terça-feira, 20 de maio de 2008

Filha, você é a ovelha negra da família

Para mim, um abraço na hora certa vale mais que 1000 palavras.
Para minha família, 1000 palavras valem mais do que um abraço.

E aí dá-lhe aquela coisa toda de "entenda", "aceite", "não julgue", "se coloque no lugar" e "entendo sua dor e você tem razão de estar assim, mas você precisa se erguer". Fácil, né. Então tá, vou me reerguer amanhã, 10 da matina porque antes disso é madrugada. Tá marcado, prepare yourselves to the greates rise ever. Existe toda uma boa intenção e a idéia atávica (sim, na minha família já é algo atávico) de que numa hora de desespero você tem que ouvir "verdades" pra se fortalecer e ficar bem. Difícil, porque as minhas verdades sempre foram muito diferentes das do restante da Família Buscapé. Então que coisa é essa de achar que eu tenho que estar preparada pra ouvir muitas coisas, quando tudo que eu quero é ouvir que eu estou fazendo o que posso e estou tentando o meu máximo pra ficar sã e continuar trabalhando? Eu já não ouvi o suficiente no último mês? Eu entendo que é por amor. Eu entendo que é porque acredita-se que esse seja o "certo". Mas eu só quero colo e companhia. Só isso. Porque nada, nada do que me disserem vai tirar o que estou há mais de um mês sentindo sem parar. Pode ajudar, desde que não venha acompanhado de um ou dois absurdos. Eu só quero me permitir sentir tudo que tenho sentido, inclusive raiva, porque eu acredito que assim umahora vai passar. Porque me jogaram numa bagunça novelesca e me enganaram. Por anos. Não tem como exigir que eu não tenha raiva e me sinta mal. O fato d'eu sempre ter tido o desejo de saber minha história não significa que eu tivesse que aceitar de bom grado toda essa merda sem fim. Querer saber é direito meu, aceitar e aquiescer a cabeça dizendo "tudo bem, vocês fizeram o melhor" quando a SUA vida é que foi prejudicada, quando a SUA adolescência foi infernal, quando VOCÊ teve problemas e mais problemas de relacionamento é uma coisa completamente diferente. Talvez eu atinja, algum dia, o nível de perdão que esperam de mim. Talvez. No momento, com toda a sinceridade que eu não escondo, eu só quero que, alguma vez nessa puta vida, coloquem-se no meu lugar e entendam a minha dor. E também entendam que eu não tenho que ir pedir por ajuda quando está claro que eu preciso dela. E que é difícil bater na porta de alguém chorando porque, sinceramente, eu vou fazer isso toda semana se me deixarem. Eu amo minha família, de coração. E sou grata a eles pelo que sou. Mas tem horas em que ser eu, ali dentro, é bem complicado. Engraçado é que ano passado eu disse que eles subiriam no palco comigo, em alusão ao filme "Pequena Miss Sunshine". Continuo achando que subiriam. Mas é muito mais fácil lidar com a mulher em crise porque teve problemas amorosos do que lidar com algo que envolve parte da família e mexe com mamis, que é a protegida das protegidas. Só me fodo Brasil.

Linda é a minha prima que veio me perguntar se estou "de bad" e, ao receber a resposta afirmativa, me manda: "suas unhas estão feitas? Estão pintadas de vermelho?". Sim, estão, não entendi? Coméquié? Explicação: se minhas unhas estivessem feias, ela viria aqui fazê-las direitinho, porque eu não preciso dizer por que tudo está mal, mas ela nunca permitiria que eu chorasse feia e de unhas mal-feitas. Eu achei lindo. Primeiro, que ela me conhece bem. Segundo, que é impressionante como alguém de 18 anos consegue ser mais carinhosa e fofa que todos os marmanjos acima dos 40. Talvez seja disso que eu precise agora: companhia pra fazer as unhas e falar besteirinhas. É bobo? É. Resolve? Não. Mas o que resolve? Melhor me distrair, né?!

ps: reli o texto e parece que, sei lá, sou adotada. Não, não sou. Antes que alguém me mande email lamentando que eu tenha descoberto só agora, a situação envolve outros fatores.