sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Dois mil e sete

Foi, sem sombra de dúvidas, o ano mais intenso da minha vida. Teve Bahia, teve amor, teve história, teve passagem de volta trocada duas vezes. Teve novos amigos, velhos amigos, baladas sensacionais, puteiro, um porre que entrou pra história; tarado me seguindo; mudança de trabalho, de vida, de maneira de agir; teve mexicano e saudade e coisas vividas, teve partida e lágrimas no aeroporto; depois do aeroporto; muitas lágrimas. Mas teve as melhores festas, as maiores galhofas, The Killers, The Rapture, Ben Harper. Teve forró, gafieira, salsa, samba rock, bolero, histórias sobre as aulas de dança, a vontade de dançar pra sempre. Teve Ilha Grande e Bonito, teve Pirassununga e muitas, muitas piadas internas. Teve a minha redenção e a certeza de que minha vida é uma novela. Ou um Show de Truman. Teve família e meus amigos, sempre, sempre. Ufa. 2007 teve muita coisa. Pra 2008? Eu quero é mais!

Feliz Natal e Ano Novo a todos! E obrigada por acompanharem minhas pirações, mimimis e infâmias!

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Como fazer uma mulher sorrir

Eu dançando com um dos professores sábado, na festa de final de ano da escola de dança:

Eu, depois de ter errado um passo de samba rock: Dureza dançar com iniciante, né professor?
Ele: Ai, Camila, que isso, né? Se você fosse velha, gorda, chata, fedida e dançasse mal, talvez eu não gostasse muito. Mas você é bonita, cheirosa, legal, nova, magra e ainda dança bem. É sempre um prazer.
Eu: *ruborizando* Hehe... Obrigada!

Na aula extra de forró na terça-feira, mesmo professor:

Ele: E sua prima, gostou da festa?
Eu: Gostou sim, principalmente do tango e bolero. Engraçado que ela é novinha e ficou apaixonada por bolero! Achei que ela fosse querer dançar só forró.
Ele: Olha como você fala da sua prima! Novinha, como se você fosse muito mais velha!
Eu: Mas ela tem só 17 anos!
Ele: Ué, e você não tem muito a mais que isso, né?
Eu: Hahahahahahaha, eu vou fazer 29 em menos de um mês.
Ele: Que é isso??? Achei que você fosse tipo uma pós-adolescente!

Em dois dias ele me chamou de bonita, disse que eu sei dançar e ainda achou que eu fosse bem mais nova. Acho que vou ali casar com ele e já volto.

Vivendo de acordo com os astros

A sorte do orkut disse que eu vou viajar para longe. O Personare me alertou que de hoje ao dia 22 o período é favorável para viagens. Eu vou mesmo viajar dia 22 - e para um lugar meio longe de São Paulo. Ou seja, minha vida é guiada pelas estrelas: não é mágico?

*acende um incenso e faz o mapa astral*

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

De 2004 pra cá...

Ano Novo de 2004: Acho que com minha família. Acho que vendo queima de fogos da Paulista.

Ano Novo de 2005: Em Copacabana, vendo a queima de fogos e chorando feito uma desgraçada por conta de uma desilusão amorosa.

Ano Novo de 2006: Na Bahia, em Arraial D'Ajuda, com duas amigas queridas. Estava bronzeada, feliz e seguiria pra Salvador logo em seguida. Em Salvador eu vivi dias lindos e na Bahia eu comecei uma história que mudou a minha vida.

É tão bom olhar pra trás e ver que tudo na sua vida melhorou... Das amizades aos amores, da vida profissional ao modo como você encara a vida. Acho que às vezes buscamos uma felicidade impossível, toda vez dizendo "se eu tiver aquilo eu serei feliz". Mas o "aquilo", quando chega, é substituído por outro e assim por diante. Eu quero muitos "aquilos" e um "aquele", mas posso dizer que estou feliz do jeito que estou: uma felicidade simples, de agora. Uma felicidade de quem vê que se tudo melhorou até agora, com certeza poderá melhorar ainda mais.

domingo, 16 de dezembro de 2007

Love in the Time of Cholera

http://www.imdb.com/video/trailer/me60971208

Estréia dia 28 de dezembro. Estou hiperventilando de ansiedade. E lagriminhas já começam a querer cair dos meus olhos. Tudo bem que dia 28 de dezembro estarei viajando e provavelmente só conseguirei assistir na segunda semana de janeiro, mas não há problema em esperar. Aliás, tudo o que o livro mostra é que não há problema em esperar. Só espero estar com o coração bem calmo quando eu assistir, porque senão é certeza que vou inundar a sala de cinema com meu choro. E é por isso que certamente irei sozinha assistir a esse filme. Eu já disse que me recuso a ser Florentino Ariza e tenho certeza que o meu Fermina Daza nunca entenderia essa espera. Mas, ainda assim, é a história de amor que eu invariavelmente associo com coisas que senti e escrevi.

I wanna dance the night away

Ontem foi a festa de final de ano da escola de dança. Depois de três meses e pouco de aula, eu posso dizer que já sei dançar forró direito. Sei arranhar no samba de gafieira. Sei o básico da salsa, foxtrote e bolero. Posso dizer também que a dança foi a minha terapia, que eu realmente me divirto nas aulas e depois delas contando algumas coisas aqui e que eu me apaixonei mais ainda por dançar. Já sei me deixar conduzir, já tenho um parceiro preferido e já sei até fazer um passo em que o cavalheiro me levanta no ar e depois me joga pra trás. Um AHAZO.

Infelizmente apenas Hairspray foi à festa. Queria tirar fotos com todos eles, do Cheek to Cheek ao Homem Geladeira. Não postarei a foto de Hairspray aqui porque eu tenho noção, embora não pareça. Na foto, estou tentando dançar bolero com o Evandro, que não tem apelido porque dança bem e nem é da minha turma.

O Homem Geladeira, de quem nem cheguei a falar aqui, aparentemente desistiu das aulas. Acho que a partir do apelido vocês conseguem imaginar como o rapaz se movia com graça e leveza pelo salão. Cada passo parecia uma bigorna caindo: BONK BONK BONK. Ele não conseguia dobrar as pernas, então era dureza. Aí ele ficava nervoso e suava muito, o que me dava um certo nojinho, porque eu segurava nas costas dele e, além de sentir a pelagem hirsuta digna de urso, ainda sentia a umidade. Eu sentia dó dele, porque ele ao menos tentava e tinha MESMO dificuldade, mas confesso que mais de duas músicas com ele eram uma tortura. E o quesito suor tornava tudo um pouquinho mais problemático. E quem quiser me chamar de escrota, fique à vontade.

Nosso amado Cheek to Cheek continua querendo fazer contato visual fortíssimo enquanto dança. Mas ele melhorou demais a condução, mesmo. Tirando o "olhos nos olhos, quero ver o que você diz", foi até bacana dançar com ele nas últimas aulas. Ele aprendeu a dar os comandos direito, parou de pegar nas minhas costas como se fosse uma moça e faz todos os passos muito direitinho. A parte engraçada é que às vezes ele dá uma de Sandra Rosa Madalena e faz firulas meio à la Sidney Magal, ainda que sem perceber - mas isso é divertido. E na última aula ele levou o avô dele pra assistir, e meu coração se enterneceu com a maneira com que ele falava com o avô. Sério, achei muito fofo. Cheek to Cheek é um bom rapaz.

Hairspray começou a assistir aulas durante a semana também. Aprendeu novos passos e começou a se achar o Carlinhos de Jesus depois de 20 quilos a mais. Eu comecei a ficar irritada, porque ele começou a falar coisas do tipo "aaah, mas eu sei uns passos que você nem sonha ainda" ou "se você dançar direitinho eu penso em te ensinar coisa nova". Melkoo de azul, né amigão. Tá achando que é jurado do "Dança dos Famosos"? Quando eu disse a ele: "Fulano, toda vez que você se achar pro meu lado eu vou pisar no seu pé, com força", ele parou com a chatice. Ainda bem.

Em janeiro as aulas voltarão, mesclarão duas turmas de nível intermediário, então acredito que o show de bizarrices continua. Eba!

sábado, 8 de dezembro de 2007

The Curious Incident of the Dog in the Night-Time, by Mark Haddon

"Prime numbers are what is left when you have taken all the patterns away. I think prime numbers are like life. They are very logical but you could never work out the rules, even if you spent all time thinking about them".

"And Father said: Christopher, do you understand that I love you?

And I said "yes", because loving someone is helping them when they get into trouble, and looking after them, and telling them the truth, and Father looks after me when I get into trouble, like coming to the police station, and he looks after me by cooking meals for me, and he always tells me the truth, which means that he loves me".

Christopher é um menino de 15 anos que tem autismo. Sua visão de mundo é muito, muito peculiar. Mas acho que faz tanto sentido...

Obrigada pela recomendação, putão.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Matt Damon e celulite num texto sem sentido

Eu acho o nome "Matt Damon" muito sonoro. Não pretendo explanar a respeito - contentem-se com isso, apenas: eu acho um nome sonoro. E acho o Matt Damon lindo, lindo de um jeito não perfeito. O Brad Pitt, por exemplo, é lindo. E perfeito. É tão perfeito que eu não consigo fantasiar um casamento com ele. Nem mesmo uma noite tórrida. É perfeição demais, e homens assim, esteticamente perfeitos, procuram por mulheres (ou homens) esteticamente perfeitos. Não quero dizer que eu tenha algum tipo de chance com Matt (ui) ou com algum sósia dele, só porque ele não tem uma beleza perfeita. Mas, com ele, ao menos consigo imaginar uma noite caliente, um namorico, um casamento... Enfim, consigo fantasiar todas essas coisas bestas que mulheres fantasiam quando não têm mais no que pensar.

A primeira vez em que vi Matt foi no filme "Gênio Indomável". E foi o que bastou para eu me apaixonar - por ele e pelo filme. É um filme que certamente está na lista de meus filmes favoritos. Não é europeu, não é cult, não é o tipo de filme que te deixa com um grande "HEIN" estampado na testa. Mas eu não sou pró filmes intelectualóides, anyway. Aí tem essa cena em que o personagem do Robin Williams (Robin geralmente faz esses filmes sobre ter amor no coração e ser legal, e eu o acho bem chato. Mas esse personagem é bacana) fala pro personagem do Matt Damon sobre sua falecida esposa. E diz que a saudade que ele tinha dela era enorme, mas mais ainda das idiossincracias dela, das coisas que só ele sabia que ela fazia, porque essas coisas e ele saber dessas coisas eram a real intimidade deles. Que o amor dele era tão grande que essas idiossincracias se tornavam a "graça" da relação.

Aí eu estava nesses momentos de profunda reflexão e cheguei à conclusão de que o cara terá que amar minhas idiossincracias. Minhas neuroses. Meu jeito de pensar que às vezes só faz sentido pra mim. Mas, antes de mais nada, ele terá que amar minhas celulites. Porque jemt do cél, ô praga difícil de lutar contra, viu? Estou em processo de abstração, de pensar que meu jeito E as minhas celulites são o que me tornam especial. Sei lá, isso deve surtir algum efeito psicológico.

Eu acho que Matt Damon é o tipo de homem que se preocupa com aparência, mas não liga pruns furinhos aqui ou ali nas coxas e bunda da mulher. Matt, I'd marry you big time! Call me!

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Vai trovejar, vai cair, um temporal de amor

(espero que vocês se lembrem dessa maravilha do cancioneiro popular cantada por Zezé di Leonardo e Xororó - eu raramente sei quem é quem)

Eu estava atrasada e tive que pegar um táxi. No meio do caminho, um dos meus alunos me liga pra avisar que nem ele e nem o colega de classe dele irão à aula. Projeto, sei lá, essas coisas chatas de consultores. Não houvesse um terceiro aluno na turma, eu pediria ao taxista que desse meia volta e me levasse novamente para casa, onde eu poderia recolocar meu pijama e voltar a dormir. Mas há o terceiro aluno, e cá estou. A questã é que o tal terceiro também não veio. E não me avisou. Eu ainda não entendi por que raios alguns alunos não me avisam sobre suas ausências em aula. É tão simples não deixar a professora com cara de palhaça esperando por alguém que nunca chegará: basta ligar pro meu celular. Ou mandar sms. Todos os meus alunos têm o meu número - exatamente pra me avisarem acerca de alguma eventualidade. Mas não, alguns preferem me deixar aqui, esperando. É verdade que eu recebo do mesmo jeito; mas, pensem cá comigo: se a pessoa me avisa cedíssimo, eu posso continuar dormindo. E dormir é um das minhas prioridades de vida. Acordar tarde é um privilégio, ainda mais hoje, com essa chuvinha. Então, amiguinhos, aprendam: se vocês tiverem um professor particular e precisarem faltar na aula, avisem-no. Não custa nada e vocês ainda mostram consideração. Não é um mimo?

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Ay, palomita... Ay córazonzito! Hasta cuando estaré, yo sufriendo?

No blog, tenho sempre visitas de Sudbury, Ontario. Mountain View, California. Boston, Massachusetts. Miami, Florida. Irvine, California. Portugal, Finlândia, México, vez ou outra. Mas hoje eu recebi uma visita de COCHABAMBA, na Bolívia. E adorei. Porque eu tenho esse desejo bastante estranho (eu sei) de ir pra Bolívia algum dia. Uns amigos suíços disseram elogiaram tanto aquele país que fiquei com vontade de conhecer: disseram que falta estrutura turística, que é tudo muito pobre e que eu não devia ir sozinha. Maaaas... Também disseram que foi um dos lugares mais bonitos que eles conheceram na América do Sul. E eles estiveram em quase todos os países da América do Sul. Meu roteiro seria: Pantanal, ônibus até Santa Cruz de la Sierra, trem até Lima, de Lima para Macchu Picchu. Eu gostaria de "dar uma passadinha" no deserto de sal e dar uma mochiladinha por alguns lugares na Bolívia. E, com certeza, passaria por Cochabamba, porque né, com esse nome, eu acho que a cidade realmente merece uma visita.

O título desse post é uma música que, se não me engano, é do folclore da Bolívia. Não tenho certeza. Mas, se não for, é de algum lugar da América Latina. Eu conheço um monte de músicas folclóricas da América Latina porque minha mãe namorou um bom tempo com o percussionista de uma banda brasileira de músicas latino-americanas. É excêntrico, eu sei. Mas minha mãe me fez estudar numa escola onde a professora falava sobre gnomos. Namorar um percussionista de uma banda completamente alternativa é até um ato de normalidade.

Quando eu tiver dinheiro e já tiver ido a todos os outros lugares que são Top 5 na minha lista de viagens, eu irei pra Bolívia. Dar um alô pros cochabambenses (??) e aprender mais algumas musiquinhas folclóricas.

Besa que te mesa, boquita de cereza!
Eu tenho preconceitos com muitas coisas e admito isso sem pudores. Porque sabem, não existe isso de "eu não tenho preconceitos" ou "eu sou sossegado e ok com tudo". Se você é sossegado e ok com tudo você é bem apático, me desculpe. Todo mundo precisa de uma implicanciazinha pra ser feliz ou pra mostrar que consegue não ser uma mosca morta. Eu não suporto gente sonsa/songa monga que está sempre ok com tudo. Preconceito admitido. Detesto com todas as minhas forças pegar ônibus lotado. Sempre detestei. Não gosto de gente roçando em mim, não gosto de desconforto, não gosto de ficar em pé e gosto menos ainda de pessoas que ouvem música no ônibus usando o speaker do celular ao invés dos fones de ouvido. Isso me enerva tanto que eu sempre me imagino dando um salto mortal até chegar no cerumano, seguido de golpes de karatê pra tirar porra do celular que toca algum maldito sertanejo ou famigerado pop rock. Eu não suporto esse termo: pop rock. Tenho preconceito. Porque gostar de pop rock é o mesmo que dizer que é eclético, ou seja, significa que você ouve Metropolitana FM e acha que NX Zero é a nova promessa do rock. Em outras palavras, você não vai além.

E aí, pra corroborar essa teoria inútil de que pop rock é coisa de gente idiota, hoje recebi um scrap da menina citada no post anterior convidando os miguxos para irem à festa de aniversário dela. Numa balada show (mais um preconceito: quem fala "balada" como se fosse o máximo e quem usa "show" como adjetivo para tudo. Essas duas palavras na mesma frase me dão siricoticos) onde haverá duas pistas: uma com pop rock e outra com psy, eletrônica e pancadão. Muito psy pra galere, hein. Aí a çerumana, depois de "pancadão" coloca um "hehehe", como se o pancadão fosse o problema. Gata, problema é tudo, o funk é realmente o de menos. Eu consigo ver mais autenticidade nas "letras" indecentes dos funks cariocas do que em músicas que rimam "amor" e "calor".

No geral, se eu estiver com gente legal eu me divirto com qualquer coisa. O problema não é esse. Eu dou risada do que for, danço o que for, desde que as companhias sejam legais. O problema, pra mim, é não ir além do tal do pop rock. É achar que muito psy pra galera é o máximo. É dançar "fazer amor de madrugada" e completar com "em cima da cama, embaixo da escada" como se isso fosse "UAU, que incrivel". Isso me dá muita, muita preguiça.

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

15 anos

Quando eu estava no primeiro ano do magistério, tinha essa menina de 14 anos mas parecia ter 20. Ela era alta, bem fornida e muito brava. Ela não aceitava que você dissesse que não gostava das mesmas coisas que ela, porque as coisas das quais ela gostava eram quase sagradas. Ela gostava do Mickey, idolatrava o Palmeiras, usava adjetivos que normalmente são usados para descrever comida ou superfícies transparentes (crocante e cristalino) e amava o professor de História. Na cabeça dela, se ela gostava do Mickey, do Palmeiras e do professor Cristalino, todos tinham que gostar deles também. E, vocês sabem, aos 14, 15 anos, sua cabeça ainda tem muitos espaços vazios que podem ser preenchidos com idiotices alheias. Resultado: mais da metade da turma falava do Mickey e do professor - que era um ótimo professor, por sinal, um dos melhores que eu tive. Mas ele era feio DEMAIS. Cara de areia mijada, rosto vermelho. Não tinha nada que justificasse aquele furor uterino adolescente.

Eu era bem quieta e bem "na minha". A única coisa que fazia com que eu me exaltasse, naquela época, eram os trabalhos e provas e seminários. Eu era muito, muito nerd e compensava minha inabilidade social com as minhas notas. No último ano do magistério eu já estava um relaxo, mas no primeiro, eu era insuportavelmente CDF. Eu nunca quis gostar do Mickey e nem do Palmeiras. Eu me dava muito bem com o professor Cristalino, mas porque eu era uma boa aluna que fazia todos os trabalhos e professores geralmente gostam de alunos interessados. Um dia, o Cristalino falou pra classe toda que eu era a melhor aluna dos primeiros anos. Eu morri de vergonha, as pessoas me chamaram de CDF e tudo teria acabado aí, não fosse o fato da tal menina bem fornida ter ficado com raivinha. Foi aí que eu vi que ela não era nada esperta: se ela queria a atenção do Cristalino, era só fazer os trabalhos. Simples assim. Além do mais, ele era gay, então nem adiantava querer chamar a atenção dele com a sua bunda enorme. Pra ele a bunda enorme da menina era, sei lá, invisível.

Depois, ela caiu pra fazer um trabalho comigo e não fez nada. Eu estava meio cansada de carregar grupos nas costas, porque eu era idiota e fazia os trabalhos e as pessoas ganhavam nota com o que eu havia feito. Aí resolvi ser escrota: na avaliação do grupo, eu falei pra professora de Geografia que eu havia feito tudo sozinha. Ou seja, eu fodi com a nota da menina bunduda. Ela me odiou, muito, é lógico. Uma baixinha semi raquítica, com óculos fundo de garrafa e inabilidade social, foder com a nota dela? Eu até entendo o ódio. E acho que fui escrota. Mas naquela época eu nem pensei nisso, não tive tempo: a menina começou a ameaçar de me bater. Ela tem 1,80, eu tinha 1,54 na época. 1,54 e 39 quilos. Percebam: eu era MUITO PEQUENA. Tive medo da bunduda, mas depois a raiva dela passou e tudo ficou bem. Mas tudo ficou bem só depois da metade do segundo ano. Até lá, se eu entrasse na sala dela (no segundo ano mudamos de turma), ela começava a falar alto "o que essa magrela insuportável tá fazendo aqui??? Vou tirar essa menina à força". Eu tinha medo dela realmente me bater. E esse foi meu episódio de BULLYING.

Mais de dez anos depois, vem o orkut. E a menina me acha no orkut. A turma do magistério marca um reencontro e eu vou. Lá, a bully girl diz que aquilo são águas passadas e que ela mudou e que nossa, que vergonha ela ter me ameaçado daquele jeito. Esses reencontros são patéticos, mas servem pra você ver que as coisas passam e você muda, e puxa, mudar faz parte do crescimento. Só que vendo o orkut da Cristalina eu vejo que ela continua idolatrando o Mickey, continua usando o adjetivo "cristalino", continua com fanatismos (agora, além do Palmeiras, tem o Charlie Brown Jr - porque Chorão é poeta, vocês sabem. E ela diexa claro no perfil que você não é autorizado a falar mal de Charlie Brown. AME-OS. AGORA). Ela continua achando que é linda (auto-estima é muito importante) e continua usando frases estúpidas do tipo "não gostou de mim? eu não me importo, você não é nada, eu me basto". Sabem, ela tem 29 anos. Charlie Brown Jr e frases de miguxa. Não dá.

Eu tenho essa sensação de que as pessoas pararam no tempo sempre que reencontro alguém das antigas. Parece que as pessoas se congelaram ali, nos idos dos anos 90, e fazem as mesmas coisas, gostam das mesmas coisas. Eu mudei muito nesse tempo. Dos 15 aos 28, é água DEMAIS passando embaixo da ponte. Não freqüento os mesmos lugares de quando tinha 20 anos, não ouço a mesma música que ouvia aos 15. E acho normal. Essa coisa de mudar. É normal. É amadurecimento. Por que, então, as pessoas gostam TANTO de serem as mesmas, negando a ordem natural das coisas? Ninguém aprende com a vida, não?

Eu, hein.