sábado, 6 de outubro de 2007

Soneto LXVI

Eu não costumo gostar de poesias, salvo raras exceções. Eu acredito que pra escrever poesia tem que ter um talento que poucos têm e eu acho um saco gente que fala que escreve poesias e tudo o que faz é rimar amor com dor. Poetas têm uma capacidade de síntese que eu nunca vou ter e eu admiro demais isso, claro, nos poucos poetas de quem eu li algo. Neruda é um deles. Desde que assisti "O Carteiro e o Poeta" me apaixonei por ele, mas sempre acabo deixando-o de lado em nome de minha paixão pela prosa. E por Gabo. E por Nick Hornby. Hoje, por acaso, encontrei um dos Sonetos de Amor de Neruda que, puxa, diz tanta coisa.

Eu não estou confusa. Eu não estou perdida e nem me sinto perdida. Eu só estou vivendo a minha vida, porque o que não tem remédio, remediado está - já dizia minha avó, sempre muito sabiamente. Mas tem horas em que tudo se aperta aqui dentro. E é bom ler algo que diz o que eu gostaria de dizer - me tira a responsabilidade da autoria, a responsabilidade de externalizar algo tão, tão forte, que tudo o que tenho feito é só me esforçar pra deixar guardado. Pego emprestadas as palavras de Neruda, só por um tempo. Só até daqui a pouco. Só até eu conseguir guardar de novo isso que eu tanto me esforço pra guardar. Porque eu quero viver. Quero seguir em frente. Quero continuar sã. Porque "é a vida, e não tem jeito".



No te quiero sino porque te quiero
y de quererte a no quererte llego
y de esperarte cuando no te espero
pasa mi corazón del frío al fuego.

Te quiero sólo porque a ti te quiero,
te odio sin fin, y odiándote te ruego,
y la medida de mi amor viajero
es no verte y amarte como un ciego.

Tal vez consumirá la luz de Enero,
su rayo cruel, mi corazón entero,
robándome la llave del sosiego.

En esta historia sólo yo me muero
y moriré de amor porque te quiero,
porque te quiero, amor, a sangre y fuego.

Um comentário:

Lorde David disse...

Na época da faculdade, parecia que todo mundo era talhado para a poesia. Todo semestre saía uma revistinha, um zine, um livrinho com a gloriosa produção literária do povinho cult da facú. Era um saco. Mas tinha perólas engraçadas, como uma menina, uma poetisa safadinha que conseguiu a proeza de rimar "ventre" com "entre". Imagina só o que vinha entre uma estrofe e outra, hehehe. Um beijo.