Se eu colocasse em palavras ditas todos os meus pensamentos toscos eu com certeza não poderia conviver em sociedade. Ainda que muitas vezes eu fale mais do que devia, faça alguma piada infame muito fora de hora ou solte algum palavrão, eu obviamente só faço isso entre amigos. Entre conhecidos também. Mas não em ambiente de trabalho ou pessoas sem referência (pessoas sem referência são aquelas que chegam a você através das circunstâncias da vida: trabalho, curso de sei lá o que, academia, etc. Não chegam através de seus amigos, ou seja, não têm indicação nenhuma ou nenhum selo de qualidade. Porque, convenhamos, pessoas que chegam através de amigos já têm um puta passo à frente no quesito "possivelmente é legal"). No entanto, apesar desse filtro social, aqui é o meu espaço pra soltar o verbo. Então aí vão 3 situações em que eu me calei, mas que minha mente quase entrou em curto-circuito por eu ter que segurar a língua.
1) Na academia, o instrutor me explicando como fazer um exercício com pesos nas canelas e posição ingrata:
Instrutor: Isso. Agora fica de quatro e eleva o quadril.
Eu: Arrãm. Tá. De quatro. Assim?
Instrutor: Isso. Agora eleve a perna, bla bla bla, panturrilha, bla bla glúteos.
O que eu pensei em responder, mas não respondi:
Instrutor: Isso. Agora fica de quatro e eleva o quadril.
Eu: De quatro, professor? Sem nem me levar pra jantar antes, sem nem pegar nos peitinhos, sem bolinação? Que rapidez!
2) No trabalho, conversando com a professora de Espanhol:
Ela: Então, vão pegar os nossos laptops e criar login para acesso à impressora.
Eu: Nossa! Que ótimo! Como você conseguiu isso? A Fulana-Motivacional-do-RH tinha dito que não poderia...
Ela: Ah, eu tive que insistir muito.
Eu: Só assim que as coisas funcionam, né. Na insistência.
O que eu pensei em comentar, mas não comentei:
Ela: Então, vão pegar os nossos laptops e criar login para acesso à impressora.
Eu: Caralho! Que ótimo! A Fulana-Motivacional-do-RH tinha dito que não poderia, aí dei uma brochada de acesso à impressora.
Ela: Ah, eu tive que insistir muito.
Eu: É foda, só batendo muito o pau na mesa pra conseguir as coisas.
3) No trabalho, com um funcionário que possivelmente se tornará meu aluno:
Ele: Então você é a professora de Inglês?
Eu: Isso mesmo! *sorriso simpático*
Ele: Eu quero ter aulas, mas acho que perdi o período de inscrição, agora só no ano que vem.
Eu: Ah, mas converse com o RH. Você é nível gerencial? Às vezes eles podem abrir uma exceção. Pra mim não há problema algum!
O que eu queria ter perguntado, mas não perguntei:
Ele: Então você é a professora de Inglês?
Eu: Isso mesmo! Saindo da empresa mais de nove da noite, só professor, faxineiro, escravo ou executivo que fica vendo putaria na internet! *sorriso simpático*
Ele: Eu quero ter aulas, mas acho que perdi o período de inscrição, agora só no ano que vem.
Eu: Ah, mas converse com o RH. Você é pica grossa aqui dentro? Às vezes eles podem abrir uma exceção, sendo picudo pode tudo. Pra mim não há problema algum!
AINDA BEM que existe o filtro social, não é mesmo minha gente?
11 comentários:
hahahahaha! Adorei os diálogos... o da academia é o melhor... rsrsrs.
E quanto ao meu texto de aniversário, acho que toda boa apaixonada acaba pensando/dizendo as mesmas coisas nessas horas, não é? Mas a parte boa disso tudo é que eu também consegui fazê-lo chorar... =)
Beijo!
Eu sou igualzinho! Impressionante como nós nos condicionamos a responder de forma menos verdadeira - ou menos expressiva. Eu incoporaria muito mais palavrões na minha vida corporativa, se assim pudesse. E, às vezes, SÓ eles expressam as verdades das coisas.
Mas eu ainda me controlo. Ainda bem - ou não.
beijos!
PS: gostei tanto do estilo que fiz um post parecido. Do caralho esse texto!
o da academia ja se tornou uma perola. do tipo que vira comunidade do orkut (alias, oorkut nao seria um desses "filtros"? vamos filosofar a respeito.)
e vc eh professora de ingles, hein? vou saber, vou me aproveitar de vc. sem levar pra jantar, sem bolinacao, sem nada.
Ai teacher (só vou te chamar de teacher agora) você é tão phiiiina.
medo... muito medo de você!
Ai, essa vida em sociedade...
salvando o feriado-tedioso no pantanal esse seu texto...
Concordo: tamanho de pau é tudo nessa vida! E só to fazendo esse comentário que não diz nada porque faz tempo que eu não comento aqui.
Prefiro as pessoas sem filtro social. Papo reto, como diria o Baiano em Tropa de Elite. Haveria menos hipocrisia neste mundo, acho.
hohohoho, pena que quem deveria ter o filtro social não tem, né?
(eu adoro seu blog! assino o feed, leio sempre, mas ficava sempre sem graça de deixar comentário)
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