terça-feira, 11 de setembro de 2007

O eterno retorno de Tieta

O texto é grande, eu sou prolixa mesmo, quem quer texto curto vai ler site de haikai.

A MTV passa um programa sobre adolescente americanas e idiotas (talvez isso seja redundância) onde os teens promovem uma grande festa de "debutante" e a MTV se encarrega de televisionar não só a festa como todo o processo de preparação para a mesma. O programa chama-se "My Sweet 16", mas, na minha conceção, deveriam substituir o "sweet" por "bizarre", "bitter" ou "mean". Porque JEMT DO CÉL: aquilo é um festival de maldades e comportamentos bizarros. Houve umas duas histórias de meninas que mudaram-se de suas cidades e, ao promoverem a festa, queriam não só a presença dos amigos antigos, como esfregar na cara deles, aqueles caipiras pobres, como elas estavam lindas e ricas. Preocupa-me que esses ceresumanos versão teen atinjam a idade adulta - a ONU devia proibir que isso aconteça. Enfim, é um programa que só serve para falar mal depois.

Em 89 uma novela estourou nas paradas de sucesso globais. Era Tieta do Agreste, lua cheia de té-são, voltando para mostrar ao povo de sua cidade natal que ela havia vencido na vida. Ok, ela venceu como cafetina, mas cada um que vença em sua área, eu acho válido. Tieta voltou, trouxe a luz elétrica, reencontrou seu antigo amor Osnar, espezinhou Perpétua e ainda teve um romance com o sobrinho padreco. Tieta era babado e confusão. Eu adoraaava essa novela. Quem não se lembra de Ciniiiira, dos fogos de artifício na primeira noite de amô gostoso de Dona Amorzinho ou de dona Milu falando "mistéééério"? Muitas lembranças... Mas o que fica aqui é Fafá de Belém cantando alguma música que não me lembro qual é e Tieta nas dunas, com uma echarpe esvoaçante, marcando seu regresso com glamour.

Eu fui uma adolescente estranha e feia. Eu era tímida, desajeitada, übber nerd, muito magrinha e com óculos que ocupavam meu rosto todo. Tenho várias histórias dessa época, várias mesmo, e o que era drama naquela época hoje em dia é motivo de riso, por isso mesmo não tenho problema algum em falar assim de mim quando mais nova. Pois bem, aos 16 anos eu conheci uma galerinha do barulho do meu bairro, todo mundo louco pra aprontar altas confusões animadas. E eu, lá, no meio daquelas pessoas, perdida. Eu era aceita, mas não aceeeita, se é que me entendem. E o cerumano é cruel, já disse o Gato essa semana. Pois bem, eu era motivo de chacota, não só pelas minhas costas, mas na minha frente, do meu lado, enfim. Daquela época sobrou uma amiga, com quem falo regularmente. Já tivemos tropeços, mas seguimos amigas. O resto, eu fiz questão de me afastar.

Aí eu cresci, o tempo passou, eu aprendi a pentear os cabelos, a falar com as pessoas, a me vestir com alguma noção. Deixei de ser inadequada para a sociedade. Já tive incontáveis momentos Tieta, com direito a conhecidos dessa época trevas me cumprimentarem sem sacarem que eu sou eu. Já aconteceu de pessoas reagirem num esquema meio "família vendo filha depois do Extreme Makeover", com direito a duas amigas minhas atuais presenciarem a cena e não entenderem nada. Não vou negar, faz um bem danado pro ego. Mas chega uma hora que ok, você cresceu, superou, virou adulta e tem uma aparência apresentável. Não há mais muita novidade em ter momentos Tieta porque, como pessoa normal, você segue a sua vida sem ficar muito presa a esse passado de Carrie, a estranha (aliás, esse era meu apelido, dado pelo menino por quem eu era apaixonada, JÓIA). Não que tudo esteja esquecido: eu acho que sou a Camila de hoje justamente por causa de todas essas histórias ruins. Mas não há como viver presa nisso, numa tentativa de exercer a lei do eterno retorno em algo que pode ficar como uma lembrança esmaecida, que vez ou outra se torna forte, mas só para virar piada ou para mostrar que, enfim, eu sou forte pra caralho.

Hoje essa minha amiga me chamou para tomar umas cervejas com ela. A idéia seria ótima, não fosse o fato de haver mais duas meninas daquela época. Duas que só faltavam me chamar de Batoré. Acho possível estar no mesmo ambiente que elas, as pessoas amadurecem, elas podem ter amadurecido. Mas não há motivos para eu reatar laços com nenhuma das duas - acreditem. Um evento social, ok. Fofoquinhas em mesa de bar, hum, acho que não. Aí tive um momento total "My sweet 16". Pensei em ir nesse bar hoje pra mostrar praquelas biaatches que elas embarangaram levemente e usam roupas cafonas e eu tenho glamour (sem modéstia). Pensei em ir lá e, em conversas, deixar escapar tudo de legal que eu fiz, conquistei, que faço, coisas legais que gosto, lugares bacanas que freqüento; enquanto elas continuam indo aos mesmos lugares de antes. Eu não sou magnânima. Mas aí a pergunta veio: pra quê isso? Se fosse um puta evento legal, eu iria. Teria motivos. Mas ir hoje só pra dar uma de Tieta do mal, putz, não tem sentido, não hoje em dia, não se você não quer viver de superar traumas de adolescência. Porque as minhas conquistas, tudo o que eu vivi e a pessoa que sou hoje não têm ligação alguma com essas meninas. E sério, quem se importa com o que eu sou, além de mim e dos amigos que realmente importam? Que significado isso teria pra elas? Nenhum. Porque ninguém é tão importante assim: nem eu, nem vocês, nem elas, nem o que eu faço hoje em dia. Meus momentos Tieta foram legais porque foram inesperados, porque aconteceram em eventos legais. Isso é ok. Mas ter um momento "My sweet 16" aos 28 anos, só pra alfinetar pessoas de 10 anos atrás? No, no, nooo. Melhor ir assistir um filme.

8 comentários:

Anônimo disse...

Bom, vc sabe que eu passei pela meeeesma coisa. E eu tenho espasmos quando vejo que as pessoas que aterrorizaram minha adolescência viraram creiças. Dá vontade de gargalhar na cara. Pode não ser o certo, mas a real é que eu quero que essas pessoas vão todas se foder no inferno. O que elas acrescentam na minha vida? Encontrinho? Por favor, tenho gente mais interessante pra encontrar, né? Não é rancor, nem essas paradas, de verdade. Já passou e é isso. A questão é que, pra mim, a existência delas não faz diferença. Com amor, Lilla.

Radagast disse...

A vida é demasiado curta para perdemos tempo com quem não interessa.

Juliana Eliezer (Joo) disse...

Sou altas suas fã, Chu. Mas isso vc já sabia, neam?

Anônimo disse...

Acho inevitável a gente ficar preso a esse passado. Justamente porque a pessoa que a gente é hoje é totalmente relacionada àquilo. E eu não vi muitas novelas na vida não, mas Tieta eu confesso que acompanhei de forma religiosa!

Alê Marucci disse...

Frô, você se superou nesse texto. Achei que iam ser vários temas, já que você começou com um programa da MTV, depois com uma novela... Mas não é que depois você amarrou tudo e virou um puta texto?
É muito inteligenti essa minha amiga, viu!
Beijo.

Anônimo disse...

Gata, a musica da Fafá de Belem era Coração do Agreste. :P

Jemt, me pergunta o que eu comi ontem que eu não lembro, mas de tosqueira eu lembro tuda. kkkkkkkkkk

Anônimo disse...

Ai Chu, eu acho o máximo momentos "My Sweet 16" nessas condições todas que você falou. Mas sinceramente, eles são bom se por acaso, de modo que sua escolha foi a mais acertada, afinal.

Patricia Scarpin disse...

Menina, eu AMEI o teu post. Amei.
E me identifiquei muito. E ri. E lembrei de quando via Tieta (até visualizei a Cinira tremendo). ;)

Estou adorando o teu blog.