Dar aulas em empresa significa contato direto com as recepcionistas. São elas que estão ali, na entrada da empresa, para receber clientes, representantes, dar um "bom dia, boa tarde, boa noite" acolhedores e anunciar quem quer que tenha chegado. No meu parco entendimento sobre a vida, o universo e tudo mais, quem recepciona deve ser educado e gentil sempre, não importa com quem seja. Trabalhar como recepcionista é um trabalho bem corno exatamente por isso: é mister que você seja simpática, ainda que sua casa tenha explodido e seu marido tenha te abandonado e fugido com a vizinha gostosa de 18 anos. Eu trabalhei como recepcionista de restaurante (hostess é um nome glamouroso demais pro uniforme medonho que eu usava), que é um pouco melhor que recepcionista de empresa porque não há telefone pra atender, mas é igualmente punheta pela obrigatoriedade do sorriso constante e mais punheta ainda porque trabalha-se sábados e domingos. Pois bem, eu odiava meu trabalho com todas as forças que Nossa Senhora do Babado Forte podia me prover. E não conseguia ser simpática 24/7. O que eu fiz? Arrumei outro emprego. Simples assim. Porque cliente algum tem a obrigação de aturar meu temperamento dócil (olá ironia) e meu descontentamento com o que faço.
Infelizmente as pessoas não pensam assim e se acomodam em seus empreguinhos. Os motivos são vários, mas o fato é que se acomodam. Pode ser que haja uma necessidade enorme envolvida nisso, mas aí entramos na "questã": se é o seu sustento, gatzinha, faça direito. Acontece que, por algum motivo, as recepcionistas de duas empresas onde dou aula parecem detestar professoras de Inglês. Devem me achar boba, feia e cara de colher. Ou me escolheram como alvo de suas insatisfações trabalhistas. Depois de meses dando "bom dia" pra uma delas e não ganhar nenhuma resposta, reclamei com meu aluno. Ah, reclamei mesmo, a menina além de não ter educação pra responder a um cumprimento, ainda começou a não me anunciar. Melkoo, né. Coincidentemente, na semana seguinte ela começou a sorrir, cantar e bailar pra mim. Vantagens de dar aula pra um dos gerentes. Ok, ela deve ter feito macumba e despachado meu nome num ebó na encruzilhada, mas ao menos aprendeu a ser gentil.
Na empresa onde estou agora há quatro recepcionistas. Quatro antipáticas que não respondem nem bom dia, nem tudo bem, nem boa tarde, nem tchau. Só que aqui eu não dou aula pra nenhum chefe, só pros consultores peãozada mesmo. Não posso, educadamente, delatar nenhuma delas. Então decidi que qualquer dia, ao invés de "bom dia" vou falar algo chocante e bizarro:
- Minha gata tá no cio e quis dar pro meu bichinho de pelúcia.
- HEIN?
- Arrááá! Você me ouve!
ou
- Você já pensou quantas bactérias há nesse seu fone?
- QUE?
- Arrááá, você não é surda!
ou
- Sabia que você tem cara de cocô verde?
- O QUE?
- Arrááá! BRINKS. Só queria testar sua audição! Funciona direitinho, hein. Agora que tal ser educada e responder ao meu "bom dia" diário?
Entendam: não é que eu fique magoadzinha ou chateadzinha com o fato delas nem olharem na minha cara. Eu mesma detesto olhar pra cara de mulheres em geral. Mas eu fico passada com a falta de educação. Acho de bom tom responder a cumprimentos e isso não quer dizer que eu queira pessoas felizes com pompons cantando "Bom dia amiguinha, como vai, a nossa amizade nunca sai". Pessoas extremamente felizes são chatas. Trata-se apenas daquela boa e velha educação, cada dia mais em falta nesse mundo. Gentileza, sabem? Respeito ao próximo, esses valores tão demodé. Bom, talvez a coisa seja bem mais simples. Vai ver que elas preferem um professor a uma professora. Posso pintar bigode com lápis de olho. Será que resolve?
2 comentários:
pior que não receber bom dia é receber um bom dia de má vontade, um muxoxo quase inaudível. ou um bom dia com uma cara que contradiz todo e qualquer desejo simpático. eu prefiro porteiros, sempre. muito mais legais, não costumam fazer média com ninguém.
recepcionistas usam tailleur da barreds. pronto, fiz meu comentário preconceituosa desgraçada da semana.
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