Sei lá por que raios esses dias eu estava pensando que se eu fosse assaltada provavelmente morreria, já que minha primeira reação é reagir e na minha atual situação "sangue nos olhos quero explodir a humanidade" eu com certeza reagiria em dobro. É nesse momento que entra a pessoa onipotente roteirista da minha vida e escreve mais um capítulo na bizarrice que ele acha que será sucesso de bilheteria mas que, na verdade, parece mais novela mexicana daquelas bem ruins, ainda que isso seja um pleonasmo. Porque não basta colocar no roteiro: mulher de 29 anos descobre quem é o pai depois de, bem, 29 anos. Não basta, a essa história já bastante dramática, adicionar elementos tão absurdos que deixariam Almodóvar e seus transsexuais e pessoas insanas com certa inveja. Também não basta fazer com que essa mulher de 29 anos descubra, um mês depois da revelação, mais coisas a respeito da história que antes já era bizarra. Não, nada disso basta. Não está tão emocionante assim, vamos acrescentar mais drama e dar vida ao que ela pensou outro dia. Aí eu fui assaltada hoje.
E não morri, como vocês podem comprovar através desse post. Acredito que o além ainda não tenha computadores e acesso à internet. Uma pena.
E eu estou aqui, viva para escrever esse texto porque, por um milagre, eu não reagi. Diferentemente da vez de anos atrás em que eu dei uma bolsada num meliante e saí correndo e diferentemente do ano passado em que xinguei até a quinta geração de um tarado que disse que ia chupar meu pé - e ganhei um tarado que disse que ia chupar meu pé me seguindo até a porta de casa e me mostrando seu er, membro ereto; eu não reagi. Na verdade fiquei tão calma que mais um pouco e viraria truta do assaltante. Não sei se aquilo foi calma, cinismo, falta de noção ou um enorme "foda-se tudo", mas uma parte do assalto deu-se dessa maneira:
Depois de me fazer sentar na guia, me mandar parar de tremer e me ameaçar, eu consegui respirar fundo e me acalmar. Dei todo o meu dinheiro para ele (e eu tinha acabado de sacar uma quantia razoável) e comecei a falar:
Eu: Moço, não leva meus documentos, por favor.
Ele: Vou levar não dona. Me mostra a bolsa, mostra tudo que tem aí.
*escancaro a bolsa*
Ele: O que é isso aí?
Eu: Maquiagem.
Ele: Não fala, dona, mostra. Abre esse troço aí.
*mostro as maquiagens, rezando para no fundo ele ser uma bicha louca que ia querer meu batom e devolver meu dinheiro, rá*
Ele: Mostra aquela outra bolsa.
*mostro*
Eu: É remédio.
Ele: Ah, você toma remédio, é?
Eu: Quando tenho dor, sim.
Ele: Ah...
Bom, aí o assalto ficou bizarro porque mais um pouco o cara ia me add no orkut.
Ele: O que tem na sacolinha?
Eu: Notas fiscais.
Ele: Pra quê?
Eu: Pra comprovar gastos pra empresa.
Ele: Ah, você trabalha, né, tem que mostrar. Mas fica quieta aí, eu tô armado.
Eu: Tá.
Ele: No saquinho, o que tem?
Eu: Amendoim. Quer? Pode levar.
PAUSA: que pessoa oferece amendoim prum assaltante. Poi zé. Eu. :-(
Ele: Seu celular vou levar, já era. Senão você liga pra polícia.
Eu: Moço, esse aparelho é novo mas custou 90 reais. É vagabundo.
Ele: É? Não vale?
Eu: Não. Mas se o senhor levar, pode me dar meu chip?
Ele: O chip?
Eu: É, eu tenho muitos telefones de trabalho, pode me dar o chip?
Ele: Tá bom, abre aí e pega.
Eu: Não consigo.
Ele: Deixa eu abrir.
*abre e me dá o chip*
Ele: Agora fica aí e espera eu pegar o ônibus. Fica aí sentadinha, quieta que nada vai te acontecer.
Eu: Tá.
Aí ele pegou o ônibus e eu tive uma crise de choro no meio da rua.
Agora, contando a história, fica claro que o cara não estava armado coisa nenhuma. Eu consegui me manter calma, mas eu sou 8 ou 80. Ou reajo e dou bolsada ou ofereço amendoim e pego meu chip de volta.
Estou TÃO cansada...
8 comentários:
sinto muito, sinto muito.
uma vez eu fui assaltada e tb conversei e pedi pra ele levar só o dinheiro. ele levou só o dinheiro mesmo.
e só depois da crise de choro em público eu me toquei que ele nem devia estar armado.
Você não imagina o tanto de compaixão e solidariedade que estou sentindo por ti. Sei que as coisas não têm sido fáceis e que um assalto a essa altura do campeonato é só mais um peido. Mas confesso: não conseguir evitar um risinho lendo e imaginando a cena com o meliante, porque eu achei muito digno de filme do Almodovar mesmo e, de alguma maneira que não sei explicar, penso que isso é muito glamuroso. Tá, não a parte de perder o dinheiro, isso realmente não tem nenhuma graça.
Força teacher! Dias melhores virão.
Bem, nem sei como se fazpra consolar vitimas de assalto, acho que so' desejando boa sorte mesmo... Todas as vezes em que eu fui assaltada eu tava sem um tostao, numa delas tive que dar os meus cartoes pro maluco como prova de boa fe'. E' foda, mas nessas horas e' melhor voce ter dinheiro pra ser levado do que um assaltante puto achando que voce ta' querendo enganar ele.
(eu ia te mandar um e-mail contando tudo sobre maquiagem mineral com fotos dela na pele e tal, mas não sei seu e-mail.
nessas horas acho que coisas bobas ajudam a gente a se distrair...)
Ai, menine... nem te falo nada não. Sei bem a merda que é. Mas ó, sério mesmo, essas fases de merda sempre precedem coisas boas (por increça que parível).
Devo ir pra Sampa no próximo fim de semana, quero te ver, viu?
Beijo, minha frô.
ai q dó de vc chuchu...
eu sou só 80..não tem 8 não. Eu sempre saio correndo q nem uma louca e uma vez o cara tava armado mesmo..se tava carregada ou não..aí eu não posso afirmar pq eu não fiquei pra ver!
bjs chuchu
Putz, Cami, que merda! :-(
Eu fui assaltado umas vezes quando era adolescente e nunca reagi a nada. Mas é muito mais fácil pra um homem ficar quieto, sem muito perigo além do assalto em si. Agora mulher é complicado porque nunca se sabe quando o cara quer *só* assaltar. É foda isso!
Mas realmente rolou um Almodovar nessa história. Uma digressão total no meio do assalto...
Te cuida, tá? Eu sei que vc tá lotada de amigos pra te dar um help mais próximo (físico) ;-)
xO
Pôlo.
mesmo depois que do susto já ter passado e o ladrão já ter gasto todo o seu rico "dinheirinho"....fica feio se eu disser que ri com o jeito que vc contou como aconteceu o assalto?
Força, nega!
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