terça-feira, 25 de setembro de 2007

Me amarrota que eu tô passada - ou - mais uma história envolvendo puteiros

Quando eu acho que estou perdendo a capacidade de me surpreender ou de me chocar, já que me chocar é algo realmente difícil, lá vêm eles, meus alunos, para me jogar na cara que eu ainda consigo. Eu ouço histórias mirabolantes às vezes, e, vez ou outra, alguém me conta algo que me deixa realmente de queixo caído. Principalmente as alunas, quando me contam suas desventuras amorosas - a quantidade de filhos-da-puta no mundo só aumenta, meu povo. E lá fico eu com minha cara de teacher-mãe-psicóloga, querendo ligar pro corno casqueré sanguinolento e dizer umas poucas e boas.

Mas hoje eu fiquei meio bege quando um aluno me perguntou o que é um PUB. Tipo, leu no livro, não tinha a menor noçã do que era e queria uma traduçã. Morador de São Paulo, com vinteepoucosanos, aparentemente solteiro e esteticamente aceitável, a pessoa não sabe o que é um pub. Comassim? Que nunca tenha ido num, que odeie sair à noite, que goste de rezar o Pai Nosso de cueca em casa, ok. Mas nem fazer idéia do que seja... Fiquei chocada.

Aí eu lembrei que há pouco mais de um ano tive uma aluna que não sabia que nos puteiros as putas iam para quartos e, pasmem!, entregavam seus corpos em troca de uns caraminguás ali mesmo. Gentem, elas vendem suas jóinhas ali, nos quartos mesmo, elas fazem um amor gostoso com desconhecidos naquele ambiente onde, cinco segundos antes, estavam esfregando as partes pudentas em algum rapaz! HOW SHOCKING IS THAT? Sem nem um cineminha antes?

Ela achava que as moças das casas de tolerância marcavam um encontro pra depois. E o papo todo começou porque um aluno da turma disse que teve que levar uns amigos gringos ao Bahamas e ela disse, animada "ai, sempre quis ir lá! Me leva? Sempre ouvi falar dessa balada, tava querendo ir com umas amigas". O aluno, muito escolado na arte da malandragem, me olhou divertido e respondeu para a moça, tentando ficar sério: "Levo, claro, mas é melhor eu levar uns amigos para protegerem também suas amigas". Foi quando eu vi a cara de interrogação dela e resolvi revelar que o Bahamas era um puteiro. Whore house, darling. E aí ela me revela aquilo que vocês já leram no parágrafo anterior e. A cara da menina de choque quando soube que putas dão no puteiro só perdia para a cara de pasmem do aluno e para a minha de "cadê a câmera escondida?". Tive certeza que aquilo era Pegadinha do Mallandro.

Semanas depois, mesma aluna, mesma sala, mesmas pessoas. Ela me conta que foi num ensaio de escola de samba e, perto dela e das amigas, havia um grupo de gays dançando muito entusiasticamente. Travas muito loucas aprontando altas jogações muito dignas na escola de samba. Ahazaram, bees! Minha ex-aluna, novamente em choque, disse que ficou perplexa com a soltação de penas e completou que prefere ir em casa de suíngue que em buatchy gay. Eu não me contive, confesso. Soltei sonora gargalhada, enquanto perguntava se ela tinha noção de que casa de suíngue não é balada pra dançar com muito suingue e malemolência. E aí fui obrigada a explicar o que é uma casa de suingue e dizer que, se ela prefere ir ali, ok, mas que ela esteja ciente do que terá pela frente. Mais uma vez ela ficou chocada (pessoas fazem SEXO? ALI? TROCA DE CASAIS? ISSO EXISTE?), o aluno estava com a cara mais chocada ainda (você tem 26 anos e não sabia o que era um puteiro e uma casa de suingue?? HOW COME?) e eu tive a certeza de que, em se tratando de dar aulas, eu sempre, sempre terei mil motivos para me surpreender. E até mesmo me chocar.

No fim, acho que foram as aulas mais informativas que dei na vida. E aposto que nenhuma outra professora que minha ex-aluna tiver vai explicá-la tão didaticamente sobre as coisas da vida. Eu prometi levá-la à Augusta, porque, acreditem, ela nunca passou por ali no lado neon da coisa. E o legal é que ela encarou tudo tão numa boa que, meses depois no aniversário dela, fez questão de me apresentar ao namorado dizendo: "amor, essa é minha professora, aquela que me ensinou o que é puteiro".

Jemt, tenho orgulho, sabe? Ao menos alguma coisa eu tenho certeza que ensinei direito e pra vida toda: o que é um puteiro.

domingo, 23 de setembro de 2007

Cheek to cheek

Eu comecei a fazer aulas de dança de salão aos sábados. Não só porque eu amo dançar (quantidade de vezes em que essa frase foi escrita nesse blog: 736.438), mas também porque a dança funciona para mim como terapia. Como eu sou meio descrente de terapeutas e psicólogos em geral, preferi me entregar a algo em que realmente acredito: nada como fazer coisas prazeirosas para si mesmo para se sentir bem. Simples, não?

Já sei os passos básicos de forró, merengue e samba de gafieira. Por passos básicos entendam que eu sei apenas andar pra frente e pra trás, pra um lado e pro outro, no ritmo da música e fazendo algumas trocas de pé, isso juntamente com um parceiro. Não é nada. Na semana passada em que fiz um curso ultra-rápido de samba rock, e que tivemos que aprender o básico e os giros todos em 3 horas, aí sim eu senti que estava dançando. Mas, por enquanto, nas aulas de dança de salão, eu só sinto que sei andar no ritmo das músicas.

Músicas lindas, viu minha gente. Outro dia era "Let it be" em espanhol e em ritmo de merengue. Não perguntem, até agora eu não compreendi. Já teve, obviamente, muito Fala Mansa, para meu desespero. Teve também Alceu Valença, Luiz Gonzaga, Beth Carvalho, e eu gosto deles, mesmo. Melhor mesmo foi ontem, que tocou Katinguelê. Um clássico do pagode brega dos anos 90, ou seja, eu sabia a música inteira e cantei todinha enquanto tentava marcar os passos com um dos meus parceiros de dança.

Cada aula dançamos com no mínimo dois parceiros diferentes, numa promiscuidade dançante sem igual. É legal ver a democracia fazendo escola: gordinhos, magrinhos, bombados, senhores de idade, gente com ritmo, gente sem ritmo, pessoas desajeitadas, pessoas que conseguem seguir as aulas. É uma diversidade que deixaria a ONU feliz. E, nesse troca-troca de cavalheiros, há dois sábados eu danço com o cheek-to-cheek.

Cheek-to-cheek já comprou sapatos específicos para dança, o que mostra que ele está a fim de levar a sério. Mas eu ão precisaria olhar pros sapatos pra saber que ele está a fim de levar a sério. Nosso amigo CTC (só pros íntimos, bees) é o estereótipo do geek de filme americano que quer desabrochar na vida - quase uma mariposa. E, vocês sabem, geeks costumam levar as coisas a sério. Eu sou uma e sei disso. Ele usa óculos fundo-de-garrafa e é só um pouco mais alto que eu, o que significa que toda vez que CTC me olha, eu vejo seus olhos maiores do que são. E CTC é bacana, é esforçado e eu acharia legal dançar mais com CTC não fossem dois detalhes: primeiro que ele quer dançar merengue de rostinho colado. Gato, não rola. Merengue é pra rebolar e querer ser o Ricky Martin, pra se imaginar dançando com maracas e camisa de cetim aberto, bem sensual (cof cof cof). Não há meios de fazer um cheek to cheek ternurinha dançando merengue. Pois bem, a distância de minha bochecha e da dele, distância imposta silenciosamente por mim, o fizeram desistir da idéia. E é aí que entra o segundo detalhe, detalhe esse que realmente me incomoda: ele quer dançar tudo, absolutamente tudo, olhando bem fundo nos olhos. E aí eu vejo os olhos arregalados pelas lentes e fico me achando um ser humano horrível, desses que eu chamo de cerumano mesmo, por achar ruim esse clima "olhos nos olhos, quero ver o que você diz". Mas assim: jemt, eu não estou lá para fazer amigos e influenciar pessoas, muito menos pra entrar num esquema dança sensual com um cara que não me atrai em absolutamente nada. Eu só quero dançar sem errar muito. Olha que desejo mais prosaico.

Agora, toda vez que CTC me tira pra dançar, eu começo a ficar nervosa porque sei que ele vai ficar me olhando, e aí eu danço olhando por chão e pros meus pés, ou então pro espelho. Aí o professor fala pra gente ter postura e erguer a cabeça, no que eu obedeço, para então dar de cara com aqueles olhos arregalados para mim. Aí ele tenta puxar papo, e aí desconcentra dos passos, ele erra e eu erro, conseqüentemente, já que na dança de salão é o homem quem conduz tudo. E eu fico rezando pro professor fazer a troca de pares, mas geralmente ele deixa a gente dançando mais umas 3 músicas, e eu me sinto mal porque não quero conversar e nem olhar nos olhos e nem fazer cheek to cheek com o Cheek-to-Cheek; mas eu sei que ele só está se esforçando também. Talvez ele tenha objetivos mais sociais que os meus, mas ele também quer dançar direito e aprender, assim como eu.

Ai, que difícil.

Aluna

Ontem eu saí com dois amigos da escola onde trabalhei, para uma noite de fofocas, bebidas, risadas e mais fofocas. E aí eu soube que uma ex-aluna minha, queridona, lê meu blog e falou pra minha amiga que adora. Eu fiquei toda prosa, sabem?

Milena, tenho saudade das nossas fofocas matutinas! :-))))

Meu mimimi de domingo

A vida segue seu rumo, eu continuo seguindo o meu e vivendo a minha vida, bem e na medida do possível, aproveitando o que posso. É um misto de conformismo e praticidade, já que o México não mudou de lugar e continua sendo muito, muito longe; então, o que posso eu fazer? Mas tem horas em que a saudade é tanta e tão grande que eu penso haver uma parte de mim reservada única e exclusivamente para ela, que se alojou aqui de mala e cuia pra nunca mais sair. E eu fico me achando a pessoa mais bipolar do mundo, porque eu consigo separar tudo o que vem me acontecendo dessa saudade toda que eu sinto. Nada se mistura. Mas é domingo à noite e, nesse momento, eu só queria poder mandar minha praticidade à merda e dizer que tudo o que eu mais queria era o seu abraço.

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Wonder Years


Winnie Cooper nunca me deixa só. Se vou para a cozinha, ela me segue. Se fico na sala, ela fica em meu colo. E se estou usando o computador, ela fica nos meus pés ou faz graça em cima da mesa: sobe e fica me olhando com essa cara de Gato de Botas do Shrek. Fala se essa foto não causa sérios ataques de ternurinha?


Ao lado de Winnie, "O amor nos tempos do cólera". Eu venho ensaiando pra falar sobre o Gabriel García Márquez aqui. É o terceiro livro dele que leio em um mês e pouco. A partir daí vocês percebem o FUROR - ou seja, quando eu começar a falar sobre ele, não vou parar mais. Gabo me emociona.

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

My story about Love Story

Há umas duas semanas eu saí com dois amigos que trabalharam comigo na escola. Começamos a noite num bar no meu bairro, de lá fomos ao O' Malley's e encerramos a conta e passamos a régua na famigerada Love Story. O' Malley's, para quem não é de São Paulo ou então viveu nessa cidade, porém numa bolha nos últimos 10 anos, é um pub irlandês bem conhecido por servir Guinness, ter muitos gringos perdidos sedentos por um ambiente onde possam falar mais que "uma ceveja, pourrr favouuur", ter pessoas diversas (as in bizarras) e bandinhas que tocam suuu-ces-sos. Love Story, para quem não é de São Paulo ou então viveu nessa cidade, porém freqüentando igrejas e conventos, é uma pré casa de tolerância. Pense que lá não há quartos para as moças da vida venderem seu amor por algumas horas (essa frase ficou tão sutil que chego a orgulhar-me de mim mesma, haha); mas há uma pista de dança enorme, com alguns ambientes e palcos com mastros (ui) para as mesmas moças da vida poderem fazer suas dancinhas sensuais e seu pole dance de cada dia e, quem sabe, sair de lá com algum programinha garantido. Dizem por aí que o som de lá é muito bom, melhor do que em muita buatchy da cidade. Dizem por aí que é um ambiente até legal, muito interessante e mais light que puteiros. Por "dizem por aí" vocês entendam "meu amigo dinamarquês e freqüentador me disse".

Pra quem já foi em puteiro na Augusta acompanhada do ex, tomou drinks e viu show de strip, boate no Centro é café pequeno. Além disso, eu sou muito curiosa e gosto de conhecer coisas diferentes, não importando se o diferente é bizarro ou exótico. E lá fui eu e meus dois amigos, que prometeram me "proteger" caso algum rapazola mais afoito quisesse tocar em minhas partes. Chegamos lá umas 2:30 e o lugar estava apinhado. Apinhado de gente feia. Eu gosto de tipos variados e acho o máximo ambientes onde as pessoas são diferentes entre si ou simplesmente diferentes. Não era o caso ali: vi um monte de gente que eu posso ver diariamente no ônibus às 6 da manhã, no Largo 13 ou da Batata e no Vale do Anhangabaú. A diferença é que ali o pessoal estava arrumado pra baladzinha, ou seja, um perfume tosco pairava no ar, a quantidade de gel no cabelo, colares de côco, calças jeans de popozuda, pílsins e pancinhas de fora eram o padrão. The horror, the horror.

Eu sou da filosofia de que se você está no inferno, pode e deve abraçar o capeta. Talvez eu tenha ido no meu dia errado, talvez eu devesse ter voltado pra casa logo que entrei no ambiente e aquela música tuts tuts insana quase estourou meus tímpanos. Eu não gosto de dance music e pra eu achar graça nisso tenho que estar no nirvana do meu bom humor, bondade e bem-querer com a vida. Não era o caso. O ambiente lotadíssimo, os caras uó, as meninas dançando nos palcos e tendo que escolher entre o menos pior para lhes passar a mão na buzanfa não foi algo exatamente divertido. Quem sabe se eu voltar lá uma outra vez, preferencialmente na próxima encarnação, eu consiga me divertir. Continuo achando que o puteiro foi muito mais roots e divertido (porque levar um casal de australianos e um mexicano num puteiro na Augusta tem muita graça, viu zentzie). Só sei que toda aquela música, aquelas pessoas, aquele lugar, o sofá vermelho de plástico grudento, as creiças se beijando pra atrair os hômi, tudo isso só me preparou para que eu ficasse bastante irritada quando, ao cruzar a multidão cheirosa, eu tivesse minhas partes pudentas apertadas algumas vezes. Foi fom-fom nos peitos e fom-fom na bunda, numa sinfonia coroada por "que zoooolhos*, hein gatinha". Pensem em corredor polonês. Agora pensem em creiços nesse corredor, passando a mão em todo ser portador de seios e vagina (fina, mais uma vez). Poi zé: era isso.

Sábado passado saí com meu amigo dinamarquês, que sempre disse que ia me levar a essa Sodoma e Gomorra do mau gosto. Contei que finalmente havia conhecido o Love Story e que só voltaria lá em outra encarnação ou pra levar algum amigo gringo que eu amasse muito - porque só por amor, viu, minha gente. E aí meu amigo ficou meio indignado me achando fresca. Disse que eu não devia estar no clima e que uns fom-fons na bunda não traumatizam ninguém. Ah, meu, péra lá. Lembre-se de suas bolas dinamarquesas e pense se você ia gostar de passar por um local onde pessoas fizessem um fom-fonzão ali sem você nem pedir. Pense se você ia curtir uns bafos fedidos no seu cangote importado. Eu fui lá porque quis e por curiosidade, agora posso dizer com propriedade que aquilo ali é uó. E eu não acho que meus peitos e minha bunda fiquem traumatizados com apertões, mas eu tenho o péssimo hábito de escolher bem o fazedor de fom-fom. Vê lá se eu sou desfrutável pra achar graça em creiços apertando minha bunda. Era só o que me faltava.



* "que zolhos" é uma frase que marca minha vida. Toda vez que passo por uma construção ou algum lugar digamos assim, mais popular, essa é a frase que eu ouço. Porque eu tenho olhos verdes e aí os moços querem elogiar. Essa frase já ficou tão famosa que eu tenho até uma amiga que me cumprimenta assim no msn: "oi gata. ki zolioooos!!!11". Acho digno. Miru, te dedico!

terça-feira, 18 de setembro de 2007

Tempo, tempo, tempo, mano velho

Minha percepção de tempo esse ano está completamente alterada. Tudo tem passado tão rápido que vivo com gosto de lembrança na boca e ares de nostalgia no rosto. O "faz tanto tempo" pode se referir a um mês atrás, enquanto que o "parece que foi ontem" pode se referir ao começo do ano, a maio, a julho, a agosto; tudo e todos se misturando numa coreografia sem fim dentro da minha cabeça. E se agosto foi mês do desgosto, em que parecia que o tempo não passava e eu sentia meu peito se encolher e meu coração diminuir a cada dia, setembro parece ser uma sucessão de coisas, pessoas novas e velhas, noites, planos. Tantos e tantos planos que me ocupam e me deixam num estado constante de ansiedade, ansiedade essa que me persegue pela vida. Agosto parece que foi em janeiro, janeiro parece que foi ontem, e vice-versa, porque se a idéia de tempo é mesmo relativa, eu só tenho comprovado isso na pele. Eu penso em 2007 e parece que já vivi TANTO que não é possível que haja mais novidade. Mas sempre há. Sempre haverá. E hoje em dia eu estou feliz com o que passou, com o que está acontecendo e com a expectativa do por vir. E aí sigo em frente, sempre um pouco mais agitada do que deveria, sempre com uma pontinha de saudade que já é parte de mim e sempre com a idéia de que há muito, muito mais tempo pra se viver.

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Há dias que eu só faço tossir. Mas não é tosse "cof cof cof", é daquelas bem "Cooooooaaaaaaf ruaaaaaaf coooooooooooof" mesmo. Crises de garganta seca, acessos de tosse durante as aulas, no ônibus, na aula de alongamento, na balada. Sábado eu tive que voltar mais cedo do CB porque parecia um cachorro velho e asmático. As pessoas começam a não querer ficar perto de mim, com medo que seja tuberculose. Gostaria muito que chovesse em São Paulo. Também gostaria muito que essa cidade não fosse tão poluída, que não houvesse trânsito infernal diariamente e que os ônibus não fossem lotados às 6 da manhã. Mas aí já é pedir demais pras forças do Universo. Por enquanto, fico com o pedido de chuva e uma ida ao médico amanhã. Pressinto inalação e eucalipto vibrations.

terça-feira, 11 de setembro de 2007

O eterno retorno de Tieta

O texto é grande, eu sou prolixa mesmo, quem quer texto curto vai ler site de haikai.

A MTV passa um programa sobre adolescente americanas e idiotas (talvez isso seja redundância) onde os teens promovem uma grande festa de "debutante" e a MTV se encarrega de televisionar não só a festa como todo o processo de preparação para a mesma. O programa chama-se "My Sweet 16", mas, na minha conceção, deveriam substituir o "sweet" por "bizarre", "bitter" ou "mean". Porque JEMT DO CÉL: aquilo é um festival de maldades e comportamentos bizarros. Houve umas duas histórias de meninas que mudaram-se de suas cidades e, ao promoverem a festa, queriam não só a presença dos amigos antigos, como esfregar na cara deles, aqueles caipiras pobres, como elas estavam lindas e ricas. Preocupa-me que esses ceresumanos versão teen atinjam a idade adulta - a ONU devia proibir que isso aconteça. Enfim, é um programa que só serve para falar mal depois.

Em 89 uma novela estourou nas paradas de sucesso globais. Era Tieta do Agreste, lua cheia de té-são, voltando para mostrar ao povo de sua cidade natal que ela havia vencido na vida. Ok, ela venceu como cafetina, mas cada um que vença em sua área, eu acho válido. Tieta voltou, trouxe a luz elétrica, reencontrou seu antigo amor Osnar, espezinhou Perpétua e ainda teve um romance com o sobrinho padreco. Tieta era babado e confusão. Eu adoraaava essa novela. Quem não se lembra de Ciniiiira, dos fogos de artifício na primeira noite de amô gostoso de Dona Amorzinho ou de dona Milu falando "mistéééério"? Muitas lembranças... Mas o que fica aqui é Fafá de Belém cantando alguma música que não me lembro qual é e Tieta nas dunas, com uma echarpe esvoaçante, marcando seu regresso com glamour.

Eu fui uma adolescente estranha e feia. Eu era tímida, desajeitada, übber nerd, muito magrinha e com óculos que ocupavam meu rosto todo. Tenho várias histórias dessa época, várias mesmo, e o que era drama naquela época hoje em dia é motivo de riso, por isso mesmo não tenho problema algum em falar assim de mim quando mais nova. Pois bem, aos 16 anos eu conheci uma galerinha do barulho do meu bairro, todo mundo louco pra aprontar altas confusões animadas. E eu, lá, no meio daquelas pessoas, perdida. Eu era aceita, mas não aceeeita, se é que me entendem. E o cerumano é cruel, já disse o Gato essa semana. Pois bem, eu era motivo de chacota, não só pelas minhas costas, mas na minha frente, do meu lado, enfim. Daquela época sobrou uma amiga, com quem falo regularmente. Já tivemos tropeços, mas seguimos amigas. O resto, eu fiz questão de me afastar.

Aí eu cresci, o tempo passou, eu aprendi a pentear os cabelos, a falar com as pessoas, a me vestir com alguma noção. Deixei de ser inadequada para a sociedade. Já tive incontáveis momentos Tieta, com direito a conhecidos dessa época trevas me cumprimentarem sem sacarem que eu sou eu. Já aconteceu de pessoas reagirem num esquema meio "família vendo filha depois do Extreme Makeover", com direito a duas amigas minhas atuais presenciarem a cena e não entenderem nada. Não vou negar, faz um bem danado pro ego. Mas chega uma hora que ok, você cresceu, superou, virou adulta e tem uma aparência apresentável. Não há mais muita novidade em ter momentos Tieta porque, como pessoa normal, você segue a sua vida sem ficar muito presa a esse passado de Carrie, a estranha (aliás, esse era meu apelido, dado pelo menino por quem eu era apaixonada, JÓIA). Não que tudo esteja esquecido: eu acho que sou a Camila de hoje justamente por causa de todas essas histórias ruins. Mas não há como viver presa nisso, numa tentativa de exercer a lei do eterno retorno em algo que pode ficar como uma lembrança esmaecida, que vez ou outra se torna forte, mas só para virar piada ou para mostrar que, enfim, eu sou forte pra caralho.

Hoje essa minha amiga me chamou para tomar umas cervejas com ela. A idéia seria ótima, não fosse o fato de haver mais duas meninas daquela época. Duas que só faltavam me chamar de Batoré. Acho possível estar no mesmo ambiente que elas, as pessoas amadurecem, elas podem ter amadurecido. Mas não há motivos para eu reatar laços com nenhuma das duas - acreditem. Um evento social, ok. Fofoquinhas em mesa de bar, hum, acho que não. Aí tive um momento total "My sweet 16". Pensei em ir nesse bar hoje pra mostrar praquelas biaatches que elas embarangaram levemente e usam roupas cafonas e eu tenho glamour (sem modéstia). Pensei em ir lá e, em conversas, deixar escapar tudo de legal que eu fiz, conquistei, que faço, coisas legais que gosto, lugares bacanas que freqüento; enquanto elas continuam indo aos mesmos lugares de antes. Eu não sou magnânima. Mas aí a pergunta veio: pra quê isso? Se fosse um puta evento legal, eu iria. Teria motivos. Mas ir hoje só pra dar uma de Tieta do mal, putz, não tem sentido, não hoje em dia, não se você não quer viver de superar traumas de adolescência. Porque as minhas conquistas, tudo o que eu vivi e a pessoa que sou hoje não têm ligação alguma com essas meninas. E sério, quem se importa com o que eu sou, além de mim e dos amigos que realmente importam? Que significado isso teria pra elas? Nenhum. Porque ninguém é tão importante assim: nem eu, nem vocês, nem elas, nem o que eu faço hoje em dia. Meus momentos Tieta foram legais porque foram inesperados, porque aconteceram em eventos legais. Isso é ok. Mas ter um momento "My sweet 16" aos 28 anos, só pra alfinetar pessoas de 10 anos atrás? No, no, nooo. Melhor ir assistir um filme.

domingo, 9 de setembro de 2007

Assassinando Aretha - ou - por quê não posso ficar em casa por tanto tempo

Eu amo Aretha Franklin, de verdade. As músicas dela me emocionam, me fazem querer dançar, me fazem feliz. O engraçado é que eu só comecei a ir atrás mesmo de músicas dela depois de ver uma caloura do Raul Gil (podem rir), há uns 10 anos talvez, interpretando "You make me feel (like a natural woman)". Pra vocês verem que Raul Gil pode trazer algo de bom às nossas vidas. Foi amor à primeira ouvida. A letra é linda, linda, linda e se eu tivesse que escolher uma única música para levar pra uma ilha deserta, certamente seria essa. Desde que a ouvi eu digo que é a música que eu gostaria que tocasse no meu casamento, ainda que eu ache que não vá me casar. Porque, gente, ele a faz sentir como uma mulher natural, uma mulher sem máscaras. Com ele, ela se sente ela mesma, ela se sente viva. E ele trouxe alegria de volta à vida dela. Pense: quantas pessoas que passaram pela sua vida tiveram esse efeito? Na minha, digo, sem nem pensar: só um cara.

Mas esse não é o foco. O foco é: eu adoro Aretha. Acho até que a Amy Winehouse, que é simplesmente maravilhosa, tem alguma coisa de Aretha Franklin, inclusive nos arranjos de algumas músicas. Na primeira vez que ouvi Amy pensei: "nossa, é muito Lady Soul, isso". "Lady soul" é um álbum da Aretha de 1968, que tem pérolas como "Ain't no way", "You make me feel (like a natural woman)", e a sensacional "Chain of Fools". Mas assim, Amy tem cacife. Amy tem atitude, tem voz, tem talento. Vindo dela é uma homenagem. Dizem que ela pode ser comparada com Ella Fitzgerald no estilo e coisa e tal, mas eu, com meu parco conhecimento de música, acho que ela está bem mais pra Aretha mesmo. Então, se Amy um dia resolver cantar alguma música de minha musa soul, ok - e aposto que ficará lindo de morrer. Mas hoje, eu no meu quarto, cansada de ficar em casa por conta dessa gripe insuportável, começo a ouvir uma música conhecida. Era "Chain of fools", cantada por alguma gralha. Entro em pânico: "quem está assassinando essa música, pelamor de Nossa Senhora da Motown?"

Vou até a sala, mamãe sintonizada no Faustão. E vejo a assassina, com cabelo chanel lisérrimo e boca arreganhada enquanto gritava "every chain has got a weak link" num Inglês que eu chamaria de sofrível. Uónessa Camargo (saudosa Katy!), em osso, vestidinho da Chamber's e pseudo-atitude de cantora. Uma palavra: desgosto.

É por isso que eu não paro em casa nos finais-de-semana: não temos TV a cabo e minha mãe nem se importa de ver Faustão. Agora eu vou ali, na cafeteria mais próxima, afogar minhas mágoas musicais num mochaccino e rezar para que Wanessa não continue propagando o mal. Aliás, Wanessa, gatha, continue no seu estilo de músicas de amor brega e coreografias ainda piores. Pelo menos era divertido.


Update: nem mochaccino eu consegui tomar. Porque quando eram umas 5, 6 da tarde, a moleza tomou conta de meu corpo e eu não conseguia nem ler, nem pensar, nem andar. Meus olhos ardiam, a tosse de cachorro em fase terminal voltou e eu dormi. Por umas duas horas. E agora quero dormir de novo. G-zuz, manda essa gripe embora.

sábado, 8 de setembro de 2007

Desabafo

Parabéns pra mim. Segunda gripe em dois meses, sendo que essa me pegou de jeito e me deixou prostrada em casa numa sexta e sábado de feriado. E eu estou muito brava por não ter conseguido fazer quase nada - fui à aula de dança, mas o rapaz que resolveu dançar comigo me rodopiava tanto que quase passei mal, sem contar a falta de ar, não por causa do rapaz, que isso seria absolutamente impossível, mas porque dançar cansa. E minha garganta dói, meu corpo está mole e meu peito está dolorido, literalmente falando mesmo. Pensando bem, não tão literalmente assim. O sentido figurado nesse caso também faz sentido. Eu fico tossindo feito cachorro velho, parece que eu engoli sal de tanto que minha boca fica seca e eu estou mal-humorada. Nesse momento, eu poderia estar no Milo. Eu poderia estar acompanhada de uma boa long neck. Mas não, estou em casa, com a minha mãe assistindo algum programa uó de uma menina que canta, mas na verdade grita músicas uó. Eu odeio ficar em casa tanto tempo assim. Detesto meu irmão falando sem parar e contando sobre as conquistas amorosas dele pra minha mãe e atendendo o telefonema de uma menina falando antes "ah, saco, tava demorando". Ainda adolescente e já com hábitos masculinos péssimos. Os remédios me dão enjôo, então não posso tomar quase nada. Ficar na internet, na frente do computador, também me dá enjôo. E não, não é gravidez, né meu povo. Não é mesmo. Um aluno meu me emprestou "Scarface", que eu ainda não vi. Mas eu não estou no clima de nada pesado. Acho que vou assistir "Footloose" pela enésima vez. Pelo menos é algo pra rir.

Resumo do feriado: um saco.

terça-feira, 4 de setembro de 2007

Petizada

Hoje passei quase em frente a uma escola onde fiz dinâmica de grupo (ARGH) e entrevistas para ser professora de Inglês de crianças de 2 a 10 anos. No meio do processo, outra escola me chamou para início imediato e eu escolhi o que era "lucrativo" (insiram mais aspas) e mais garantido. Mas hoje, passando por ali, lembrei-me por quê eu optei por dar aulas para adultos. As escolas geralmente ignoram que os tempos mudaram e musiquinhas infantis não agradam mais crianças de 8, 9 e 10 anos. E ficar cantando coisas sobre Páscoa e Natal, com direito a máscaras de cartolina e apresentação piegas pros pais não é algo que me dê algum tipo de satisfação. Sei lá, minha satisfação está em ver o Sol nascer e os pássaros cantarem, porque a vida é bela e a natureza, generosa (insira aqui uma ironia). Crianças fazem parte da vida bela e da natureza generosa e elas são legais, mas só até a página 15. Se precisar, eu dou aula para kids de novo. Mas, enquanto eu puder escolher, continuo com os adultos. Porque com crianças tem o mico de cantar "the wheels on the bus" enquanto elas te olham com maior cara de "DUH" do mundo. E também tem situações assim:

Época: Páscoa
Situação: ensaio de apresentação pros pais
Idade do garotinho peralta: 10 anos

Aluno: Teachê, this song is ridiiiiiiiculoooooous!
Eu: (concordando mentalmente, mas com cara de "estou fazendo a coisa mais legal do mundo"): Come on, it'll be fun to sing to your parents!
Aluno: Teachê, it'll be BAD. I don't like Easter!
Eu: Really? Why not?
Aluno: Easter is for kids. EU GOSTO É DE MULHER!
Eu: WOW! Agora vai ali colar o dente do coelho, vai.

Eu tive que que me segurar MUITO pra nao gargalhar e dizer "NHÓIM! Quero ter um filho assim!". Adultos falam um monte de bobagens desse tipo, mas com eles eu ao menos posso rir. E, se eu rir, eles não vão comentar com os pais dizendo que a teacher falou que "Coelhinho da Páscoa é brega".

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Breve reflexão útil acerca das recepcionistas

Dar aulas em empresa significa contato direto com as recepcionistas. São elas que estão ali, na entrada da empresa, para receber clientes, representantes, dar um "bom dia, boa tarde, boa noite" acolhedores e anunciar quem quer que tenha chegado. No meu parco entendimento sobre a vida, o universo e tudo mais, quem recepciona deve ser educado e gentil sempre, não importa com quem seja. Trabalhar como recepcionista é um trabalho bem corno exatamente por isso: é mister que você seja simpática, ainda que sua casa tenha explodido e seu marido tenha te abandonado e fugido com a vizinha gostosa de 18 anos. Eu trabalhei como recepcionista de restaurante (hostess é um nome glamouroso demais pro uniforme medonho que eu usava), que é um pouco melhor que recepcionista de empresa porque não há telefone pra atender, mas é igualmente punheta pela obrigatoriedade do sorriso constante e mais punheta ainda porque trabalha-se sábados e domingos. Pois bem, eu odiava meu trabalho com todas as forças que Nossa Senhora do Babado Forte podia me prover. E não conseguia ser simpática 24/7. O que eu fiz? Arrumei outro emprego. Simples assim. Porque cliente algum tem a obrigação de aturar meu temperamento dócil (olá ironia) e meu descontentamento com o que faço.

Infelizmente as pessoas não pensam assim e se acomodam em seus empreguinhos. Os motivos são vários, mas o fato é que se acomodam. Pode ser que haja uma necessidade enorme envolvida nisso, mas aí entramos na "questã": se é o seu sustento, gatzinha, faça direito. Acontece que, por algum motivo, as recepcionistas de duas empresas onde dou aula parecem detestar professoras de Inglês. Devem me achar boba, feia e cara de colher. Ou me escolheram como alvo de suas insatisfações trabalhistas. Depois de meses dando "bom dia" pra uma delas e não ganhar nenhuma resposta, reclamei com meu aluno. Ah, reclamei mesmo, a menina além de não ter educação pra responder a um cumprimento, ainda começou a não me anunciar. Melkoo, né. Coincidentemente, na semana seguinte ela começou a sorrir, cantar e bailar pra mim. Vantagens de dar aula pra um dos gerentes. Ok, ela deve ter feito macumba e despachado meu nome num ebó na encruzilhada, mas ao menos aprendeu a ser gentil.

Na empresa onde estou agora há quatro recepcionistas. Quatro antipáticas que não respondem nem bom dia, nem tudo bem, nem boa tarde, nem tchau. Só que aqui eu não dou aula pra nenhum chefe, só pros consultores peãozada mesmo. Não posso, educadamente, delatar nenhuma delas. Então decidi que qualquer dia, ao invés de "bom dia" vou falar algo chocante e bizarro:

- Minha gata tá no cio e quis dar pro meu bichinho de pelúcia.
- HEIN?
- Arrááá! Você me ouve!

ou

- Você já pensou quantas bactérias há nesse seu fone?
- QUE?
- Arrááá, você não é surda!

ou

- Sabia que você tem cara de cocô verde?
- O QUE?
- Arrááá! BRINKS. Só queria testar sua audição! Funciona direitinho, hein. Agora que tal ser educada e responder ao meu "bom dia" diário?

Entendam: não é que eu fique magoadzinha ou chateadzinha com o fato delas nem olharem na minha cara. Eu mesma detesto olhar pra cara de mulheres em geral. Mas eu fico passada com a falta de educação. Acho de bom tom responder a cumprimentos e isso não quer dizer que eu queira pessoas felizes com pompons cantando "Bom dia amiguinha, como vai, a nossa amizade nunca sai". Pessoas extremamente felizes são chatas. Trata-se apenas daquela boa e velha educação, cada dia mais em falta nesse mundo. Gentileza, sabem? Respeito ao próximo, esses valores tão demodé. Bom, talvez a coisa seja bem mais simples. Vai ver que elas preferem um professor a uma professora. Posso pintar bigode com lápis de olho. Será que resolve?

MSN

Lilla e sua maneira prática de ver as coisas. Eu no maior dilema existencial se devia aceitar um convite para sair ou não. Porque eu estou na fase de complicar essas coisas. Eis que surge Lilla com seu método infalível de argumentação:

- Filha, ele não quer comer seus miolos. Ele só quer sair com você. Olha que sensacional!

É por essa e por muitas outras que eu amo ter amigas com senso prático. Quando o meu falha, eu sempre tenho alguém pra me dar um choque de realidade.

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Conversa com um amigo, girando em torno do bom e velho "o que tem feito da vida?"

Ele: Olha... Melhor perguntar o que não tenho feito.
Eu: Ah, mas é fácil saber o que você não tem feito. Aposto que você não virou travesti, não começou a dar a bunda e não usou drogas pesadas.
Ele: Acertou!

Como eu sou perspicaz, não é mesmo minha gente?