe creiças de cabelo cremoso de Kolene encostando aquela arapuca melecada que elas chamam de cabeça nos pilares em que eu quero colocar minhas mãos limpas e macias para me segurar. E dá-lhe pessoas falando muito alto.

Poucas coisas na vida me tiram muito do sério, a ponto d'eu ter vontade de mandar a elegância às favas e ter um siricotico público. Uma delas é grupo de pessoas que falam alto, principalmente grupos de atendentes de telemarketing que pegam ônibus juntos e acham que é excursão da 5ª série: falam alto, cantam musiquinhas escrotas, tiram sarro das pessoas que estão ao redor. Nessas horas eu morro de vontade de falar "oi, vocês usam calça jeans justa com a banha pulando, vocês usam colar de côco, vocês usam botas plataforma. A Convenção de Genebra proíbe que vocês falem dos outros". Outra coisa que me tira muito do sério é celular na merda de alto-falante. O que leva as pessoas a se verem no direito de ouvir suas músicas sem fone-de-ouvido? Não me importa se é rock, pagode, música decente ou funk carioca: amigão, eu NÃO quero ouvir sua música, ônibus NÃO é balada. Já pensei em comprar esses fones de 2 reais e sair distribuindo para pessoas uó que acham que podem impor suas músicas uó dentro dos transportes coletivos uó.

No meu último trabalho, eu demorava de 10 a 15 minutos para chegar, 20 minutos se houvesse trânsito. Além disso, os ônibus nunca estavam apinhados de ceresumanos e, quando estavam, eu sabia que a tortura acabaria logo. Eu já estava desacostumada ao caos onibuzístico. Meu trabalho atual é bipolar: metade da semana num lugar, metade em outro. Um lugar é a Paulista, o outro é o meu bairro mesmo, dá até pra ir a pé. O problema é que a metade na Paulista inclui estar lá às 7 da manhã e às 7 da noite, o que significa horários de pico. O que significa ônibus lotadíssimo. Ontem, 6:15 da madrugada e tudo o que passava na avenida estava apinhado de gente.

Uma nova fase se inicia: a do meu novo trabalho, que até agora está bem legal. Uma fase antiga se reinicia: a dos ônibus fodidamente cheios de gentalha. Mas não tem tanto problema assim: eu estarei sempre munida do kit anti-social (óculos escuros, MP3 player e livro) para suportar essa parte não glamourosa dos meus dias. Ao menos, enquanto ouço minhas músicas posso sempre pensar que tudo é um musical e imaginar as pessoas todas dançando (como já contei aqui uma vez). E, se nada disso der certo, posso começar a caminhar até a Paulista. Chego lá suada, mas ao menos o suor será meu, e não dos creiços que bafejam no cangote das mulheres enquanto tentam passar pelos corredores nos ônibus.



* isso é uma referência a um capítulo de "A Feia mais Bela", que eu, Dani e Miru assistimos juntas num dia de nossa viagem a Arraial D'Ajuda. Uma ex-dondoca, indignada pelo fato de ter que pegar ônibus, ligava pra amiga Márcia e falava com uma voz esganiçada exatamente essa frase do título. Junte a voz esganiçada, com ÔMNIBUS e a dublagem péssima das novelas mexicanas e tenha piada interna pro resto da viagem. Passamos o resto dos dias falando que pra ir pra Trancoso "temos que pegar OMNIBUS MÁRCIA". :-)

5 comentários:

Anônimo disse...

esqueceu de falar dos dias de chuva. porque vc sabe, as pessoas não precisam respirar, bora fechar todas as janelas do ônibus. aí vc entra e, quando vai segurar no balaústre, eles estão EMBAÇADOS. nojo, pavor, choro e ranger de dentes. meu, não dá. movimento "eu quero um fusca pra já".

Juliana Eliezer (Joo) disse...

Eu ratifico tudo isso daí, mas deixa você comprar seu possante, que vai ter outras n reclamações pra fazer do trânsito! Eu proponho o movimento "vamos embora de são paulo djá".

Anônimo disse...

Ai amica, te intendo completamente! Cara, eu realmente queria entender a "moda" de ficar ouvindo musica no alto falante do celular. Já peguei metrô algumas vezes e me deparei com esta cena bonita.

Eu também saio de casa com o kit anti-social. Às vezes eu nem tô TÃO afim de ouvir música, mas é foda, não dá pra aguentar os barulhos ao redor de mim dentro dos coletivos. :/

Por quê ainda não inventaram o teletransporte? humpf.

Danimeirelles disse...

MARRRCIA, absurdo ter de aguentar tudo isso no OMNIBUS!

fl disse...

Tão chato qto música de celular são os sujeitos que falam em lugar público com aqueles aparelhos nextel no viva-voz, a toda altura, que toca um puta BIP cada vez que um dos interlocutores começa a falar. Outro dia tive que mudar do meu sagrado canto de balcão do bar, onde leio meu jornal tomando umas geladas, por causa de um babaca desses! E o sujeito ainda ficou meio ofendido, vê se pode.