domingo, 23 de setembro de 2007

Cheek to cheek

Eu comecei a fazer aulas de dança de salão aos sábados. Não só porque eu amo dançar (quantidade de vezes em que essa frase foi escrita nesse blog: 736.438), mas também porque a dança funciona para mim como terapia. Como eu sou meio descrente de terapeutas e psicólogos em geral, preferi me entregar a algo em que realmente acredito: nada como fazer coisas prazeirosas para si mesmo para se sentir bem. Simples, não?

Já sei os passos básicos de forró, merengue e samba de gafieira. Por passos básicos entendam que eu sei apenas andar pra frente e pra trás, pra um lado e pro outro, no ritmo da música e fazendo algumas trocas de pé, isso juntamente com um parceiro. Não é nada. Na semana passada em que fiz um curso ultra-rápido de samba rock, e que tivemos que aprender o básico e os giros todos em 3 horas, aí sim eu senti que estava dançando. Mas, por enquanto, nas aulas de dança de salão, eu só sinto que sei andar no ritmo das músicas.

Músicas lindas, viu minha gente. Outro dia era "Let it be" em espanhol e em ritmo de merengue. Não perguntem, até agora eu não compreendi. Já teve, obviamente, muito Fala Mansa, para meu desespero. Teve também Alceu Valença, Luiz Gonzaga, Beth Carvalho, e eu gosto deles, mesmo. Melhor mesmo foi ontem, que tocou Katinguelê. Um clássico do pagode brega dos anos 90, ou seja, eu sabia a música inteira e cantei todinha enquanto tentava marcar os passos com um dos meus parceiros de dança.

Cada aula dançamos com no mínimo dois parceiros diferentes, numa promiscuidade dançante sem igual. É legal ver a democracia fazendo escola: gordinhos, magrinhos, bombados, senhores de idade, gente com ritmo, gente sem ritmo, pessoas desajeitadas, pessoas que conseguem seguir as aulas. É uma diversidade que deixaria a ONU feliz. E, nesse troca-troca de cavalheiros, há dois sábados eu danço com o cheek-to-cheek.

Cheek-to-cheek já comprou sapatos específicos para dança, o que mostra que ele está a fim de levar a sério. Mas eu ão precisaria olhar pros sapatos pra saber que ele está a fim de levar a sério. Nosso amigo CTC (só pros íntimos, bees) é o estereótipo do geek de filme americano que quer desabrochar na vida - quase uma mariposa. E, vocês sabem, geeks costumam levar as coisas a sério. Eu sou uma e sei disso. Ele usa óculos fundo-de-garrafa e é só um pouco mais alto que eu, o que significa que toda vez que CTC me olha, eu vejo seus olhos maiores do que são. E CTC é bacana, é esforçado e eu acharia legal dançar mais com CTC não fossem dois detalhes: primeiro que ele quer dançar merengue de rostinho colado. Gato, não rola. Merengue é pra rebolar e querer ser o Ricky Martin, pra se imaginar dançando com maracas e camisa de cetim aberto, bem sensual (cof cof cof). Não há meios de fazer um cheek to cheek ternurinha dançando merengue. Pois bem, a distância de minha bochecha e da dele, distância imposta silenciosamente por mim, o fizeram desistir da idéia. E é aí que entra o segundo detalhe, detalhe esse que realmente me incomoda: ele quer dançar tudo, absolutamente tudo, olhando bem fundo nos olhos. E aí eu vejo os olhos arregalados pelas lentes e fico me achando um ser humano horrível, desses que eu chamo de cerumano mesmo, por achar ruim esse clima "olhos nos olhos, quero ver o que você diz". Mas assim: jemt, eu não estou lá para fazer amigos e influenciar pessoas, muito menos pra entrar num esquema dança sensual com um cara que não me atrai em absolutamente nada. Eu só quero dançar sem errar muito. Olha que desejo mais prosaico.

Agora, toda vez que CTC me tira pra dançar, eu começo a ficar nervosa porque sei que ele vai ficar me olhando, e aí eu danço olhando por chão e pros meus pés, ou então pro espelho. Aí o professor fala pra gente ter postura e erguer a cabeça, no que eu obedeço, para então dar de cara com aqueles olhos arregalados para mim. Aí ele tenta puxar papo, e aí desconcentra dos passos, ele erra e eu erro, conseqüentemente, já que na dança de salão é o homem quem conduz tudo. E eu fico rezando pro professor fazer a troca de pares, mas geralmente ele deixa a gente dançando mais umas 3 músicas, e eu me sinto mal porque não quero conversar e nem olhar nos olhos e nem fazer cheek to cheek com o Cheek-to-Cheek; mas eu sei que ele só está se esforçando também. Talvez ele tenha objetivos mais sociais que os meus, mas ele também quer dançar direito e aprender, assim como eu.

Ai, que difícil.

3 comentários:

Juliana Eliezer (Joo) disse...

Pode se inspirar quantas vezes quiser. Espero que eu não faça feio no conteúdo, assim como você não faz. Obrigada pelo seu carinho, ChuChu, sempre!

Anônimo disse...

Já assistiu Hairspray, o filme, um musical anos 60 cheio de dancinhas bacaninhas? É muito legal! Me deu vontade de ter aulas de dança, hehehe. Um beijo.

Lorde David disse...

Ah, e no blogue, no post de Hairspray, dediquei o link do vídeo de música e dança a você. Acho que você vai gostar da dança. Passa lá.